São Paulo, sexta-feira, 08 de julho de 2005

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TERROR EM LONDRES

ATENTADOS MATAM 37 EM LONDRES

Governo vê a "marca da Al Qaeda" em ataques no metrô e contra ônibus; grupo desconhecido assume

David Parry/Efe
Ferido na estação King's Cross é levado a ambulância; à esq., carta em que o grupo Jihad na Europa assume autoria do atentado


ÉRICA FRAGA
ENVIADA ESPECIAL A GLENEAGLES (ESCÓCIA)

ROGERIO WASSERMANN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE LONDRES

Quatro atentados a bomba em trens do metrô e contra um ônibus na área central de Londres mataram ao menos 37 pessoas e deixaram cerca de 700 feridos ontem, no maior ataque sofrido por Londres desde a Segunda Guerra.
Segundo o premiê britânico, Tony Blair, terroristas islâmicos orquestraram os ataques, que ocorreram entre 8h51 e 9h47, quando os meios de transporte da capital britânica estavam lotados.
Para o chanceler britânico, Jack Straw, os ataques tiveram a "marca da Al Qaeda" -foram simultâneos, muito semelhantes à ação contra os trens de Madri em 11 de março de 2004, que deixaram 191 mortos. Além disso, não houve aviso prévio.
A ação coincidiu com o segundo dia da cúpula do G8 (que reúne sete países desenvolvidos mais a Rússia), no hotel de Gleneagles, na Escócia. Blair, que ocupa a presidência do grupo neste ano, deixou o local do encontro no início da tarde em direção a Londres.
Antes de sair, porém, disse que os ataques não conseguiriam atingir seu objetivo. "Os responsáveis pelos ataques de hoje não terão sucesso", afirmou.
Após chegar à capital britânica, o premiê sugeriu que os atentados tenham sido obra de grupos islâmicos. "Sabemos que essas pessoas agem em nome do islã, mas nós também sabemos que a grande e esmagadora maioria dos muçulmanos aqui e no exterior são pessoas decentes, que seguem a lei e que abominam aqueles que fazem isso tanto quanto nós."
Há 1,8 milhão de muçulmanos no Reino Unido (3% da população). Líderes comunitários manifestaram repúdio aos ataques e expressaram preocupação com possíveis represálias.
Uma organização supostamente ligada à rede Al Qaeda, o Grupo Secreto da Jihad da Al Qaeda na Europa, reivindicou os ataques em sua página na internet. Mas, até a noite de ontem, a polícia não tinha certeza sobre a veracidade desse comunicado. Também não foi confirmado se houve participação de terroristas suicidas em um ou mais ataques.

Ataques esperados
Embora tenha ficado assustada, a população de Londres não reagiu com surpresa. A expectativa de que um atentado terrorista pudesse ocorrer era um fantasma que rondava a capital britânica desde os ataques de 11 de setembro de 2001 nos EUA e foi acentuada depois das invasões do Afeganistão e do Iraque. Em ambas as ações, Blair atuou como maior aliado do governo americano.
Além disso, houve os atentados de 11 março de 2004 em Madri. O premiê espanhol na época, José María Aznar, era aliado dos EUA.
O cenário dos atentados era de perplexidade. Imagens de TV mostravam passageiros saindo das estações atingidas cobertos de fuligem. Muitos feridos recebiam os primeiros socorros ainda nas estações. Hotéis próximos foram transformados em prontos-socorros e necrotérios.
Em toda a cidade, viam-se pessoas andando com celulares nas mãos, para tranqüilizar amigos e parentes. O trânsito foi interrompido em várias partes do centro, e sirenes eram onipresentes.
Após as explosões, todo o sistema de metrô foi paralisado, assim como as linhas de ônibus que circulam pela área central da cidade, deixando centenas de milhares de pessoas sem transporte.
Os ônibus somente voltaram a circular, parcialmente, a partir das 15h30. O metrô permaneceu fechado e deve reabrir somente hoje, ainda assim com restrições.

Seqüência de ataques
Segundo a polícia metropolitana, a primeira explosão ocorreu às 8h51, num trem que estava em um túnel a cerca de cem metros da estação de Liverpool Street. Sete pessoas morreram no local.
Cinco minutos depois, outra explosão, desta vez num trem que se dirigia entre as estações de King's Cross e Russell Square, deixou ao menos 21 mortos.
Muitas pessoas ficaram presas por mais de uma hora entre os escombros no local.
A terceira explosão ocorreu às 9h15, num trem na estação de Edgware Road, matando ao menos sete pessoas.
A última bomba explodiu às 9h47, em um ônibus em Tavistock Place. Provocou a destruição total do segundo andar do ônibus, transformado em uma pilha de metal retorcido.
Pedaços de metal e sangue ficaram impregnados na fachada da Associação Médica Britânica, em frente ao local. A polícia confirmou ao menos duas mortes no ônibus.
"Eu estava numa rua próxima [a Tavistock Place] e, de repente, ouvi uma explosão. Foi um barulho muito forte, parecia coisa de filme. Eu nunca tinha ouvido coisa igual. Fiquei curioso e fui ver o que era. Vi pessoas correndo, chorando, gente com o rosto sangrando. Tinha um corpo estraçalhado no chão", narrou à Folha o brasileiro Gleiber Pereira dos Santos, que trabalha em uma pastelaria e vive com a mulher e as duas filhas em Londres.
Santos afirmou temer que novos atentados ocorram e disse que isso o fez pensar, inclusive, em antecipar seus planos de volta para o Brasil com a família.
O prefeito londrino, Ken Livingstone, que estava em Cingapura, onde havia participado anteontem da cerimônia que escolheu Londres como sede da Olimpíada de 2012, disse que os atentados não foram direcionados aos líderes políticos do G8, reunidos na Escócia, mas às pessoas das mais diversas origens que vivem em Londres.
"Eles tentam jogar londrinos uns contra os outros, mas os londrinos não serão divididos por este ataque covarde. Quero falar a vocês diretamente, àqueles que vêm a Londres para tirar vidas, que nada do que façam ou quantos de nós vocês matem vai interromper esse fluxo para nossas cidades, onde a liberdade é forte e onde as pessoas podem viver em harmonia umas com as outras", disse Livingstone.

Leia mais sobre os ataques em Londres na http://www.folha.com.br/051881

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