São Paulo, domingo, 08 de julho de 2007

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Senador, recebido como astro do rock, devolve: "I love you too, baby"

DO ENVIADO À FILADÉLFIA

Como cães pavlovianos, os espectadores do salão A do Centro de Convenções da Pensilvânia já sabem quem vem aí: o convidado ilustre do dia. É que as duas bandeirolas da organização a que pertencem, a Associação Nacional de Educação, acabam de ser levantadas no palco.
Foi assim há três dias, quando Hillary Clinton falou, para uma recepção morna. E ontem, quando o ator Richard Dreyfuss pregou aos convertidos, ao defender diante da platéia de dezenas de professores e alunos da rede pública as maravilhas da educação paga pelo governo. Mas hoje, quinta-feira 5 de julho, é diferente. Quem vai subir ao pódium é "ele". "Ele", simplesmente, é como o chamam aqui.
Ou o "rockstar", como brincaria seu concorrente, Mike Huckabee, ex-governador de Massachusetts, que o sucede no palco à tarde. "Quando eu era estudante quis aprender a tocar guitarra", começou o pré-candidato republicano. "Meu objetivo era ser um rockstar, como Barack Obama." A platéia ri, cúmplice. Meia hora antes, tratara o senador exatamente como uma estrela de rock.
Primeiro, pelos gritos femininos de "O-ba-ma! O-ba-ma!". São as chamadas "Obama girls", as garotas do Obama, mulheres de todas as idades que pretendem votar no senador de 1m85 mais por seus atributos físicos -ele sabe, e aproveita. Afinal, que outro candidato exibiria o torso nu em foto na revista "People"? Rudolph Giuliani? Depois, pelo olhar admirado dos homens, que querem apenas tocar em sua mão ou ser fotografados com ele.
"Obama tem uma qualidade de estrela que poucos outros têm", diz Reg Weaver, veterano presidente da associação que organiza o evento, com 3,2 milhões de membros, a maior do país. É o candidato dele? "A associação não decidiu ainda a quem vai apoiar", tergiversa.
Os músicos começam a tocar uma versão de elevador de "Freedom", de George Michael, as luzes se apagam, os seis agentes do Serviço Secreto se botam a postos -Obama é o único pré-candidato a contar com a proteção, por causa das ameaças que anda recebendo; Hillary tem também, mas por sua condição de ex-primeira-dama, não de presidenciável.
Então, "ele" entra, tocando as mãos das pessoas espremidas contra os cavaletes metálicos como num show de rock. Terno escuro, camisa branca, gravata furta-cor, orelhas de abano, Barack Obama começa a falar, meio rapper, meio pastor, meio professor de cursinho, com sua voz algo metálica, franzindo a testa nos momentos de ênfase, como quando diz que a vida de professor é feita de "sangue, suor e lágrimas".
O senador vem de passar o feriado da Independência em Iowa e continuará sua peregrinação no festival de música negra Essence, que acontecerá nesta noite em Nova Orleans. Iowa é parada obrigatória dos candidatos. No esquema eleitoral norte-americano, é onde são realizadas as primárias iniciais, em janeiro de 2008, que começam a definir os candidatos finais dos dois partidos.
"Eu amo Iowa!", Obama diz várias vezes durante seu discurso de hoje, sempre brincando. "Eu já disse a vocês que amo Iowa?", repete. "Iowa!" A delegação do Estado presente ao evento de hoje o ama também, é o que responde Linda Nelson, uma professora de 1º grau de Cedar Rapids, que luta para chegar até a beira do palco. "Mas minha amiga Vicki Westerly o ama mais", diz ela, apontando para a mulher a seu lado.
São duas professoras cinqüentonas, casadas, faces coradas. São duas Obama Girls. Com conteúdo, porém. "Nós precisamos negociar, precisamos fazer parte dessa conversa, e isso é exatamente o que o senador Obama acaba de dizer", recompõe-se Linda, ao ouvir a proposta que acaba de ser defendida no palco pelo político, de dar aumentos aos professores de acordo com o desempenho deles.
Meia hora depois, o "show" começa a acabar. "Temos de mandar Washington de volta à escola!", grita Obama. Ele não lê seus discursos, mas abusa das frases de efeito. É interrompido por aplausos de pé, como no discurso que o lançou ao país, na Convenção do Partido Democrata de 2004. Entra a música de saída, "Ain't No Mountain High Enough", que Marvin Gaye levou ao topo das paradas em 1967.
Ele se despede, não sem antes assinar autógrafos para pessoas que trouxeram uma de suas duas autobiografias para a convenção. "Para quem eu dedico?", pergunta, automaticamente. Alguém grita: "Te amo!". Ele responde, sem desviar o olhar do livro: "Love you too, baby". E sai. (SÉRGIO DÁVILA)


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