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Senador, recebido como astro do rock, devolve: "I love you too, baby"
DO ENVIADO À FILADÉLFIA
Como cães pavlovianos, os
espectadores do salão A do
Centro de Convenções da Pensilvânia já sabem quem vem aí:
o convidado ilustre do dia. É
que as duas bandeirolas da organização a que pertencem, a
Associação Nacional de Educação, acabam de ser levantadas
no palco.
Foi assim há três dias, quando Hillary Clinton falou, para
uma recepção morna. E ontem,
quando o ator Richard Dreyfuss pregou aos convertidos, ao
defender diante da platéia de
dezenas de professores e alunos da rede pública as maravilhas da educação paga pelo governo. Mas hoje, quinta-feira 5
de julho, é diferente. Quem vai
subir ao pódium é "ele". "Ele",
simplesmente, é como o chamam aqui.
Ou o "rockstar", como brincaria seu concorrente, Mike
Huckabee, ex-governador de
Massachusetts, que o sucede
no palco à tarde. "Quando eu
era estudante quis aprender a
tocar guitarra", começou o pré-candidato republicano. "Meu
objetivo era ser um rockstar,
como Barack Obama." A platéia
ri, cúmplice. Meia hora antes,
tratara o senador exatamente
como uma estrela de rock.
Primeiro, pelos gritos femininos de "O-ba-ma! O-ba-ma!".
São as chamadas "Obama
girls", as garotas do Obama,
mulheres de todas as idades
que pretendem votar no senador de 1m85 mais por seus atributos físicos -ele sabe, e aproveita. Afinal, que outro candidato exibiria o torso nu em foto
na revista "People"? Rudolph
Giuliani? Depois, pelo olhar admirado dos homens, que querem apenas tocar em sua mão
ou ser fotografados com ele.
"Obama tem uma qualidade
de estrela que poucos outros
têm", diz Reg Weaver, veterano
presidente da associação que
organiza o evento, com 3,2 milhões de membros, a maior do
país. É o candidato dele? "A associação não decidiu ainda a
quem vai apoiar", tergiversa.
Os músicos começam a tocar
uma versão de elevador de
"Freedom", de George Michael,
as luzes se apagam, os seis
agentes do Serviço Secreto se
botam a postos -Obama é o
único pré-candidato a contar
com a proteção, por causa das
ameaças que anda recebendo;
Hillary tem também, mas por
sua condição de ex-primeira-dama, não de presidenciável.
Então, "ele" entra, tocando
as mãos das pessoas espremidas contra os cavaletes metálicos como num show de rock.
Terno escuro, camisa branca,
gravata furta-cor, orelhas de
abano, Barack Obama começa a
falar, meio rapper, meio pastor,
meio professor de cursinho,
com sua voz algo metálica,
franzindo a testa nos momentos de ênfase, como quando diz
que a vida de professor é feita
de "sangue, suor e lágrimas".
O senador vem de passar o feriado da Independência em Iowa e continuará sua peregrinação no festival de música negra
Essence, que acontecerá nesta
noite em Nova Orleans. Iowa é
parada obrigatória dos candidatos. No esquema eleitoral
norte-americano, é onde são
realizadas as primárias iniciais,
em janeiro de 2008, que começam a definir os candidatos finais dos dois partidos.
"Eu amo Iowa!", Obama diz
várias vezes durante seu discurso de hoje, sempre brincando. "Eu já disse a vocês que amo
Iowa?", repete. "Iowa!" A delegação do Estado presente ao
evento de hoje o ama também,
é o que responde Linda Nelson,
uma professora de 1º grau de
Cedar Rapids, que luta para
chegar até a beira do palco.
"Mas minha amiga Vicki Westerly o ama mais", diz ela, apontando para a mulher a seu lado.
São duas professoras cinqüentonas, casadas, faces coradas. São duas Obama Girls.
Com conteúdo, porém. "Nós
precisamos negociar, precisamos fazer parte dessa conversa,
e isso é exatamente o que o senador Obama acaba de dizer",
recompõe-se Linda, ao ouvir a
proposta que acaba de ser defendida no palco pelo político,
de dar aumentos aos professores de acordo com o desempenho deles.
Meia hora depois, o "show"
começa a acabar. "Temos de
mandar Washington de volta à
escola!", grita Obama. Ele não
lê seus discursos, mas abusa
das frases de efeito. É interrompido por aplausos de pé, como no discurso que o lançou ao
país, na Convenção do Partido
Democrata de 2004. Entra a
música de saída, "Ain't No
Mountain High Enough", que
Marvin Gaye levou ao topo das
paradas em 1967.
Ele se despede, não sem antes assinar autógrafos para pessoas que trouxeram uma de
suas duas autobiografias para a
convenção. "Para quem eu dedico?", pergunta, automaticamente. Alguém grita: "Te
amo!". Ele responde, sem desviar o olhar do livro: "Love you
too, baby". E sai.
(SÉRGIO DÁVILA)
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