São Paulo, quinta-feira, 08 de julho de 2010

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Cuba diz que vai soltar 5 presos políticos

Outros 47 devem ser soltos em até 4 meses; mediação foi feita pela igreja e pelo chanceler espanhol Moratinos

Dissidentes e ativistas veem anúncio com cautela e pedem a liberação de todos os 167 detidos no país

Enrique De La Osa/Reuters
Em Havana, o chanceler Miguel Moratinos cumprimenta o cardeal Jaime Ortega; governo espanhol e Igreja Católica foram parceiros em negociações

FLÁVIA MARREIRO
DE CARACAS

Cuba vai liberar cinco prisioneiros políticos a partir de hoje e promete soltar outros 47 em até quatro meses, anunciou ontem a Igreja Católica em Cuba, que mantém desde maio um diálogo com o regime dos Castro sobre direitos humanos no país.
Se confirmadas essas libertações, elas representarão 31% do total de 167 presos políticos do país. Restarão, portanto, 115.
Será a maior liberação de presos políticos desde 1998, quando Havana liberou 300 detentos, entre eles cem considerados "de consciência", em resposta à visita do papa João Paulo 2º naquele ano.
O anúncio foi feito em nota pela Arquidiocese de Havana, após reunião entre o dirigente máximo de Cuba, Raúl Castro, o cardeal Jaime Ortega e o chanceler espanhol, Miguel Ángel Moratinos.
A notícia foi comemorada com cautela por ativistas de direitos humanos e dissidentes dentro e fora de Cuba, que reiteraram o chamado à libertação de todos os prisioneiros políticos.
Os 167 atuais representam o menor número em 50 anos, segundo a Comissão Nacional de Direitos Humanos local, ilegal, mas tolerada.
"É uma boa notícia, mas o chamado é por uma libertação de todos, que estão em condições sub-humanas na cadeia", disse à Folha Elizardo Sánchez, da CNDH.
Os primeiros cinco liberados e seus familiares deixarão o país rumo à Espanha nos próximos dias. Os seguintes também poderão deixar Cuba. Outros seis prisioneiros serão trasladados a cadeias mais próximos de seus familiares.
Todos os potenciais liberados fazem parte do grupo de 75 pessoas, entre ativistas e jornalistas, presos pelo regime sob acusação de conspiração na chamada Primavera Negra, em 2003, a maior onda de repressão da década.

DRAMA DE FARIÑAS
Desde então, Havana tem privilegiado as ações de "baixa intensidade" e intimidatórias, como detenções por algumas horas de críticos do governo, além de manter rígido controle das comunicações e penalizar a organização política independente.
A promessa de liberações ocorre quando médicos dizem que é crítico o estado de saúde do dissidente Guillermo Fariñas, há mais de quatro meses em greve de fome pela libertação de presos.
Ontem, o dissidente disse à agência France Presse por telefone, do hospital onde está internado, que não interromperá seu jejum até a libertação dos detentos. "Estou cético. Até que nossos irmãos estejam na rua, não confio nas autoridades."
Para o sociólogo cubano Haroldo Dilla, o gesto do governo é um aceno ao exterior, mas frisa que Havana evitou atender diretamente Fariñas. Se o atendesse, viriam muitos outros pedidos e protestos, opina o sociólogo.


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