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EUA mudam forma de noticiar tortura de prisioneiros
Estudo afirma que o "waterboarding", ou simulação de
afogamento, deixou de ser tido como tortura após 2004
Mudança ocorre a partir
das denúncias do uso da
técnica pelas tropas dos
EUA no Iraque, com aval
da Casa Branca de Bush
DE SÃO PAULO
Um estudo elaborado na
Universidade Harvard mostra que alguns dos principais
jornais dos EUA mudaram a
forma como definem "waterboarding", a tortura por simulação de afogamento, a
partir de 2004.
A data coincide com a divulgação das primeiras denúncias sobre a ocorrência
da prática na prisão de Abu
Ghraib (Iraque), que recebeu
o aval do governo de George
W. Bush (2001-2009).
A análise foi feita por alunos da universidade com base em reportagens e artigos
dos quatro jornais de maior
circulação do país, "The New
York Times", "The Wall
Street Journal", "Los Angeles
Times" e "USA Today".
Eles dizem que, durante
quase 70 anos, "a lei americana e os grandes jornais
classificavam o "waterboarding" como tortura". Depois
dos ataques de 11 de setembro de 2001 em Nova York e
em Washington, porém,
houve uma "dramática mudança" na cobertura.
Entre 1931 e 1999, o "NYT"
classificou a prática como
tortura em 81,5% dos artigos
que mencionavam o termo.
Já entre 2002 e 2008, o "waterboarding" recebeu a mesma classificação em apenas
dois de 143 artigos.
Os números são parecidos
no "Los Angeles Times", que
mencionou o "waterboarding" como tortura em
96,3% dos artigos entre 1935
e 2001, mas o fez em apenas
4,8% entre 2006 e 2008.
Desde 2004, o "USA Today" nunca citou a prática
como tortura. E o "Wall
Street Journal" a classificou
dessa forma em um de 63 artigos de 2005 a 2008.
Após 2004, "a maioria dos
artigos passou a usar [...] palavras como "duro" ou "coercitivo" para descrever o "waterboarding", ou simplesmente
não deu nenhum tratamento
à prática", afirma o estudo.
Em sua conclusão, os autores do estudo dizem que,
por quase um século, houve
consenso na mídia de que
"waterboarding" era tortura.
"Uma vez que o uso de
"waterboarding" pela CIA e
outros abusos pelos EUA vieram à tona, esse consenso já
não existe mais."
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