São Paulo, sexta-feira, 08 de julho de 2011

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ANÁLISE

Caso diz mais sobre a elite do poder do que sobre mau jornalismo

Decisão do grupo de fechar tabloide do escândalo é jogada para garantir que prossiga negociação para compra de TV

NELSON DE SÁ
ARTICULISTA DA FOLHA

Filho de Rupert e principal executivo da News Corp., James Murdoch deu entrevista à Sky News, canal de notícias da própria corporação, e foi questionado se vai "apenas substituir o 'News of the World' pelo 'Sun' de domingo". O "Sun" é o tabloide do grupo para dias de semana.
Respondeu que "agora o foco está em preparar a última edição" do tabloide dominical "e quaisquer decisões sobre o futuro são para a próxima semana".
Mas o domínio thesunonsunday.co.uk e outros foram registrados três dias atrás. E o "Sun" sai hoje com a manchete "World's end", fim do mundo ou do "World", sua primeira capa para o escândalo do "jornal irmão".
Para a consultoria Enders Analysis, "é certo como o dia segue a noite que o 'Sun on Sunday' estará entre nós nos próximos meses", até porque o "World" deixa para trás cerca de 10 milhões de leitores -e anunciantes ansiosos para atingi-los.
O tabloide dominical era o jornal mais rentável da News Corp. no país. O jornal de 168 anos foi comprado pelo então australiano Rupert Murdoch em 1969, iniciando o império global de mídia que hoje abrange também o "Times" e pode alcançar a BSkyB, serviço inglês de TV por satélite em que a News é sócia minoritária, mas fez oferta para ter o controle.
Para a Enders, a decisão de fechar o "World" foi tomada visando garantir que os reguladores aprovem a aquisição do controle da BSkyB, de faturamento muito superior.
O governo britânico sinalizou ontem que pode ceder à pressão e adiar a aprovação.
E o escândalo não dá sinais de ceder. O "Guardian", jornal londrino que revelou e investigou o caso quase sozinho nos últimos três anos, informou que um ex-editor do "World", também ex-porta-voz do primeiro-ministro David Cameron, deverá ser preso hoje.
Também segue sob pressão outra ex-editora, Rebekah Brooks, hoje principal executiva do braço internacional da News.
Segundo o repórter Nick Davies, que comandou desde o início a cobertura no "Guardian", Brooks é vista por Rupert Murdoch como "a filha que não teve", daí a resistência em aceitar seus supostos pedidos de demissão.
Davies foi também o jornalista que negociou com o WikiLeaks a divulgação dos segredos militares e diplomáticos americanos pelo "Guardian". Sobre o caso, ele dizia ontem, em vídeo:
"Não é uma história sobre jornalistas se comportando mal. É uma história sobre a elite do poder, sobre a organização de notícias mais poderosa do mundo, sobre o partido mais poderoso do país. E como todos presumiram que a lei não valia para eles".


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