São Paulo, domingo, 08 de agosto de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SAÚDE

Modafinil é capaz de deixar pessoas acordadas por 40 horas sem mostrar sinais de fadiga e sem causar dependência

Militares usam nova droga contra o sono

DA REDAÇÃO

O Ministério da Defesa do Reino Unido está fazendo grandes compras de um remédio que permite às pessoas ficarem acordadas, e alertas, por períodos de 40 horas. De acordo com o jornal londrino "The Guardian", houve um significativo aumento nas compras da droga desde que o país participou da invasão do Afeganistão em 2001.
O ministério negou estar dando o remédio às Forças Armadas e disse desconhecer a existência, em sua esfera, de pesquisas sobre os efeitos do modafinil (o princípio ativo da droga). Mas o jornal, com base na lei de transparência do governo, obteve cópias de documentos que mostram a compra de 24 mil pílulas do remédio Provigil desde 1998. Especialistas ouvidos pelo diário afirmam que a droga poderia ser usada para manter pilotos e soldados de forças especiais acordados em operações de longa duração.

Guerra do Golfo
Segundo o "Guardian", soldados franceses já usaram o modafinil durante a Guerra do Golfo, em 1991. Ao que se sabe, por enquanto os militares americanos estão somente fazendo estudos com o Provigil. Experimentos conduzidos no Instituto de Pesquisa do Exército Walter Reed (Maryland) mostraram que as pessoas, sob uso da droga, podiam continuar funcionais por até 85 horas seguidas sem sono. De acordo com o "Washington Post", atualmente a Marinha e a Força Aérea dos EUA permitem que os pilotos de seus aviões tomem Dexedrine (uma anfetamina).
Para os militares, uma droga capaz de impedir que os soldados durmam é extremamente valiosa, já que muitas operações -como incursões aéreas sobre território inimigo- podem se estender por pelo menos 48 horas.
Descoberto no final dos anos 70 por pesquisadores franceses, o modafinil é receitado por médicos principalmente no tratamento da narcolepsia -desordem que provoca forte sonolência, com períodos de cochilos breves e incontroláveis.
De uso relativamente recente -o Provigil só foi aprovado pela FDA (órgão americano que regula alimentos e fármacos) em 1998 e nem fabricantes nem neurologistas sabem como ele atua no cérebro-, a droga é vista como muito superior à cafeína e às anfetaminas como alternativa para evitar o sono.

Efeitos colaterais
Os efeitos colaterais provocados pelo modafinil são irritabilidade, excitação, tremores, tontura, dor de cabeça, náusea, dor abdominal, pressão alta e palpitações. Sua vantagem sobre as anfetaminas é o fato de que não provoca uma alteração dos sentidos capaz de prejudicar a tomada de decisões nem cria dependência física. Em testes clínicos, somente cerca de 1% dos voluntários reclamaram dos efeitos colaterais.
As vendas do Provigil estão decolando rapidamente, à medida que mais e mais estudantes, caminhoneiros, programadores de computador e outros profissionais que precisam freqüentemente atravessar noites acordados descobrem seus poderes. No ano passado, as vendas do Provigil em todo o mundo passaram de US$ 290 milhões -para este ano, a previsão é de que supere os US$ 400 milhões.
Considerado um estimulante pelo Comitê Olímpico dos Estados Unidos, o modafinil já provocou punições contra diversos atletas do país que foram flagrados em exames antidoping.


Com o "New York Times"


Texto Anterior: "Fiéis podem praticar religião à vontade"
Próximo Texto: Aeronáutica do Brasil rejeita remédios para pilotos
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.