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Reconciliação é prioridade, diz Santos
Ao tomar posse, novo presidente da Colômbia convoca Hugo Chávez para diálogo direto "o mais rápido possível"
Em Caracas, presidente venezuelano responde que está "disposto
a virar a página" na relação entre os países
FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A BOGOTÁ
Juan Manuel Santos assumiu ontem a Presidência da
Colômbia preenchendo as
expectativas de que seu governo buscará uma saída diplomática para a crise com a
Venezuela. Sem citá-lo, convocou o presidente venezuelano, Hugo Chávez, para um
diálogo direto -ele dispensou mediações- "o mais rápido possível".
"Antes de soldado, fui diplomata", disse o 59º presidente do país, e o segundo integrante da tradicional família Santos a ocupar o cargo.
O novo presidente afirmou
que é um "propósito fundamental" de seu governo reconstruir os elos com Caracas, formalmente rompidos
em julho, e também com Quito. Ambas as relações foram
sacudidas pelas acusações
de Bogotá de que toleram as
guerrilhas colombianas em
seu território.
"A palavra guerra não está
no meu dicionário", disse
Santos a uma plateia que incluía o presidente equatoriano, Rafael Correa, e o chanceler venezuelano, Nicolás Maduro. "Quem fala de guerra
nunca teve de mandar seus
soldados a uma de verdade",
continuou o ex-ministro da
Defesa de Álvaro Uribe.
A reação não tardou: à noite, na TV, Chávez se declarou
"disposto a virar a página e
mirar o futuro" na relação
entre os países e convidou o
colega a Caracas.
Correa reuniu-se ontem
mesmo com Santos (leia texto na página seguinte).
ACENO ÀS FARC
Menos esperado que o aceno aos vizinhos, Santos respondeu ao chamado de diálogo do líder das Farc (Forças
Armadas Revolucionárias da
Colômbia), Alfonso Cano,
num vídeo há dez dias.
"A porta do diálogo não está fechada a chave", afirmou
Santos, que reiterou as condições para o processo: que a
guerrilha abandone as armas, os sequestros e a prática
de extorsões.
Ao mesmo tempo, prometeu seguir a ofensiva militar
contra os grupos ilegais: "Vamos demonstrar" que a Colômbia terá paz "pela razão
ou pela força".
O ponto mais aplaudido
do discurso foi o agradecimento a Álvaro Uribe, seu
padrinho político e o presidente mais popular da história recente da Colômbia, um
homem "irrepetível".
Os cerca de 3.000 convidados na Praça Bolívar, no centro de Bogotá, ficaram de pé.
Aplaudiam Uribe por ao menos um minuto quando Santos os interrompeu para seguir o discurso.
Foi a demonstração, mais
uma vez, da estatura política
de Uribe, que é apontando,
por analistas, como um desafio não menor para Santos.
NOVA RETÓRICA
Se a homenagem ao ex-presidente foi contundente e
pontual, as mostras de querer fundar o "santismo" e as
mudanças de vocabulário
povoaram o discurso.
Retomou a "justiça social"
na desigual Colômbia -expressão vetada por Uribe,
que fez da "coesão social"
um lema. Quando falou das
Farc, tomou cuidado para
não dizer "terrorista".
Voltou a dizer que quer um
país "sem ódios" e afirmou
que democracia não se constrói sem dissensão. Pregou
harmonia com a Justiça. Tal
qual Barack Obama após
George W. Bush, pregou "um
novo amanhecer".
O novo governo representa a volta dos sobrenomes
tradicionais na Presidência,
ante as classes regionais
emergentes representadas
por Uribe.
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