São Paulo, domingo, 08 de agosto de 2010

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Reconciliação é prioridade, diz Santos

Ao tomar posse, novo presidente da Colômbia convoca Hugo Chávez para diálogo direto "o mais rápido possível"

Em Caracas, presidente venezuelano responde que está "disposto a virar a página" na relação entre os países

FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A BOGOTÁ

Juan Manuel Santos assumiu ontem a Presidência da Colômbia preenchendo as expectativas de que seu governo buscará uma saída diplomática para a crise com a Venezuela. Sem citá-lo, convocou o presidente venezuelano, Hugo Chávez, para um diálogo direto -ele dispensou mediações- "o mais rápido possível".
"Antes de soldado, fui diplomata", disse o 59º presidente do país, e o segundo integrante da tradicional família Santos a ocupar o cargo.
O novo presidente afirmou que é um "propósito fundamental" de seu governo reconstruir os elos com Caracas, formalmente rompidos em julho, e também com Quito. Ambas as relações foram sacudidas pelas acusações de Bogotá de que toleram as guerrilhas colombianas em seu território.
"A palavra guerra não está no meu dicionário", disse Santos a uma plateia que incluía o presidente equatoriano, Rafael Correa, e o chanceler venezuelano, Nicolás Maduro. "Quem fala de guerra nunca teve de mandar seus soldados a uma de verdade", continuou o ex-ministro da Defesa de Álvaro Uribe.
A reação não tardou: à noite, na TV, Chávez se declarou "disposto a virar a página e mirar o futuro" na relação entre os países e convidou o colega a Caracas.
Correa reuniu-se ontem mesmo com Santos (leia texto na página seguinte).

ACENO ÀS FARC
Menos esperado que o aceno aos vizinhos, Santos respondeu ao chamado de diálogo do líder das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), Alfonso Cano, num vídeo há dez dias.
"A porta do diálogo não está fechada a chave", afirmou Santos, que reiterou as condições para o processo: que a guerrilha abandone as armas, os sequestros e a prática de extorsões.
Ao mesmo tempo, prometeu seguir a ofensiva militar contra os grupos ilegais: "Vamos demonstrar" que a Colômbia terá paz "pela razão ou pela força".
O ponto mais aplaudido do discurso foi o agradecimento a Álvaro Uribe, seu padrinho político e o presidente mais popular da história recente da Colômbia, um homem "irrepetível".
Os cerca de 3.000 convidados na Praça Bolívar, no centro de Bogotá, ficaram de pé. Aplaudiam Uribe por ao menos um minuto quando Santos os interrompeu para seguir o discurso.
Foi a demonstração, mais uma vez, da estatura política de Uribe, que é apontando, por analistas, como um desafio não menor para Santos.

NOVA RETÓRICA
Se a homenagem ao ex-presidente foi contundente e pontual, as mostras de querer fundar o "santismo" e as mudanças de vocabulário povoaram o discurso.
Retomou a "justiça social" na desigual Colômbia -expressão vetada por Uribe, que fez da "coesão social" um lema. Quando falou das Farc, tomou cuidado para não dizer "terrorista".
Voltou a dizer que quer um país "sem ódios" e afirmou que democracia não se constrói sem dissensão. Pregou harmonia com a Justiça. Tal qual Barack Obama após George W. Bush, pregou "um novo amanhecer".
O novo governo representa a volta dos sobrenomes tradicionais na Presidência, ante as classes regionais emergentes representadas por Uribe.


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