São Paulo, domingo, 08 de agosto de 2010

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ANÁLISE

Judt preencheu vazio intelectual no pós-Guerra Fria

CLAUDIA ANTUNES
DO RIO

Apesar de ter iniciado carreira acadêmica nos anos 70, Tony Judt emergiu como intelectual público no final dos anos 80 e só em 1993 publicou seu primeiro artigo na "New York Review of Books", da qual se tornaria colaborador frequente.
O fato de ter sido desde sempre um social-democrata -e ao mesmo tempo conhecedor profundo das tradições marxista e conservadora europeias- permitiu que ele ocupasse um lugar de ponta no questionamento da euforia livre-mercadista dos anos 90, quando parte da esquerda ainda se debruçava sobre os escombros do Muro de Berlim.
Judt destacou-se pela crítica da predominância do cálculo econômico na definição das políticas públicas.
Costumava lembrar que os elos de responsabilidade coletiva forjados pelo Estado de bem-estar representaram um antídoto contra o risco autoritário de direita e de esquerda nas democracias de massa no século 20 - risco que temia ser esquecido.
Nos EUA, onde vivia há 23 anos, Judt marcou distância da arrogância resultante do excesso de poder que se seguiu à vitória do país na Guerra Fria.
Em 2006, pondo em questão o discurso renovado da "missão civilizatória" ocidental, cobrou dos americanos uma revisão do seu próprio histórico de apoio a ditaduras e massacres no antigo Terceiro Mundo.
Mas ele era um polemista nem sempre previsível, e não se enquadrava em grupos políticos ou correntes acadêmicas -embora tivesse a ambição de transmitir em sua obra um "quadro amplo" da história, como o também britânico Eric Hobsbawm, cujo trabalho admirava, mas de quem divergia.
Diferentemente de outros intelectuais que basearam sua trajetória na crítica ao stalinismo, como Bernard-Henri Lévy e Christopher Hitchens, Judt não aderiu à cruzada contra um suposto "fascismo islâmico" no pós-11 de Setembro.
Chamou de "idiotas úteis de [George W.] Bush" os progressistas que endossaram a "guerra ao terror".
Mas antes disso apoiou as intervenções da Otan (aliança militar ocidental) nos Bálcãs quando da dissolução da antiga Iugoslávia, distanciando-se de expoentes da esquerda anti-imperialista, como Noam Chomsky.
"Não acredito que deveríamos ter regras morais que se apliquem a tudo para a ação política internacional. A política diz respeito ao possível", disse à revista "Prospect".


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