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ANÁLISE
Judt preencheu vazio intelectual no pós-Guerra Fria
CLAUDIA ANTUNES
DO RIO
Apesar de ter iniciado carreira acadêmica nos anos 70,
Tony Judt emergiu como intelectual público no final dos
anos 80 e só em 1993 publicou seu primeiro artigo na
"New York Review of Books",
da qual se tornaria colaborador frequente.
O fato de ter sido desde
sempre um social-democrata
-e ao mesmo tempo conhecedor profundo das tradições
marxista e conservadora europeias- permitiu que ele
ocupasse um lugar de ponta
no questionamento da euforia livre-mercadista dos anos
90, quando parte da esquerda ainda se debruçava sobre
os escombros do Muro de
Berlim.
Judt destacou-se pela crítica da predominância do cálculo econômico na definição
das políticas públicas.
Costumava lembrar que os
elos de responsabilidade coletiva forjados pelo Estado de
bem-estar representaram um
antídoto contra o risco autoritário de direita e de esquerda nas democracias de massa no século 20 - risco que
temia ser esquecido.
Nos EUA, onde vivia há 23
anos, Judt marcou distância
da arrogância resultante do
excesso de poder que se seguiu à vitória do país na
Guerra Fria.
Em 2006, pondo em questão o discurso renovado da
"missão civilizatória" ocidental, cobrou dos americanos uma revisão do seu próprio histórico de apoio a ditaduras e massacres no antigo
Terceiro Mundo.
Mas ele era um polemista
nem sempre previsível, e não
se enquadrava em grupos
políticos ou correntes acadêmicas -embora tivesse a ambição de transmitir em sua
obra um "quadro amplo" da
história, como o também britânico Eric Hobsbawm, cujo
trabalho admirava, mas de
quem divergia.
Diferentemente de outros
intelectuais que basearam
sua trajetória na crítica ao
stalinismo, como Bernard-Henri Lévy e Christopher Hitchens, Judt não aderiu à cruzada contra um suposto "fascismo islâmico" no pós-11 de
Setembro.
Chamou de "idiotas úteis
de [George W.] Bush" os progressistas que endossaram a
"guerra ao terror".
Mas antes disso apoiou as
intervenções da Otan (aliança militar ocidental) nos Bálcãs quando da dissolução da
antiga Iugoslávia, distanciando-se de expoentes da
esquerda anti-imperialista,
como Noam Chomsky.
"Não acredito que deveríamos ter regras morais que se
apliquem a tudo para a ação
política internacional. A política diz respeito ao possível",
disse à revista "Prospect".
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