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Após enchente e exílio, artistas agora sofrem toque de recolher
DA ENVIADA A NOVA ORLEANS
Quando o Katrina devastou Nova Orleans em 2005, o
músico Chris Davis, 25, foi
forçado a ficar em Baton Rouge (Louisiana), longe da região pobre e negra do Baixo
Distrito 9, onde cresceu.
Sua banda, a To Be Continued (TBC), com nove membros também de regiões de
baixa renda, acabou espalhada pelos EUA, com membros deslocados para Califórnia, Virgínia e Texas.
Levou mais de seis meses
até que se reencontrassem.
"Quando voltamos para Nova Orleans, estava tudo em
ruínas, mas as pessoas ficaram animadas de nos ver."
Logo voltaram a tocar.
Desde 2006, a TBC se apresenta quase todas as noites
nas ruas do turístico Bairro
Francês.
Mas anos depois de sobreviver a enchentes e exílios,
Davis e os tradicionais artistas de rua de Nova Orleans
estão sendo obrigados a lidar
com uma nova ameaça. A
prefeitura resolveu impor um
toque de recolher "antibarulho" às 20h, mesmo nos pontos mais famosos pela música noturna.
Os artistas resistem. A TBC
já foi interrompida pela polícia três vezes, apenas para
voltar no dia seguinte.
Para Lisa Palumbo, agente
da banda, o toque de recolher "é mais um golpe" contra gente que já sofreu o suficiente. "A música é uma parte importante da cidade e um
marco fundamental da nossa
recuperação após o Katrina",
disse ela à Folha.
FUTURO INCERTO
A pressão surpreende
quando se leva em conta que
a presença de músicos de rua
em Nova Orleans ainda nem
retornou aos níveis pré-furacão. Segundo o Conselho de
Arte de Nova Orleans, 25%
deles seguem ausentes.
O índice de exílio entre
músicos é maior do que o de
outros tipos de artistas, explicado pelo fato de que a maior
parte dos músicos é oriunda
de bairros de renda baixa.
Em outras áreas criativas,
o furacão chegou a inflar
uma bolha artística na cidade, com fotógrafos, cineastas
e escritores usando o trabalho para colocar para fora os
horrores vividos.
Eles também se beneficiaram do grande fluxo de dinheiro que invadiu Nova Orleans nos primeiros dois ou
três anos após a tragédia,
proveniente do governo e de
doações privadas.
Só que agora a fonte começa a secar. O Katrina não é
mais novidade, e a recessão
afastou as contribuições.
Galerias luxuosas da tradicional rua Julia relatam que
as vendas dois anos após o
furacão eram melhores do
que as atuais.
Para os músicos, esse é
mais um motivo para manter
os sons no ar. "A música é a
alma desta cidade", diz Davis. "Se acabar com ela, o que
é que vai restar?" (AM)
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