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TRAGÉDIA NOS EUA
Quem insistir em ficar será obrigado a sair pelas forças de segurança; ontem, prevaleceu a tática da persuasão
Começa retirada à força em Nova Orleans
DA REDAÇÃO
Começou, por ora na base da
conversa, a fase de desocupação
forçada das cerca de 10 mil pessoas que ainda permanecem em
suas casas em Nova Orleans. O
prefeito, o democrata Ray Nagin,
determinou a remoção desse contingente com o uso da força, se
necessário, por causa do risco de
incêndios e epidemias.
Ontem, soldados tentavam persuadir os moradores a aceitar a
retirada. "Nunca deixei minha casa na vida. Não quero sair", dizia
Anthony Charbonnet, 86, balançando a cabeça, após trancar sua
porta e começar a descer devagar
os degraus de entrada do local onde mora desde 1955. Charbonnet
só aceitou sair após um vizinho
ter-lhe dito: "As coisas vão ficar
bem. Será como um período de
férias". Ainda reclamando, Charbonnet entrou na ambulância em
que foi levado a um helicóptero.
Com as águas poluídas e tomadas de bactérias começando lentamente a baixar, por causa do
reinício do funcionamento do sistema de bombeamento da cidade,
o prefeito instruiu as forças de segurança anteontem à noite a retirar todos os remanescentes.
Nagin alegou que as águas que
ainda inundam parte de Nova Orleans podem espalhar doenças
-já ocorreram mortes por infecções bacterianas- e que há vazamento de gás em toda a cidade.
Durante parte do dia de ontem,
não houve relatos de episódios de
violência na retirada dos moradores. "Registramos milhares de
pessoas que quiseram voluntariamente sair", disse o chefe da polícia local, Eddie Compass. Os que
restassem depois disso seriam removidos de qualquer forma.
A saída forçada foi determinada
enquanto as equipes de resgate lutam para achar e contar corpos
em decomposição com o calor de
32C. Mesmo quando cachorros
farejam cadáveres, não é possível
recolhê-los sem o uso de equipamento pesado. O prefeito estima
que o número de mortos na cidade possa chegar a 10 mil.
Corpos no asilo
Detalhes da magnitude da tragédia começaram a vir à tona.
Uma deputada estadual da Louisiana disse que 30 pessoas morreram num asilo para idosos inundado em Chalmette, na região
metropolitana de Nova Orleans.
Segundo ela, os funcionários deixaram os idosos em suas camas.
Outras cem pessoas pelo menos
morreram num armazém portuário local, esperando o resgate.
Em Nova Orleans, também continuam a surgir incêndios, algo
difícil de combater por causa da
pouca pressão da água para extinguir o fogo e da necessidade de as
pessoas usarem velas diante da
falta de energia elétrica.
Antes da passagem do furacão,
já havia sido recomendada a saída
dos moradores. Agora, solicitações de retirada vinham sendo ignoradas. Muitos remanescentes
dizem que ouviram a última determinação de Nagin, mas que estão relutantes em acatá-la.
Dolores Devron está entre os
que aceitaram ir embora. Ela disse
que ficou furiosa por ter sido obrigada a sair e, ao mesmo tempo,
satisfeita porque foi autorizada a
levar o cachorro. "Há crianças
mortas por aí, e eles estão nos empurrando para fora e deixando as
crianças. Isso não está certo", gritava, agitando os braços, enquanto era levada para um caminhão.
A drenagem de Nova Orleans
começou depois que a equipe de
engenharia conseguiu tapar, com
pedras e sacos de areia, um buraco num dos principais diques do
lago Pontchartrain. Apesar de a
inundação diminuir, só cinco das
148 bombas de drenagem estavam funcionando até anteontem.
As condições desse equipamento determinarão o tempo que levará para a cidade estar seca, segundo os engenheiros. Já chegou
a ser feita a previsão de 80 dias.
Com agências internacionais
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