São Paulo, quinta-feira, 08 de setembro de 2005

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TRAGÉDIA NOS EUA

Quem insistir em ficar será obrigado a sair pelas forças de segurança; ontem, prevaleceu a tática da persuasão

Começa retirada à força em Nova Orleans

DA REDAÇÃO

Começou, por ora na base da conversa, a fase de desocupação forçada das cerca de 10 mil pessoas que ainda permanecem em suas casas em Nova Orleans. O prefeito, o democrata Ray Nagin, determinou a remoção desse contingente com o uso da força, se necessário, por causa do risco de incêndios e epidemias.
Ontem, soldados tentavam persuadir os moradores a aceitar a retirada. "Nunca deixei minha casa na vida. Não quero sair", dizia Anthony Charbonnet, 86, balançando a cabeça, após trancar sua porta e começar a descer devagar os degraus de entrada do local onde mora desde 1955. Charbonnet só aceitou sair após um vizinho ter-lhe dito: "As coisas vão ficar bem. Será como um período de férias". Ainda reclamando, Charbonnet entrou na ambulância em que foi levado a um helicóptero.
Com as águas poluídas e tomadas de bactérias começando lentamente a baixar, por causa do reinício do funcionamento do sistema de bombeamento da cidade, o prefeito instruiu as forças de segurança anteontem à noite a retirar todos os remanescentes.
Nagin alegou que as águas que ainda inundam parte de Nova Orleans podem espalhar doenças -já ocorreram mortes por infecções bacterianas- e que há vazamento de gás em toda a cidade.
Durante parte do dia de ontem, não houve relatos de episódios de violência na retirada dos moradores. "Registramos milhares de pessoas que quiseram voluntariamente sair", disse o chefe da polícia local, Eddie Compass. Os que restassem depois disso seriam removidos de qualquer forma.
A saída forçada foi determinada enquanto as equipes de resgate lutam para achar e contar corpos em decomposição com o calor de 32C. Mesmo quando cachorros farejam cadáveres, não é possível recolhê-los sem o uso de equipamento pesado. O prefeito estima que o número de mortos na cidade possa chegar a 10 mil.

Corpos no asilo
Detalhes da magnitude da tragédia começaram a vir à tona. Uma deputada estadual da Louisiana disse que 30 pessoas morreram num asilo para idosos inundado em Chalmette, na região metropolitana de Nova Orleans. Segundo ela, os funcionários deixaram os idosos em suas camas. Outras cem pessoas pelo menos morreram num armazém portuário local, esperando o resgate.
Em Nova Orleans, também continuam a surgir incêndios, algo difícil de combater por causa da pouca pressão da água para extinguir o fogo e da necessidade de as pessoas usarem velas diante da falta de energia elétrica.
Antes da passagem do furacão, já havia sido recomendada a saída dos moradores. Agora, solicitações de retirada vinham sendo ignoradas. Muitos remanescentes dizem que ouviram a última determinação de Nagin, mas que estão relutantes em acatá-la.
Dolores Devron está entre os que aceitaram ir embora. Ela disse que ficou furiosa por ter sido obrigada a sair e, ao mesmo tempo, satisfeita porque foi autorizada a levar o cachorro. "Há crianças mortas por aí, e eles estão nos empurrando para fora e deixando as crianças. Isso não está certo", gritava, agitando os braços, enquanto era levada para um caminhão.
A drenagem de Nova Orleans começou depois que a equipe de engenharia conseguiu tapar, com pedras e sacos de areia, um buraco num dos principais diques do lago Pontchartrain. Apesar de a inundação diminuir, só cinco das 148 bombas de drenagem estavam funcionando até anteontem.
As condições desse equipamento determinarão o tempo que levará para a cidade estar seca, segundo os engenheiros. Já chegou a ser feita a previsão de 80 dias.


Com agências internacionais

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