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[+] análise
"Outsider" no partido, Blair perdeu magia
PHILIP STEPHENS
DO "FINANCIAL TIMES"
Chega um momento em
que mesmo o mais poderoso
dos líderes perde o controle
sobre seu destino. Isso aconteceu esta semana com Tony
Blair. Uma rebelião de parlamentares do seu próprio partido converteu-se num golpe
contra Downing Street.
Os paralelos com a defenestração de Margaret Thatcher pelo partido Conservador, mais de 15 anos atrás, estão longe de ser exatos. Mesmo assim, são convincentes.
O punhal brandido na época
por Michael Heseltine, antigo membro do gabinete de
Thatcher, agora está sendo
empunhado por Gordon
Brown. Também Thatcher
havia tido três vitórias sucessivas em eleições gerais.
Ambos os líderes tiravam
autoridade política do fato de
que lideravam seus partidos
desde uma distância. Filha
de um lojista, Thatcher não
possuía a ancestralidade dos
lordes conservadores. Blair,
filho de um advogado que
apoiava os conservadores,
nunca tentou se fazer passar
por membro da tribo socialista. O apelo eleitoral de
Thatcher consistia em sua
capacidade de comunicar-se
com as aspirações das classes
trabalhadoras inglesas. O de
Blair tem se baseado no fato
de ele encontrar eco nas classes médias.
Mas esses foram pontos
fortes que se converteram
em fracos a partir do momento em que seus partidos
começaram a colocar sua
magia eleitoral em dúvida.
No caso de Thatcher, isso
aconteceu com a introdução
do "poll tax" (imposto de valor único cobrado por pessoa) e da chegada de uma recessão econômica profunda.
No caso de Blair, o dano foi
autoinfligido. Foi sua própria escolha anunciar [na última eleição geral] sua intenção de deixar o cargo antes
da próxima eleição.
Existem, é claro, muitas
outras razões para explicar a
ira presente no partido de
Tony Blair. O primeiro lugar
é ocupado pela decisão de ir à
guerra no Iraque. No próprio
Reino Unido, uma minoria
considerável dos parlamentares trabalhistas -emocionalmente falando, talvez
uma maioria- nunca aceitou realmente a agenda do
Novo Trabalhismo de Blair
para os serviços públicos.
Termos como escolha, diversidade e incentivos não
caem bem para uma tradição
política que reza que a uniformidade de fornecimento
de serviços constitui o caminho para a eqüidade. Para
Blair, o objetivo do Estado é
atuar como aliado do indivíduo; para alguns de seu partido, a meta ainda é o coletivo.
Nada disso, entretanto, explica por inteiro a histeria
coletiva que tomou conta dos
deputados trabalhistas esta
semana. Afinal, Tony Blair
ainda é o líder mais bem-sucedido que o Partido Trabalhista já teve. A economia
britânica está forte, e os serviços públicos, embora longe
de ser perfeitos, melhoraram
de maneira visível. Um olhar
para as plataformas dos dois
candidatos principais que
disputam a eleição presidencial francesa revela até que
ponto o "blairismo" molda as
linhas gerais da política européia de hoje.
Parte da explicação se encontra numa soberba mais
profunda que contaminou o
Partido Trabalhista -o sentimento de que, após uma
década no poder, o governo
virou um feudo particular. A
queda dos conservadores na
década de 1990 constitui testemunho da verdade política
simples de que os eleitores
não elegem partidos que preferem ocupar-se com rixas
internas a assumir suas responsabilidades públicas.
Tradução de CLARA ALLAIN
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