São Paulo, segunda-feira, 08 de setembro de 2008

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Historiador usou arquivos do Itamaraty

DA EDITORA DE MUNDO

Para traçar a história do governo Allende e suas ramificações regionais e hemisféricas, Moniz Bandeira teve acesso a documentos inéditos do arquivo do Itamaraty, que mostram os telegramas enviados pelo embaixador brasileiro em Santiago, Antônio Câmara Canto, um simpatizante dos golpistas, ao governo do general Emílio Garrastazu Médici.
Além da torcida pela derrubada de Allende, os documentos indicam que o Brasil se envolveu diretamente já perto do golpe. Primeiro, ajudando conspiradores ligados ao grupo de extrema-direita Pátria e Liberdade, que planejava isolar o sul chileno do resto do país, na hipótese de que houvesse guerra civil.
Depois, o Brasil reconheu rapidamente o regime militar, lhe deu ajuda financeira e enviou agentes para interrogar os brasileiros presos em seguida ao golpe -eram mais de 1.200 no país, na época, dos quais pelo menos seis foram mortos.
Também houve, segundo o livro, assessoria à oposição chilena de empresários brasileiros, entre eles Glaycon de Paiva, um dos fundadores do IPES (Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais). Ele teria recomendado a versão chilena das Marchas da Família com Deus pela Liberdade, em que mulheres de classe média e alta saíam batendo panelas.
O livro também é baseado nos documentos sobre o envolvimento do governo de Richard Nixon (1969-1974) na preparação do golpe e no financiamento da oposição, incluindo tanto os do Relatório Church, da comissão que investigou o caso no Congresso americano, quanto os desclassificados posteriormente pela ONG National Security Archive.
Está lá a famosa frase de Henry Kissinger, secretário de Estado de Nixon, de que os EUA não poderiam "deixar um país se tornar marxista só porque seu povo é irresponsável". O próprio título do livro é tirado de um memorando do agente Henry Heckscher, chefe da estação da CIA em Santiago.
Moniz Bandeira também usou fontes secundárias e relatos do período feitas por seus protagonistas. Entrevistou alguns deles, incluindo Roberto Thieme, genro de Pinochet e dirigente do Pátria e Liberdade. "Ele me contou que oficiais do alto comando da Marinha lhes deram os planos de atentados terroristas praticados pelo grupo, como o grande blecaute que atingiu todo o Chile, em 1973", comenta o historiador. (CA)



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