São Paulo, segunda-feira, 08 de outubro de 2001

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RETALIAÇÃO

Presidente promete conciliar ação militar com "generosidade" em relação aos afegãos

Bush anuncia ofensiva "longa e implacável" contra Bin Laden

MARCIO AITH
DE WASHINGTON

Vinte cinco minutos depois do primeiro ataque ao Afeganistão, o presidente dos EUA, George W. Bush, anunciou a seu país que havia determinado uma ofensiva militar "longa, ampla e implacável" contra "os campos de treinamento terroristas da Al Qaeda e as instalações militares do regime Taleban no Afeganistão".
Num pronunciamento que começou a ser escrito há três semanas por uma equipe de especialistas, Bush disse que os ataques, "cuidadosamente dirigidos, têm por objetivo dificultar o uso do Afeganistão como base terrorista de operações e atacar a capacidade militar do regime Taleban".
Segundo ele, a batalha ocorre em muitas frentes. "Não vacilaremos, não nos cansaremos, não desistiremos e não fracassaremos", afirmou. Bush procurou conciliar a determinação militar com uma ofensiva humanitária sem limites para, segundo ele, salvar a população afegã.
"Ao mesmo tempo [em que os ataques estão sendo desfechados", o povo oprimido do Afeganistão conhecerá a generosidade dos Estados Unidos e de nossos aliados. À medida que atacarmos alvos militares, também entregaremos alimentos, remédios e suprimentos aos famintos e sofridos homens, mulheres e crianças do Afeganistão", discursou Bush.
Embora a ofensiva tenha sido promovida somente pelos EUA e pelo Reino Unido, Bush anunciou a concordância e uma futura participação de seus aliados mais importantes ao redor do mundo.
"Participa conosco desta operação nosso leal amigo, o Reino Unido. Outros amigos próximos, entre os quais Canadá, Austrália, Alemanha e França, prometeram forças à medida que a operação se desenvolver."
A inclusão da Alemanha nessa lista surpreendeu alguns analistas. Dos aliados europeus dos EUA, o país era o mais reticente em relação a uma ação militar e o governo alemão era objeto de uma ofensiva diplomática intensa da Casa Branca.
Antes dos ataques, Bush telefonou para o chanceler (premiê) alemão, Gerhard Schröder, para o presidente da Rússia, Vladimir Putin, para o primeiro-ministro israelense, Ariel Sharon, e para o primeiro-ministro canadense, Jean Chrétien.
O Congresso divulgou nota elogiando a ação militar. "Apoiamos fortemente a operação que o presidente Bush ordenou que nossas forças militares realizassem hoje", disse a nota.

Muçulmanos
No pronunciamento pela televisão, Bush afirmou que a ação foi necessária devido à recusa do Taleban em entregar Bin Laden e outros membros da Al Qaeda (a base), rede terrorista liderada pelo saudita. Mais uma vez, Bush esforçou-se para evitar que o mundo islâmico confunda o ataque ao Taleban a um ataque contra os muçulmanos.
"Os Estados Unidos da América são amigos do povo afegão, e somos amigos do quase 1 bilhão de pessoas em todo o mundo que professam a fé islâmica."
Estrategicamente, o presidente falou à nação do Salão de Tratados da Casa Branca, um salão onde acordos de paz e tratados multilaterais foram assinados na segunda metade do século 20, prevendo ajuda financeira e humanitária para nações pobres ou derrotadas pelos EUA em conflitos militares.
Entre esses acordos estão o de Bretton Woods, que criou o FMI (Fundo Monetário Internacional), tratados de paz com Romênia, Hungria e Itália depois da Segunda Guerra Mundial e a carta da ONU.
"Falo hoje do Salão de Tratados da Casa Branca, um lugar no qual presidentes dos Estados Unidos trabalharam pela paz", discursou o presidente. "Somos um país pacífico. Mas, como aprendemos de forma tão súbita e trágica, não pode haver paz em um mundo de terrorismo súbito. Face à nova ameaça atual, a única maneira de buscar a paz é buscar por aqueles que a ameaçam", disse ele.



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