São Paulo, segunda-feira, 08 de outubro de 2001

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EX-ALIADO

Governo afirma ter feito o que pôde para convencer regime afegão a entregar Bin Laden

Paquistão diz que Taleban é responsável por bombardeio

France Presse
Paquistaneses pró-Taleban exibem imagem de Osama Bin Laden durante manifestação em Karachi em protesto ao apoio do país aos ataques dos EUA ao Afeganistão


DA REDAÇÃO

O governo do Paquistão, o único a reconhecer o regime afegão, disse ontem, por meio de um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, que o Taleban é o principal responsável pelo bombardeio que passou a sofrer, na medida em que se fez de surdo ao clamor internacional em favor da punição de Osama bin Laden.
As autoridades paquistanesas também afirmaram que haviam feito o possível para convencer o Taleban a entregar Bin Laden. O governo enviou duas missões ao Afeganistão para transmitir essa exigência dos EUA.
O presidente paquistanês, Pervez Musharraf, não chegou a se pronunciar. Seu regime tem apoiado o esforço norte-americano de combate às bases de terroristas islâmicos no Afeganistão.
Em troca, os EUA suspenderam as sanções econômicas contra seu país, em vigor desde 1999, desde que Musharraf chegou ao poder por meio de um golpe de Estado e realizou testes nucleares.
Ontem, o governo paquistanês confirmou que o país liberou seu espaço aéreo para permitir a passagem de aviões dos EUA rumo ao Afeganistão. Mas negou que os ataques tivessem partido do território paquistanês.
Dirigentes islâmicos paquistaneses se apressaram ontem em condenar a ação militar norte-americana no Afeganistão, qualificada de "ataque brutal contra gente inocente" por Amar Mehdi, porta-voz do grupo Haraka.
"Os Estados Unidos estão atingindo cidades em lugar de bombardear os campos de treinamento dos quais tanto falaram nos últimos dias", disse ele.
Na cidade paquistanesa de Lahore, clérigos muçulmanos interromperam uma reunião convocada para discutir a tensão regional e emitiram nota de condenação aos bombardeios.
Disseram que os EUA passam a partir de agora a enfrentar "uma situação altamente crítica" no mundo muçulmano. "Muitos dos clérigos choraram ao tomarem conhecimento das bombas", disse um porta-voz da conferência.
O presidente do grupo Markazi Jamiat, Sazid Mir, lançou um apelo para que "muçulmanos residentes em qualquer canto do mundo apóiem seus irmãos afegãos neste instante".
O Markazi é um dos 27 grupos ou indivíduos cujos depósitos bancários foram congelados pelos Estados Unidos, na operação de repressão financeira contra forças auxiliares de Osama bin Laden.

Prisão domiciliar
Antes mesmo que Cabul fosse atacada, o governo de Islamabad colocou ontem de manhã sob prisão domiciliar dirigente do partido político que tem demonstrado maiores afinidades com o radicalismo islâmico.
Fazal Rehman preside o partido Jamiat Ulema na cidade de Dera Ishmail, próxima à fronteira com o Afeganistão, a 150 kms ao sul de Islamabad. Ele é um personagem conhecido da política paquistanesa, tendo sido presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado. Sua casa foi ontem cercada por policiais fortemente armados e veículos blindados.
Ele havia no sábado exortado seus partidários a destruir qualquer avião norte-americano que pousasse no Paquistão. Rehman tem fomentado os mais bem-sucedidos protestos no Paquistão contra o alinhamento pró-EUA do presidente Musharraf, que tem reunido milhares de pessoas.
O partido controla escolas islâmicas nas quais têm sido recrutados voluntários que, auxiliados pelo Taleban, combatem o governo indiano na província da Caxemira, de maioria islâmica.


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