São Paulo, quarta-feira, 08 de outubro de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA / CONFRONTO DIRETO

Em debate mais agressivo, democrata sai vencedor

Republicano chama Obama de "aquele lá" e diz que ele e sua "patota" têm culpa na crise

Democrata dá respostas duras; ofensiva sugere clima de "vale-tudo" na campanha do senador veterano, que está atrás nas pesquisas

Rick Wilking/Reuters
McCain fala aos eleitores indecisos escolhidos para participar do debate na Universidade Belmont, em Nashville; economia predominou

SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A NASHVILLE (TENNESSEE)

No debate de retórica mais intensa na corrida pela sucessão de George W. Bush, John McCain referiu-se a Barack Obama como "aquele lá" e disse que o senador "e sua patota e seus amigos em Washington" eram responsáveis pela crise imobiliária que desembocou na atual turbulência.
O democrata respondeu com firmeza a seu oponente, dizendo a certa altura: "Esse é o cara que cantou "bombardeie o Irã'". A ofensiva do republicano, atrás nas pesquisas nacionais e em Estados críticos, sugere um clima de "vale-tudo" em sua campanha, a menos de 30 dias das eleições presidenciais.
Logo no começo, falando da quebra dos gigantes imobiliários Fannie Mae e Freddy Mac, McCain diria: "Mas, você sabe, eles foram os que, com o apoio do senador Obama e de sua patota e seus amigos em Washington, continuaram e fizeram todos aqueles empréstimos de alto risco, os deram a pessoas que nunca teriam condições de pagar de volta".
Mais adiante, referindo-se ao fato de que tinha votado contra uma lei proposta por Bush e Cheney, mesmo os dois sendo de seu partido, o republicano diria: "Sabe quem votou a favor? Talvez você nunca saiba. Aquele lá [apontando Obama com a cabeça]. Sabe quem votou contra? Eu".
A escalada fez Obama reagir à altura. Ao se referir às propostas de política externa -McCain citara o presidente Teddy Roosevelt, que dizia "fale macio e carregue um grande porrete"-, o democrata refutou. Referindo-se a McCain, disse: "Esse é o cara que cantou "Bombardeie o Irã", que pediu a aniquilação da Coréia do Norte. Isso não me parece um exemplo de "falar macio'".
Com a tática, os dois arriscavam, mas McCain tinha mais a perder. Obama foi o vitorioso no primeiro encontro, segundo as pesquisas, porque parecia mais contido. Já McCain encara nesse momento o que seu colega de partido, Newt Gingrich, ex-presidente do Congresso nos anos Clinton, chamou de "a maior crise de sua carreira".
Pois as pesquisas instantâneas feitas após o debate apontavam a vantagem de Obama. Para 54% dos ouvidos pela emissora CNN, ele venceu o debate, ante 30% que escolheram McCain. É uma queda importante em relação ao primeiro debate, em que o republicano havia ficado com 38%, e o democrata, com 51%. A pesquisa da CBS apontou Obama como vencedor por 39% a 27%.
O encontro aconteceu na Universidade Belmont, em Nashville, no Tennessee, Estado sulista norte-americano solidamente pró-McCain, a quem deve entregar seus 11 votos no Colégio Eleitoral. Foi o primeiro com a participação do público, 80 eleitores indecisos escolhidos pelo Gallup, mais perguntas selecionadas entre 6 milhões colocadas num site.
O formato supostamente beneficiaria o republicano, que prefere e se sente mais à vontade nesse tipo de interação. Mas amarrou um pouco os braços do moderador, o veterano âncora Tom Brokaw, a quem praticamente só coube ler perguntas alheias.

"Hypo" e "Subject"
Ao longo do dia, a escalada de ataques negativos continuou de ambos os lados. Antes do debate, entraram no ar os anúncios "Subject" (assunto), da campanha de Barack Obama, e "Hypo" (abreviação de hipócrita), da de John McCain.
No primeiro, o democrata diz que seu oponente quer mudar o foco da campanha da discussão da crise econômica para a discussão das personalidades dos candidatos. No segundo, o republicano chama seu adversário de hipócrita ao fazer o que chama de "falsos ataques" às suas propostas: "Barack Obama. Ele prometeu coisa melhor. Ele mentiu", diz o locutor.
A escalada tinha sido anunciada pela campanha de McCain no sábado e iniciada de fato pela candidata a vice, Sarah Palin. Desde então, os anúncios deixaram de ser sobre propostas e passaram a ser ataques pessoais. A governadora do Alasca vem repetindo que Obama "anda com terroristas". O democrata contra-atacaria colocando na rede um "documentário" de 13 minutos sobre o envolvimento do senador no escândalo financeiro dos anos 80 conhecido como "Os Cinco de Keating".
Na seqüência, McCain colocou no ar anúncio que duvida do patriotismo de Obama, chamando-o de "desonroso" por criticar a atuação das tropas americanas no Afeganistão.
Obama e McCain se encontrarão de novo na quarta que vem, na universidade Hofstra, em Hempstead, a 40 minutos de Manhattan. É o último debate antes da eleição do dia 4.


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