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ARTIGO
Domínio conservador em xeque
JOHN HARWOOD
DO "NEW YORK TIMES"
À sombra do perigo econômico, os dois grandes partidos
americanos entram na reta final para as eleições oferecendo
um estudo de contrastes em filosofia, estratégia e confiança.
Os democratas consideram
os apelos de Wall Street por
resgate pelo governo à luz daquilo que Barack Obama definiu como "veredicto final" sobre a ideologia de livre mercado
que vem reinando sobre a política americana sem grande
oposição há mais de duas décadas. A maior parte dos republicanos condena o resgate como
uma traição a essa ideologia.
Os democratas de Obama
pressionam para que Washington regulamente as instituições
financeiras, reforce o sistema
de seguro-saúde público e redistribua renda por meio de
ajustes nos códigos tributários.
Os republicanos de John
McCain querem direcionar a
insatisfação dos eleitores à corrupção em Washington e tentam gerar dúvidas pessoais sobre Obama.
O partido de Obama aproveita as oportunidades para tentar
conquistar os Estados antes
vistos como bastiões inexpugnáveis dos conservadores e para reforçar sua maioria na Câmara e no Senado. O partido de
McCain planeja obter uma vitória presidencial por margem
estreita, em um campo de batalha cuidadosamente limitado,
já que alguns republicanos no
Congresso começam a ver a
possibilidade de derrota do
candidato do partido como um
passo na direção da renovação
política.
Talvez uma grande virada
Os primeiros indícios de ascendência conservadora surgiram nos anos 50, depois de cinco vitórias consecutivas em
eleições presidenciais da coalizão criada por Franklin Roosevelt. As divisões culturais surgidas nos anos 60 renovaram a
força dos republicanos.
Mas foi a estagnação de renda dos anos 70 que permitiu a
Ronald Reagan combinar políticas econômicas de livre mercado a conservadorismo cultural e em política externa para
deflagrar uma revolução republicana. Políticos democratas
como Bill Clinton se adaptaram, pondo fim aos programas
de bem-estar social automáticos do governo federal e declarando que a era do governo
grande havia chegado ao fim.
Com o colapso dos mercados,
o partido tradicionalmente
identificado com o governo
grande tem motivos para imaginar se houve uma virada decisiva nos sentimentos do público. "Estamos contemplando
um novo ponto de inflexão?
Talvez sim", escreveu Michael
Barone, historiador e analista
político, na "National Review".
Os republicanos da Câmara
se recusam a aceitar a mudança, já que na semana passada
votaram por maioria de dois a
um contra um plano de resgate
proposto pelo secretário do Tesouro de um governo de seu
partido. O medo de conseqüências políticas negativas influenciou a decisão: 18 dos 21 republicanos que correm o risco de
perder seus postos na disputa
por uma reeleição em novembro votaram contra o pacote.
O mesmo se aplica à coerência filosófica dos republicanos,
a ponto de gerar preocupação
entre alguns líderes do partido.
"Em um momento de crise, os
norte-americanos querem ação
decidida", disse o deputado
Tom Cole, de Oklahoma, presidente do comitê de campanha
do Partido Republicano na Câmara. E na primeira votação, de
rejeição ao pacote de resgate,
diz, o partido não conseguiu demonstrar decisão aos eleitores.
Os democratas descreveram
sua disposição maior de apoiar
o pedido do presidente Bush
como um "primeiro passo" em
abandonar o apego ao laissez-faire. Eles planejam conquistar
apoio entre eleitorados de classe mais alta, que podem recentemente ter sentido um distanciamento das políticas sociais
defendidas pelos republicanos.
Os democratas agem para
"solucionar problemas", disse o
deputado Chris Van Hollen, de
Maryland, que preside o comitê
de campanha dos democratas
na Câmara. A "ideologia" dos
republicanos "é que nos colocou nessa enrascada, e a mesma
ideologia torna mais difícil escapar a ela", afirmou.
Os resultados das recentes
pesquisas animaram os democratas. A vantagem de Obama
sobre McCain vem superando
as margens de erro em todas
elas, e algumas pesquisas mostram Obama na liderança em
Estados que vêm votando em
conservadores, como Flórida,
Novo México e Ohio.
Ataques
A campanha de McCain reagiu à desvantagem reforçando
os ataques quanto aos antecedentes de Obama; a companheira de chapa de McCain, Sarah Palin, afirmou que o relacionamento do democrata com Bill Ayers, que foi membro do
movimento guerrilheiro Weather Underground, significa
"amizade com terroristas".
Obama respondeu criticando
McCain como "errático" no
curso da crise financeira e como "radical" ao defender uma
abordagem de mercado para a
saúde, semelhante à proposta
por Bush.
Os estrategistas de ambos os
partidos vêem efeitos semelhantes nas disputas legislativas. Os democratas anteriormente consideravam que elevar em dez assentos sua contagem atual de 235 era otimista;
agora são os republicanos que
calculam que uma perda de dez
assentos será um sucesso.
E eles tampouco temem a
derrota de McCain. A postura
independente do candidato há
muito causa desconfiança entre os republicanos mais convencionais. A oposição a um
presidente do outro partido pode ajudar minorias legislativas
a reorganizar sua agenda.
"Eles estão resignados diante
da provável vitória de Obama",
disse Jim Brulte, republicano
da Califórnia. Os republicanos,
ele acrescenta, "compreendem
que isso é uma necessidade a
fim de preparar o cenário de
forma que nos permita reconquistar a maioria".
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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