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ANÁLISE
Justiça sela má semana do premiê
GUY DINMORE
DO "FINANCIAL TIMES"
Silvio Berlusconi declarou,
de forma tipicamente desafiadora, que continuará lutando, a
despeito de ter sido privado de
sua imunidade contra processos. Mas a perspectiva de uma
longa batalha contra o Judiciário italiano dificultará a atuação de seu governo e alimentará as manobras de bastidores
dos que aspiram a sucedê-lo.
Ao denunciar a decisão do
tribunal constitucional como
"política" e como resultado da
ação dos esquerdistas, o governo de direita do premiê italiano
agravou ainda mais a situação,
por, na prática, ter declarado
guerra ao Judiciário. Berlusconi, 73, fez repetidas acusações
de que os tribunais estão armando para derrubá-lo.
Sua perda de imunidade coroa uma má semana na qual um
tribunal de Milão ordenou que
seu império de mídia Fininvest
pague 750 milhões em indenização por ter subornado um
juiz nos anos 90. A decisão
também determinou que Berlusconi era "corresponsável"
pelo suborno, ainda que um caso criminal separado contra ele
tenha sido abandonado.
Antes mesmo dessa notícia
financeira potencialmente prejudicial, contra a qual a Fininvest pretende apelar, os escândalos sexuais em que Berlusconi está envolvido atingiram
uma audiência mais ampla
quando Patrizia D'Addario
concedeu sua primeira entrevista em uma rede pública de
televisão e rejeitou as alegações de Berlusconi de que ele
não sabia que ela era prostituta
quando os dois passaram a noite juntos em sua casa na Sardenha em 2008.
"A batalha política vai se tornar mais e mais acalorada", disse Giovanni Orsina, professor
de estudos políticos na Universidade Luiss, em Roma. "A decisão judicial significa que uma
vez mais Silvio Berlusconi sofreu uma forte derrota. O impacto [sobre Berlusconi] será
pesado, mas ele não tem a obrigação de renunciar", acrescentou Orsina, apontando que
"milhões de italianos" concordarão em que ele é vítima de
perseguição pelos magistrados.
"Berlusconi continuará a governar, mas tudo que aconteceu terminou por enfraquecê-lo. Seus pensamentos estarão
em outro lugar, e sua imagem
está desgastada, especialmente
no exterior. Tudo isso resultará
em ações mais frágeis pelo governo", disse o professor.
Ainda que a decisão -que
Berlusconi é um cidadão comum, e todo cidadão é igual perante a lei- abra caminho para
a retomada de dois processos
em que ele é acusado de corrupção em Milão, o premiê não
enfrenta perspectivas de condenação imediata, se é que poderá um dia ser condenado, e
talvez não precise nem mesmo
se defender no tribunal.
Mas, como argumentou o governo ao defender a lei de imunidade aprovada pelo Legislativo em 2008, o premiê não poderia se dedicar plenamente a
administrar um país que enfrenta o segundo ano de recessão e crescente desemprego.
Diplomatas italianos e estrangeiros afirmam que a posição dele ante a comunidade internacional sofrerá ainda
maior erosão, no momento em
que a Itália tenta fazer com que
suas opiniões sobre temas como Afeganistão e Líbano, países nos quais há contingentes
substanciais de forças de paz
italianas, sejam respeitadas.
Alguns dos partidários de
Berlusconi apelaram pela convocação de eleições antecipadas, que as pesquisas de opinião pública indicam poderiam
ser vencidas pelo premiê, apesar de todos os seus problemas.
Esses partidários afirmam que
a oposição de centro-esquerda
não está em condição de travar
uma campanha eleitoral, devido a suas disputas internas.
Mas, ao descartar eleição antecipada, Berlusconi também
dá mais tempo a potenciais sucessores. Gianfranco Fini, líder
da Aliança Nacional, uma organização de origem neofascista
que está na base governista, está processando um jornal da família Berlusconi por difamação
e se envolveu em um conflito
com outros governistas em temas como imigração.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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