São Paulo, quinta-feira, 08 de outubro de 2009

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ANÁLISE

Justiça sela má semana do premiê

GUY DINMORE
DO "FINANCIAL TIMES"

Silvio Berlusconi declarou, de forma tipicamente desafiadora, que continuará lutando, a despeito de ter sido privado de sua imunidade contra processos. Mas a perspectiva de uma longa batalha contra o Judiciário italiano dificultará a atuação de seu governo e alimentará as manobras de bastidores dos que aspiram a sucedê-lo. Ao denunciar a decisão do tribunal constitucional como "política" e como resultado da ação dos esquerdistas, o governo de direita do premiê italiano agravou ainda mais a situação, por, na prática, ter declarado guerra ao Judiciário. Berlusconi, 73, fez repetidas acusações de que os tribunais estão armando para derrubá-lo.
Sua perda de imunidade coroa uma má semana na qual um tribunal de Milão ordenou que seu império de mídia Fininvest pague 750 milhões em indenização por ter subornado um juiz nos anos 90. A decisão também determinou que Berlusconi era "corresponsável" pelo suborno, ainda que um caso criminal separado contra ele tenha sido abandonado.
Antes mesmo dessa notícia financeira potencialmente prejudicial, contra a qual a Fininvest pretende apelar, os escândalos sexuais em que Berlusconi está envolvido atingiram uma audiência mais ampla quando Patrizia D'Addario concedeu sua primeira entrevista em uma rede pública de televisão e rejeitou as alegações de Berlusconi de que ele não sabia que ela era prostituta quando os dois passaram a noite juntos em sua casa na Sardenha em 2008.
"A batalha política vai se tornar mais e mais acalorada", disse Giovanni Orsina, professor de estudos políticos na Universidade Luiss, em Roma. "A decisão judicial significa que uma vez mais Silvio Berlusconi sofreu uma forte derrota. O impacto [sobre Berlusconi] será pesado, mas ele não tem a obrigação de renunciar", acrescentou Orsina, apontando que "milhões de italianos" concordarão em que ele é vítima de perseguição pelos magistrados.
"Berlusconi continuará a governar, mas tudo que aconteceu terminou por enfraquecê-lo. Seus pensamentos estarão em outro lugar, e sua imagem está desgastada, especialmente no exterior. Tudo isso resultará em ações mais frágeis pelo governo", disse o professor. Ainda que a decisão -que Berlusconi é um cidadão comum, e todo cidadão é igual perante a lei- abra caminho para a retomada de dois processos em que ele é acusado de corrupção em Milão, o premiê não enfrenta perspectivas de condenação imediata, se é que poderá um dia ser condenado, e talvez não precise nem mesmo se defender no tribunal.
Mas, como argumentou o governo ao defender a lei de imunidade aprovada pelo Legislativo em 2008, o premiê não poderia se dedicar plenamente a administrar um país que enfrenta o segundo ano de recessão e crescente desemprego. Diplomatas italianos e estrangeiros afirmam que a posição dele ante a comunidade internacional sofrerá ainda maior erosão, no momento em que a Itália tenta fazer com que suas opiniões sobre temas como Afeganistão e Líbano, países nos quais há contingentes substanciais de forças de paz italianas, sejam respeitadas.
Alguns dos partidários de Berlusconi apelaram pela convocação de eleições antecipadas, que as pesquisas de opinião pública indicam poderiam ser vencidas pelo premiê, apesar de todos os seus problemas. Esses partidários afirmam que a oposição de centro-esquerda não está em condição de travar uma campanha eleitoral, devido a suas disputas internas. Mas, ao descartar eleição antecipada, Berlusconi também dá mais tempo a potenciais sucessores. Gianfranco Fini, líder da Aliança Nacional, uma organização de origem neofascista que está na base governista, está processando um jornal da família Berlusconi por difamação e se envolveu em um conflito com outros governistas em temas como imigração.

Tradução de PAULO MIGLIACCI



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