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ARTIGO
Eleito deve atender moderados
Um governo Obama deveria se estender além da base democrata tradicional e ouvir a todos
DAVID BROOKS
DO "NEW YORK TIMES"
EU TENHO sonhos. Posso dar a impressão de
ser um analista enfadonho cujas fantasias mais exóticas envolvem relatórios do Escritório de Responsabilidade
Fiscal do Governo, mas, lá no
fundo, eu tenho sonhos. E, neste momento, estou sonhando
com a Presidência bem-sucedida de que este país precisa.
Um governo liderado por Barack Obama, mas que se estenda para além da base democrata normal e atenda aos interesses dos eleitores moderados,
dos eleitores suburbanos, dos
eleitores rurais e até de quem
votou no outro candidato.
A administração de meus sonhos entende onde o país se encontra hoje. Seus integrantes
sabem que, como disse Andrew
Kohut, do Centro de Pesquisas
Pew, "esta foi uma eleição em
que o centro se afirmou". Não
houve "sinal algum" de um
"movimento para a esquerda".
Assim, os membros do governo Obama dos meus sonhos
compreendem que não podem
impor um programa ideológico
que o país não aceite. Novos
presidentes em 1932 e 1964 podiam pressupor um nível básico de confiança no governo.
Mas hoje, como observa Bill
Galston, do Brookings Institution, o novo presidente terá de
construir essa confiança deliberadamente, passo a passo.
Pós-partidarismo
Entrar na Casa Branca de
Obama de meus sonhos será
como entrar na Fundação Gates. As pessoas que estarão ali
serão declaradamente pragmáticas, agindo a partir de informações concretas. Elas vão sair
à caça de boas idéias, como se
fossem investidores. E não terão fé em burocratas. Em lugar
disso, usarão aquela linguagem
das redes descentralizadas, das
reformas feitas de baixo para
cima e das inovações que podem ser graduadas.
Elas vão acreditar realmente
nas coisas que Obama fala sobre política pós-partidária. Isso
quer dizer que não haverá apenas alguns republicanos mais
liberais ocupando cargos marginais, apenas para fazer figura.
Haverá gente como Robert Gates na Defesa e como Ray LaHood, Stuart Butler, Diane Ravitch, Douglas Holtz-Eakin e
Jim Talent ocupando outros
cargos importantes.
O governo Obama de meus
sonhos vai fazer questão de que
os democratas no Congresso
reinstaurem as comissões de
conferência bipartidárias. Eles
convidarão líderes republicanos à Casa Branca para reuniões de verdade e os convidarão de novo, mesmo que os republicanos dêem entrevistas
coletivas de imprensa hostis na
entrada da Casa Branca.
Eles farão coisas com as
quais os conservadores discordarão, mas também mostrarão
que não são puxa-sacos dos
grupos de interesses liberais.
Eles farão questão do pagamento por mérito e de preservar os padrões de responsabilidade do "No Child Left Behind"
[nenhuma criança deixada para
trás, programa educacional de
Bush], não importa o que digam os sindicatos de professores. Eles adiarão disputas sobre
coisas como a legislação que
prevê o voto aberto dos empregados pela sindicalização.
Sobretudo, eles adotarão
ações significativas para lidar
com os problemas que o país
enfrenta sem provocar repúdio
maciço dos eleitores à direita.
Equilíbrio e reforma
Para isso, explicarão à população dos EUA que há dois estágios em seu pensamento de política doméstica: o estágio do
curto prazo e o do longo prazo.
A estratégia de curto prazo
terá duas metas: mitigar o sofrimento vindo da recessão e mudar a cultura de Washington. O
primeiro passo será completar
a rodada de pacotes de estímulo que certamente virá.
Em seguida, eles trabalharão
sobre duas idéias que já contam
com apoio bipartidário: a redução dos impostos sobre a classe
média e um pacote energético.
A crise econômica e energética
traz a oportunidade de se fazer
o que não foi feito sob circunstâncias semelhantes em 1974:
transformar o suprimento
energético deste país. Uma lei
abrangente -que abarque desde a perfuração de poços marítimos até tecnologias verdes-
estimularia a energia e fomentaria novas coalizões políticas.
Quando a recessão desse sinal de estar chegando ao auge,
então o governo de meus sonhos iniciaria a segunda fase. A
estratégia de longo prazo seria
voltada à restauração do equilíbrio fiscal e à reforma das instituições fundamentais.
Neste ponto, o déficit do Orçamento já estará passando de
US$ 1,5 trilhão por ano. Os EUA
começarão a pegar emprestado
rios de dinheiro do exterior. O
governo de meus sonhos mostrará que entende que o remédio para sanar uma cultura de
dívida não é contrair mais dívida. Ela tomará o partido daqueles que temem que déficits de
longo prazo possam levar a aumentos ruinosos nos juros.
O governo de meus sonhos
anunciará uma Iniciativa de
Reequilíbrio Orçamentário. Alguém como o deputado Jim
Cooper estudará o Orçamento
inteiro e extirpará dele os programas e os gastos com impostos que não funcionam.
Tendo construído relacionamentos bipartidários, demonstrado alguma firmeza fiscal,
tendo conduzido a economia
por tempos difíceis, o governo
dos meus sonhos então estará
em condições de empreender a
reforma da saúde, a reforma
tributária, a reforma do ensino
e uma iniciativa de infra-estrutura de longo prazo.
Essas reformas talvez precisem começar aos poucos, gastando pouco. Mas reformas
reais já serão cogitáveis, já que
a política, tal como a conhecemos, terá sido transformada.
Será que tudo isso não passa
de sonho? Espero que não. Seja
como for, me deixe ter meu momento de sonho em paz.
Tradução de CLARA ALLAIN
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