São Paulo, segunda-feira, 08 de novembro de 2010

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Russos inovam em ações de protesto

Contra repressão, sociedade tem usado novos modos de expressão, principalmente com organização on-line

Novos movimentos sociais surgem e país vive onda de luta por liberdade de expressão reforçada pela internet

MARINA DARMAROS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Com o surgimento de diversos movimentos sociais desde o último verão, a Rússia vive hoje uma onda de luta pela liberdade de expressão que pode ser comparada talvez apenas àquela do início da glasnost (transparência) e da perestroika (reestruturação econômica).
Mesmo sujeita a repressão, a sociedade civil tem encontrado modos de expressão por meio de inventivas ações de protesto.
Muitas dessas ações têm tido repercussão auxiliadas principalmente pela divulgação e organização on-line.
Uma delas é a "Estratégia 31" -protestos em todos os meses que vão até o dia 31 para reivindicar o exercício do artigo de mesmo número da Constituição russa. Esse é o artigo que dá ao cidadão a liberdade de agrupamento.
Numa ocorrência mais recente, uma "disputa de calendários" agitou o curso de jornalismo da Universidade Estatal de Moscou.
Uma turma de meninas resolveu presentear o premiê Vladimir Putin em seu aniversário com um calendário em que apareciam seminuas.
Mas uma segunda facção logo se formou e, aproveitando o barulho da mídia, fez uma versão on-line do calendário em que apareciam bem cobertas, com os lábios lacrados por fita crepe e fazendo perguntas provocativas ao premiê, como "Quem matou Anna Politkovskaya [jornalista assassinada em 2006]?".
"Meu julgamento é que a internet tem sua parte nisso. Por causa dela, hoje há mais russos a par das coisas", afirma Marvin Kalb, especialista em política euro-asiática da Universidade Havard.
"Creio que os líderes da Rússia estão, ou deveriam estar, preocupados sobre qual será o papel da internet em encorajar os russos a serem mais abertos, mais céticos e questionarem o governo mais abertamente", diz.

BALDES AZUIS
Entretanto, não é só na internet que a rebelião popular tem encontrado espaço. Outro movimento bastante popular é o dos "baldes azuis".
Nele, motoristas da capital vinham ridicularizado a supremacia dos burocratas russos que, munidos de luzes tipo giroflex azuis, têm garantidas mordomias no trânsito -como circular pela faixa reservada a ambulâncias, policiais ou autoridades.
Cidadãos comuns andavam colocando baldes azuis no teto e até pulando sobre os capôs dos carros beneficiados pelo giroflex para protestar contra as vantagens.
Analistas, porém, vêm diferenças entre as manifestações atuais e as da época das reformas lançadas por Mikhail Gorbatchov em 1985.
O observador Dmitri Gorenberg, do Centro Davis de Estudos Russos e Euro-asiáticos, lembra em seu blog que "um fator crucial que permitiu que o ativismo inicial da perestroika se tornasse algo mais foi a disposição das autoridades em possibilitar que ele se desenvolvesse e crescesse".
Segundo Gorenberg, os protestos atuais não ameaçam a hegemonia do poder instaurado, e o governo do presidente Dmitri Medvedev não teria motivos para se preocupar.


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