|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
Russos inovam em ações de protesto
Contra repressão, sociedade tem usado novos modos de expressão, principalmente com organização on-line
Novos movimentos sociais surgem e país vive onda de luta por liberdade de expressão reforçada pela internet
MARINA DARMAROS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Com o surgimento de diversos movimentos sociais
desde o último verão, a Rússia vive hoje uma onda de luta pela liberdade de expressão que pode ser comparada
talvez apenas àquela do início da glasnost (transparência) e da perestroika (reestruturação econômica).
Mesmo sujeita a repressão, a sociedade civil tem encontrado modos de expressão por meio de inventivas
ações de protesto.
Muitas dessas ações têm tido repercussão auxiliadas
principalmente pela divulgação e organização on-line.
Uma delas é a "Estratégia
31" -protestos em todos os
meses que vão até o dia 31 para reivindicar o exercício do
artigo de mesmo número da
Constituição russa. Esse é o
artigo que dá ao cidadão a liberdade de agrupamento.
Numa ocorrência mais recente, uma "disputa de calendários" agitou o curso de
jornalismo da Universidade
Estatal de Moscou.
Uma turma de meninas resolveu presentear o premiê
Vladimir Putin em seu aniversário com um calendário
em que apareciam seminuas.
Mas uma segunda facção
logo se formou e, aproveitando o barulho da mídia, fez
uma versão on-line do calendário em que apareciam bem
cobertas, com os lábios lacrados por fita crepe e fazendo
perguntas provocativas ao
premiê, como "Quem matou
Anna Politkovskaya [jornalista assassinada em 2006]?".
"Meu julgamento é que a
internet tem sua parte nisso.
Por causa dela, hoje há mais
russos a par das coisas", afirma Marvin Kalb, especialista
em política euro-asiática da
Universidade Havard.
"Creio que os líderes da
Rússia estão, ou deveriam estar, preocupados sobre qual
será o papel da internet em
encorajar os russos a serem
mais abertos, mais céticos e
questionarem o governo
mais abertamente", diz.
BALDES AZUIS
Entretanto, não é só na internet que a rebelião popular
tem encontrado espaço. Outro movimento bastante popular é o dos "baldes azuis".
Nele, motoristas da capital
vinham ridicularizado a supremacia dos burocratas russos que, munidos de luzes tipo giroflex azuis, têm garantidas mordomias no trânsito
-como circular pela faixa reservada a ambulâncias, policiais ou autoridades.
Cidadãos comuns andavam colocando baldes azuis
no teto e até pulando sobre
os capôs dos carros beneficiados pelo giroflex para protestar contra as vantagens.
Analistas, porém, vêm diferenças entre as manifestações atuais e as da época das
reformas lançadas por Mikhail Gorbatchov em 1985.
O observador Dmitri Gorenberg, do Centro Davis de
Estudos Russos e Euro-asiáticos, lembra em seu blog que
"um fator crucial que permitiu que o ativismo inicial da
perestroika se tornasse algo
mais foi a disposição das autoridades em possibilitar que
ele se desenvolvesse e crescesse".
Segundo Gorenberg, os
protestos atuais não ameaçam a hegemonia do poder
instaurado, e o governo do
presidente Dmitri Medvedev
não teria motivos para se
preocupar.
Texto Anterior: Na Espanha, papa critica leis de aborto e de divórcio Próximo Texto: Perseguições são ferramenta para controle da mídia Índice | Comunicar Erros
|