São Paulo, terça-feira, 08 de novembro de 2011

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Alta dos títulos da Itália gera rumor de saída de Berlusconi

Disparada de juros a nível recorde consolida percepção de que o país é visto como o novo alvo após a Grécia

Premiê nega boatos de que vá se demitir e enfrentará hoje uma votação no Parlamento crucial para sobreviver

Andreas Solaro - 23.dez.2010/AFP
O premiê italiano, Silvio Berlusconi

CAROLINA VILA-NOVA
EM BERLIM

A percepção dos mercados de que, após a Grécia, a Itália será a próxima vítima da crise do euro levou a uma disparada dos juros dos títulos do país e a boatos ontem de que o premiê Sílvio Berlusconi cairá em breve.
Berlusconi foi obrigado a responder de modo inusitado: atualizou seu status na rede social Facebook dizendo: "Os rumores de minha demissão são infundados".
Ele enfrentará uma votação orçamentária no Parlamento hoje, na qual pretende dar demonstração de força. Se perder, deve renunciar.
Algumas contagens informais indicavam ontem que ele havia perdido a maioria na Câmara baixa do Parlamento italiano, após uma série de defecções.
Mas outros relatos, segundo a mídia italiana, dizem que ele conseguiu cooptar parlamentares prestes a abandonar o barco oferecendo cargos de vice-ministros.
A Itália assusta a Europa por seu tamanho: responde por 17% do PIB do euro, contra apenas 2,5% da Grécia.
Ontem pela manhã, os títulos com vencimento em dez anos pagavam 6,66% de juros ao ano, os maiores desde 1997. Só ontem, os juros subiram quase 0,5 ponto.
As Bolsas europeias tiveram quedas, ainda que moderadas, ontem. A exceção, sintomaticamente, foi a de Milão, que subiu 1,32%, animada com a possível saída do impopular premiê.

NÚMERO MÁGICO
Na Europa, qualquer valor acima de 6% para títulos já vem sendo interpretado por investidores como zona de perigo, por tornar o custo dos empréstimos proibitivo e quase impossibilitar o refinanciamento da dívida pública.
O "número mágico" é 7%: nesse patamar, Portugal e Irlanda foram resgatados com pacotes de União Europeia e FMI. O BC da Itália diz que se segura até o nível de 8%.
A Itália sofre com maior intensidade os efeitos da crise grega porque, dentre as grandes economias europeias, é a que apresenta o maior endividamento -€ 1,9 trilhão, ou 121% do PIB do país.
Contribui para a instabilidade o fato de o governo Berlusconi estar em frangalhos: acusado de corrupção e envolvimento com prostituição de menores.
"A reação da Bolsa de Milão hoje [ontem] indica que a Itália tem um problema com Berlusconi, mais do que um problema fundamental. As ações dispararam com os boatos da renúncia iminente", escreveu ontem o jornal britânico "Financial Times".
Em cúpula do G20 na semana passada, o premiê teve de ceder às pressões e aceitar que o FMI monitore o andamento das reformas no país.
Ontem, a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, advertiu que, se o problema da dívida europeia não for resolvido, o mundo entrará numa "espiral de incerteza e colapso da demanda global".


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