São Paulo, domingo, 08 de dezembro de 2002

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PESQUISA

Sondagem em 44 países revela aumento do antiamericanismo no mundo

Cresce visão negativa sobre os EUA

ADAM CLYMER
DO "THE NEW YORK TIMES"

Embora os EUA continuem a ser bem-vistos na maioria dos países não-muçulmanos, as opiniões negativas sobre o país cresceram na maior parte dos países nos últimos dois anos, revelam sondagens de opinião pública conduzidas em 44 países.
As sondagens com 38 mil pessoas feitas pelo Centro Pew de Pesquisas com a População e a Imprensa indicam que, apesar de haver amplo consenso favorável à campanha contra o terrorismo liderada pelos EUA desde os ataques de 11 de setembro de 2001, ele é contrabalançado pela existência em muitos países de grandes minorias ou até mesmo de maiorias que consideram que a administração Bush ignora os interesses de seus países.
Ademais, outra pesquisa realizada no mês passado em quatro países -Reino Unido, França, Alemanha e Rússia- constatou que porcentagens substanciais de pessoas pensam que a razão principal pela qual os EUA podem travar uma guerra contra o Iraque é porque ""os EUA querem controlar o petróleo iraquiano".
Esse ponto de vista é defendido por 44% dos entrevistados britânicos, 54% dos alemães, 75% dos franceses e 76% dos russos. Pesquisa paralela feita nos EUA resultou em apenas 22% dos entrevistados concordando com a teoria da guerra por petróleo.
Embora não fosse possível fazer a sondagem em alguns países importantes, como a Arábia Saudita, nem tocar em temas delicados em outros, como a China, o conjunto das sondagens parece ter sido o maior esforço simultâneo jamais realizado para sondar a opinião pública mundial, disse Andrew Kohut, diretor do Pew Center.
""A lição mais importante a ser tirada é que, embora exista uma reserva de boa vontade em relação aos EUA, o país mais poderoso do mundo tem um número crescente de detratores", disse Kohut. Para ele, a realidade do pós-Guerra Fria é que ""os velhos amigos que precisam menos de nós também gostam menos de nós", especialmente na Europa, enquanto ""os russos passaram a ter uma opinião melhor de nós".
As opiniões favoráveis sobre os EUA diminuíram nos últimos dois anos de 83% para 75% no Reino Unido e de 78% para 61% na Alemanha, enquanto na Rússia subiram de 37% para 61%.
A campanha liderada pelos EUA contra o terrorismo é malvista pela maioria dos entrevistados em vários países de maioria muçulmana. As porcentagens contrárias a ela foram de 79% no Egito, 85% na Jordânia, 64% na Indonésia, 56% no Líbano, 64% no Senegal e 58% na Turquia. No Paquistão e no Bangladesh, menos da metade da população é contra a campanha (45% no Paquistão e 46% em Bangladesh).
Os únicos países não-muçulmanos estudados em que uma maioria da população se opõe à campanha contra o terrorismo foram a Argentina, cujas relações com os EUA estão abaladas devido à relutância do governo americano em ajudar o país a superar sua crise econômica, e a Coréia do Sul.
Na Europa, porém, pelo menos dois terços do público se mostraram favoráveis à campanha, e, no país centro-asiático e muçulmano Uzbequistão, onde a presença de tropas americanas ajuda a economia, 91% da população a apóia.
Os resultados na Turquia, cujas bases aéreas e portos o Pentágono quer usar numa guerra com o Iraque, foram considerados importantes por Kohut e pela ex-secretária de Estado Madeleine Albright, consultora do projeto.
Na Turquia, as opiniões favoráveis aos EUA caíram de 52% para 30% nos últimos dois anos. Apenas 30% dos entrevistados disseram apoiar a campanha contra o terrorismo, e 74% afirmaram que os EUA não deram atenção alguma ou deram pouca atenção aos interesses da Turquia quando formularam sua política.
Embora parte das entrevistas tenha sido feita pelo telefone, a maioria foi realizada pessoalmente. Na maioria dos países, a pesquisa foi feita com amostragens das populações nacionais, mas, em outras, ela foi feita apenas em zonas urbanas. As sondagens foram feitas entre julho e outubro. A margem de erro varia entre dois e quatro pontos percentuais para mais ou para menos.


Tradução de Clara Allain


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