São Paulo, sábado, 08 de dezembro de 2007

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La Paz divulga advertência militar à oposição

Chefe das Forças Armadas, em declaração à agência oficial, diz que oposicionistas levam país a "situações nada positivas"

Reação se seguiu a ataque a avião militar venezuelano, na quinta; governo divulga informações contraditórias sobre carga da aeronave

FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A LA PAZ

Os governos boliviano e venezuelano divulgaram informações contraditórias ontem sobre o objetivo da passagem do avião Hércules C-130 da Venezuela, na véspera, pela Bolívia. A aeronave militar partiu às pressas de Riberalta (norte), onde fazia escala técnica, sob pedradas de cerca de 200 oposicionistas, que acusam o governo venezuelano de armar milícias pró-La Paz.
O incidente levou o comandante das Forças Armadas da Bolívia, general Wilfredo Vargas, a fazer as primeiras declarações desde que a crise política no país se agravou, no final de novembro.
"Eles querem criar um outro ambiente, desinformar a população, e isso pode levar a situações nada positivas, que num futuro imediato podem ter conseqüências", disse Vargas, aludindo à ação opositora em Riberalta e mencionando o fato de a oposição "estar batendo à porta dos quartéis" contra o presidente Evo Morales.
"Esses senhores que estão nesse caminho devem reconsiderar, porque também no futuro podem ser responsáveis por qualquer situação que aconteça", afirmou, em declarações reproduzidas com destaque na agência oficial.
O Hércules-130 saiu de La Paz no final da manhã de anteontem e pararia em Riberalta, no departamento de Beni, para abastecer, segundo o governo. Integrantes do Comitê Cívico local -que faz oposição ao governo de Evo Morales- chegaram ao aeroporto para impedir o pouso. Lançaram pedras contra o avião, que logo levantou vôo.
O Hércules tentou ainda parar em Trinidad, capital de Beni, mas outro grupo anti-Morales estava no local. Então, a aeronave dirigiu-se a Rio Branco, no Acre (leia na página ao lado).
O governo Evo Morales culpou a oposição pelo ataque e acusou seus opositores de provocarem uma onda "de histeria xenófoba" contra o país do presidente Hugo Chávez.
"Não podemos cair num caráter xenófobo e histérico que é inflado de maneira muito irresponsável pela oposição a esse governo, especificamente pelo senhor [Jorge] "Tuto" Quiroga", afirmou o ministro do Interior, Alfredo Rada. Quiroga acusa freqüentemente o presidente de ser comandado por Chávez e estreou nestes dias propaganda na TV na qual cobra do governo independência de Caracas.
Num país mergulhado em uma crise política, o incidente dominou o noticiário ontem. Um integrante do Comitê Cívico de Riberalta afirmou que militares tiraram caixas de dentro da aeronave. O Comitê Cívico de Santa Cruz levantou a hipótese de que a aeronave transportasse "armamento pesado".
Autoridades do governo Morales e a Embaixada da Venezuela deram versões diferentes sobre a carga da aeronave, mas negaram a existência de armas.
Segundo o ministro da Presidência, Juan Ramón Quintana, "é possível" que o avião carregasse caixas porque o governo havia solicitado material de reposição para um dos helicópteros Lama emprestados pela Venezuela à Bolívia.
Já o adido de imprensa da embaixada da Venezuela em La Paz, Darwin Romero, afirmou que havia "material [antenas] para ajudar a comunicação rural na Bolívia". A versão de que o Hércules levava material de comunicação foi mencionada também pelo vice-chanceler boliviano, Hugo Fernández.
O vice-ministro de Segurança Cidadã, Marcos Farfán, e o presidente Morales afirmaram que o avião transportava militares venezuelanos que haviam terminado tarefa de recuperação das regiões afetadas por desastres naturais (uma enchente atingiu a Bolívia em fevereiro).
Os governadores dos departamentos de Beni (422 mil habitantes) e do vizinho Pando (72 mil) são a ala pobre da ferrenha oposição ao governo Morales. Há uma permanente mobilização nessas regiões agrícolas e extrativistas contra La Paz, com greves, passeatas e invasão de postos de recolhimento de impostos.


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