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La Paz divulga advertência militar à oposição
Chefe das Forças Armadas, em declaração à agência oficial, diz que oposicionistas levam país a "situações nada positivas"
Reação se seguiu a ataque a avião militar venezuelano, na quinta; governo divulga informações contraditórias
sobre carga da aeronave
FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A LA PAZ
Os governos boliviano e venezuelano divulgaram informações contraditórias ontem
sobre o objetivo da passagem
do avião Hércules C-130 da Venezuela, na véspera, pela Bolívia. A aeronave militar partiu às
pressas de Riberalta (norte),
onde fazia escala técnica, sob
pedradas de cerca de 200 oposicionistas, que acusam o governo venezuelano de armar
milícias pró-La Paz.
O incidente levou o comandante das Forças Armadas da
Bolívia, general Wilfredo Vargas, a fazer as primeiras declarações desde que a crise política no país se agravou, no final
de novembro.
"Eles querem criar um outro
ambiente, desinformar a população, e isso pode levar a situações nada positivas, que num
futuro imediato podem ter
conseqüências", disse Vargas,
aludindo à ação opositora em
Riberalta e mencionando o fato
de a oposição "estar batendo à
porta dos quartéis" contra o
presidente Evo Morales.
"Esses senhores que estão
nesse caminho devem reconsiderar, porque também no futuro podem ser responsáveis por
qualquer situação que aconteça", afirmou, em declarações
reproduzidas com destaque na
agência oficial.
O Hércules-130 saiu de La
Paz no final da manhã de anteontem e pararia em Riberalta, no departamento de Beni,
para abastecer, segundo o governo. Integrantes do Comitê
Cívico local -que faz oposição
ao governo de Evo Morales-
chegaram ao aeroporto para
impedir o pouso. Lançaram pedras contra o avião, que logo levantou vôo.
O Hércules tentou ainda parar em Trinidad, capital de Beni, mas outro grupo anti-Morales estava no local. Então, a aeronave dirigiu-se a Rio Branco,
no Acre (leia na página ao lado).
O governo Evo Morales culpou a oposição pelo ataque e
acusou seus opositores de provocarem uma onda "de histeria
xenófoba" contra o país do presidente Hugo Chávez.
"Não podemos cair num caráter xenófobo e histérico que é
inflado de maneira muito irresponsável pela oposição a esse
governo, especificamente pelo
senhor [Jorge] "Tuto" Quiroga",
afirmou o ministro do Interior,
Alfredo Rada. Quiroga acusa
freqüentemente o presidente
de ser comandado por Chávez e
estreou nestes dias propaganda
na TV na qual cobra do governo
independência de Caracas.
Num país mergulhado em
uma crise política, o incidente
dominou o noticiário ontem.
Um integrante do Comitê Cívico de Riberalta afirmou que militares tiraram caixas de dentro
da aeronave. O Comitê Cívico
de Santa Cruz levantou a hipótese de que a aeronave transportasse "armamento pesado".
Autoridades do governo Morales e a Embaixada da Venezuela deram versões diferentes
sobre a carga da aeronave, mas
negaram a existência de armas.
Segundo o ministro da Presidência, Juan Ramón Quintana,
"é possível" que o avião carregasse caixas porque o governo
havia solicitado material de reposição para um dos helicópteros Lama emprestados pela Venezuela à Bolívia.
Já o adido de imprensa da
embaixada da Venezuela em La
Paz, Darwin Romero, afirmou
que havia "material [antenas]
para ajudar a comunicação rural na Bolívia". A versão de que
o Hércules levava material de
comunicação foi mencionada
também pelo vice-chanceler
boliviano, Hugo Fernández.
O vice-ministro de Segurança Cidadã, Marcos Farfán, e o
presidente Morales afirmaram
que o avião transportava militares venezuelanos que haviam
terminado tarefa de recuperação das regiões afetadas por desastres naturais (uma enchente
atingiu a Bolívia em fevereiro).
Os governadores dos departamentos de Beni (422 mil habitantes) e do vizinho Pando
(72 mil) são a ala pobre da ferrenha oposição ao governo Morales. Há uma permanente mobilização nessas regiões agrícolas e extrativistas contra La
Paz, com greves, passeatas e invasão de postos de recolhimento de impostos.
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