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Doação ilegal a trabalhistas afeta Brown
Em mais um revés para o premiê britânico, seu partido admitiu ter recebido dinheiro à margem da lei
RAFAEL CARIELLO
DE LONDRES
O Partido Trabalhista do Reino Unido admitiu na semana
passada ter recebido doações
ilegais, que somam pelo menos
650 mil libras, por meio de laranjas de um empresário da
construção civil ligado à legenda. A admissão gerou investigações da polícia local e uma crise
definida pela revista "The Economist" como "potencialmente devastadora" para o primeiro-ministro Gordon Brown, líder do partido.
A legislação britânica sobre o
assunto proíbe explicitamente
a contribuição partidária por
meio de "agentes do doador",
sem que a origem dessas transações financeiras seja identificada. Os "agentes" -ou laranjas- usados pelo empresário
David Abrahams nessas operações desde pelo menos 2003 foram, entre outros, dois funcionários de suas empresas e a
mulher de um terceiro empregado. Abrahams alega que lançou mão do procedimento para
manter sua privacidade.
No ano passado, uma agência
governamental suspendeu
uma proibição anterior para a
construção de um centro comercial no nordeste da Inglaterra, projeto que é realizado
por uma das companhias do
empresário. O governo nega
que haja ligação.
O premiê Gordon Brown
afirmou que as doações usando
supostas brechas na lei eram
"inaceitáveis", abriu uma sindicância interna no partido e prometeu devolver o dinheiro. O
secretário-geral trabalhista renunciou e foi apontado por correligionários como o único integrante do partido a ter conhecimento das transações.
Acusações mútuas
O jornal "The Guardian", porém, publicou recentemente
uma reportagem afirmando
que membros do Partido Trabalhista ajudaram advogados
do empresário a configurar
meios para achar brechas na legislação e permitir as doações
indiretas. Segundo o diário britânico, o acerto foi feito na sede
do partido, em Londres.
Para o "Guardian", "detalhes
do pacto legal levantarão novos
questionamentos sobre quem
no Partido Trabalhista sabia o
que estava acontecendo".
As revelações geraram acusações mútuas entre os dois principais partidos do país. Os trabalhistas afirmam que o principal doador individual do Partido Conservador, o milionário
Lord Ashcroft, não esclarece a
sua situação fiscal, mantendo
dinheiro e pagando impostos
(mais baixos) fora do país.
David Cameron, líder dos
conservadores, disse que a única conclusão que se pode tirar
do recente escândalo de uso de
laranjas pelos trabalhistas é
que ou o partido é "extremamente disfuncional" ou mente.
O Partido Trabalhista enfrentou uma série de acusações
ligadas a doações financeiras
nos últimos anos. Na década de
90, o então primeiro-ministro
Tony Blair teve que se desculpar por uma doação de 1 milhão
de libras recebida pelo seu partido de Bernie Ecclestone, que
controla a Fórmula 1. A doação
foi descoberta após o governo
suspender o proibição de propaganda de cigarros no caso específico de grandes prêmios da
categoria. Os trabalhistas também foram recentemente acusados de indicar para a Câmara
dos Lordes grandes contribuintes financeiros do partido.
Brown prometeu no início da
semana trabalhar por novas reformas na Lei de Financiamento de Partidos no Reino Unido.
Disse que a atual legislação,
proposta e aprovada sob o governo Blair, é "inaceitável"
-embora proíba transações como a realizada por Abrahams.
"É triste e me deixa irritado
que esse tipo de coisa tenha
acontecido, mas penso que é
positivo que problemas como
esse apareçam para que se possa lidar com eles", afirmou.
Uma nova legislação deve ser
produzida em breve, disse
Brown, pedindo apoio de todos
os partidos à sua elaboração.
Revezes
O primeiro-ministro tem sofrido uma série de revezes políticos nos últimos meses. Ele foi
acusado de oportunismo ao
ameaçar lançar eleições antecipadas quando as pesquisas indicavam vantagem do seu partido -para em seguida ter que
recuar da idéia, ao ver o cenário
político virar a favor dos conservadores. Os reflexos internos da crise global dos mercados financeiros e o vazamento
recente de dados confidenciais
de 25 milhões de contribuintes
britânicos também contribuíram para o desgaste da imagem
de Brown.
"Sua reputação para a competência sofreu terrivelmente",
afirmou na semana passada a
"Economist". "Ele não pode se
dar ao luxo de perder também
sua reputação moral."
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