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Merkel tenta levar seu partido ao centro
Sob chanceler alemã e visando as urnas, novo programa da CDU mistura neoliberalismo a temas sociais
RENATE KRIEGER
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE BONN
A chanceler (premiê) alemã,
Angela Merkel, começou a segunda metade de seu mandato
ditando um novo rumo político
para seu partido, a União dos
Democratas Cristãos (CDU).
Durante o congresso nacional
da agremiação conservadora,
realizado no início da semana
em Hannover, ela reivindicou o
monopólio do centro: "Aqui é o
centro. E nós [a CDU] estamos
no centro -apenas nós".
Num discurso que parte da
imprensa alemã qualificou de
"o primeiro passo da CDU para
as eleições de 2009", Merkel
não deixou dúvidas sobre seu
poder político à frente do governo alemão. "Sua posição de
líder não corre riscos", disse à
Folha o biógrafo da chanceler,
Gerd Langguth. "Com 40% das
intenções de voto, a CDU está
numa posição confortável, especialmente porque a Alemanha atual valoriza o centro, e
não os extremos", avalia o professor, também autor da biografia do presidente da Alemanha, Horst Köhler.
O texto que saiu do congresso é o terceiro programa político da história da CDU e modernizou algumas linhas do último
documento, aprovado em 1994.
Mas o perfil da CDU não ficou
mais claro com o novo programa, diz o biógrafo, membro do
partido desde 1969. "A CDU
quer abraçar todas as correntes, para conquistar e manter o
maior número possível de eleitores", explica. Historicamente, a CDU sempre foi conhecida
pelo pragmatismo, em vez de
seguir uma ideologia, como os
social-democratas.
Mescla de sucesso
Segundo o autor, a estratégia
de mesclar políticas neoliberais
com temas sociais funciona. A
começar pelo momento econômico favorável na Alemanha.
"É o que o alemão médio quer.
Só partidos clientelistas conseguem ser precisos. Quem se
concentra num só tipo de eleitor consegue poucos votos", diz
Langguth, lembrando o novo
programa político do Partido
Social-Democrata alemão
(SPD), aprovado há um mês.
Buscando reconquistar o
eleitorado perdido para o partido radical de esquerda Die Linke (A Esquerda), os social-democratas se concentraram em
temas ligados ao "socialismo
democrático". A chanceler criticou o parceiro de coalizão:
"No centro reina a liberdade. O
socialismo democrático é uma
contradição em si. Socialismo
acaba em totalitarismo".
A CDU espera ocupar o centro deixado pelo SPD. O programa dos democratas-cristãos
alia temas tradicionais da social-democracia e do Partido
Verde a uma linha conservadora. A CDU quer continuar as reformas econômicas; na política
externa, sustenta uma parceria
privilegiada entre UE e Turquia, que não seria completamente integrada ao bloco.
Já a "pirataria ideológica" da
CDU começa com o clima, um
"tema verde". No novo texto, o
partido também moderniza as
políticas ligadas à família: quer
aumentar o apoio financeiro a
famílias com filhos (os pais não
precisam ser casados para receber o benefício).
Poder
Segundo Gerd Langguth, a
força política atual da CDU pode ser encontrada na própria
trajetória de Merkel, originária
da antiga Alemanha comunista.
"Não poderia haver melhor
imagem para traduzir uma Alemanha unificada", diz.
Já os críticos afirmam que
Merkel -assim como a CDU-
foge da responsabilidade de governo e está apenas interessada
em manter o poder. Numa pesquisa divulgada pela edição
online do semanário "Der Spiegel", muitos eleitores ainda
buscam sentir os efeitos da revitalização econômica. Votariam em Angela Merkel 54%
-em outubro, a chanceler tinha 59% das preferências.
Porém, se o que conta é o sucesso, Angela Merkel parece ter
bagagem, diz Langguth. Para
ele, as incertezas que a rodeavam em 2005, por vir da Alemanha Oriental, dissiparam-se. "Seus pais a educaram para
sempre ser melhor que os outros. Já que ela pode se aliar a
qualquer partido, menos à Linke [a CDU, originalmente, era
contra políticas radicais de esquerda], creio que ela ficará
bastante no poder. Talvez tanto
quanto seu mentor político,
Helmut Kohl [que ficou 16 anos
no poder]", estima o biógrafo.
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