São Paulo, sábado, 08 de dezembro de 2007

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Merkel tenta levar seu partido ao centro

Sob chanceler alemã e visando as urnas, novo programa da CDU mistura neoliberalismo a temas sociais

RENATE KRIEGER
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE BONN

A chanceler (premiê) alemã, Angela Merkel, começou a segunda metade de seu mandato ditando um novo rumo político para seu partido, a União dos Democratas Cristãos (CDU). Durante o congresso nacional da agremiação conservadora, realizado no início da semana em Hannover, ela reivindicou o monopólio do centro: "Aqui é o centro. E nós [a CDU] estamos no centro -apenas nós".
Num discurso que parte da imprensa alemã qualificou de "o primeiro passo da CDU para as eleições de 2009", Merkel não deixou dúvidas sobre seu poder político à frente do governo alemão. "Sua posição de líder não corre riscos", disse à Folha o biógrafo da chanceler, Gerd Langguth. "Com 40% das intenções de voto, a CDU está numa posição confortável, especialmente porque a Alemanha atual valoriza o centro, e não os extremos", avalia o professor, também autor da biografia do presidente da Alemanha, Horst Köhler.
O texto que saiu do congresso é o terceiro programa político da história da CDU e modernizou algumas linhas do último documento, aprovado em 1994. Mas o perfil da CDU não ficou mais claro com o novo programa, diz o biógrafo, membro do partido desde 1969. "A CDU quer abraçar todas as correntes, para conquistar e manter o maior número possível de eleitores", explica. Historicamente, a CDU sempre foi conhecida pelo pragmatismo, em vez de seguir uma ideologia, como os social-democratas.

Mescla de sucesso
Segundo o autor, a estratégia de mesclar políticas neoliberais com temas sociais funciona. A começar pelo momento econômico favorável na Alemanha. "É o que o alemão médio quer. Só partidos clientelistas conseguem ser precisos. Quem se concentra num só tipo de eleitor consegue poucos votos", diz Langguth, lembrando o novo programa político do Partido Social-Democrata alemão (SPD), aprovado há um mês.
Buscando reconquistar o eleitorado perdido para o partido radical de esquerda Die Linke (A Esquerda), os social-democratas se concentraram em temas ligados ao "socialismo democrático". A chanceler criticou o parceiro de coalizão: "No centro reina a liberdade. O socialismo democrático é uma contradição em si. Socialismo acaba em totalitarismo".
A CDU espera ocupar o centro deixado pelo SPD. O programa dos democratas-cristãos alia temas tradicionais da social-democracia e do Partido Verde a uma linha conservadora. A CDU quer continuar as reformas econômicas; na política externa, sustenta uma parceria privilegiada entre UE e Turquia, que não seria completamente integrada ao bloco.
Já a "pirataria ideológica" da CDU começa com o clima, um "tema verde". No novo texto, o partido também moderniza as políticas ligadas à família: quer aumentar o apoio financeiro a famílias com filhos (os pais não precisam ser casados para receber o benefício).

Poder
Segundo Gerd Langguth, a força política atual da CDU pode ser encontrada na própria trajetória de Merkel, originária da antiga Alemanha comunista. "Não poderia haver melhor imagem para traduzir uma Alemanha unificada", diz.
Já os críticos afirmam que Merkel -assim como a CDU- foge da responsabilidade de governo e está apenas interessada em manter o poder. Numa pesquisa divulgada pela edição online do semanário "Der Spiegel", muitos eleitores ainda buscam sentir os efeitos da revitalização econômica. Votariam em Angela Merkel 54% -em outubro, a chanceler tinha 59% das preferências.
Porém, se o que conta é o sucesso, Angela Merkel parece ter bagagem, diz Langguth. Para ele, as incertezas que a rodeavam em 2005, por vir da Alemanha Oriental, dissiparam-se. "Seus pais a educaram para sempre ser melhor que os outros. Já que ela pode se aliar a qualquer partido, menos à Linke [a CDU, originalmente, era contra políticas radicais de esquerda], creio que ela ficará bastante no poder. Talvez tanto quanto seu mentor político, Helmut Kohl [que ficou 16 anos no poder]", estima o biógrafo.


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