São Paulo, segunda-feira, 08 de dezembro de 2008

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Sul-coreano preza "centro" e evita polêmicas

DO ENVIADO A DOHA

Amante do golfe, Ban Ki-moon gosta de comparar seu estilo no campo de jogo e na arena diplomática. "Minhas bolas nunca vão muito para a direita ou para a esquerda", diz um sorridente Ban, já livre do paletó e da gravata, no avião que o leva de Londres a Doha. "Sou assim como secretário-geral. Sempre buscando o centro, o consenso."
Esse esforço, pelo que chama de "harmonização" das posições quase nunca convergentes dos 192 países da ONU, tem sido muitas vezes interpretado como ausência, e rendido críticas ao ex-chanceler sul-coreano desde que ele assumiu o cargo.
Para muitos, com seu desapreço pelos grandes gestos e o receio de provocar controvérsias, Ban é o homem errado para reabilitar a organização dos escombros em que o sistema multilateral foi lançado pela invasão americana do Iraque. Para seus assessores, Ban é um injustiçado, vítima da expectativa do Ocidente por uma exuberância que não condiz com o temperamento asiático.
O diplomata de 64 anos prefere não polemizar. Mas a reportagem da Folha pôde comprovar o incômodo que essas críticas lhe causam, e seu empenho para mostrar que a revolução para recolocar a ONU no centro das decisões pode ser silenciosa.
Por coincidência, as duas conversas que teve com a Folha, nos vôos de ida e volta à Conferência de Financiamento, no Qatar, ocorreram no espaço aéreo do Iraque, país que melhor simboliza os dilemas da organização. Agora, quando o que mais aflige o mundo não é mais a guerra, mas a crise financeira, Ban acha que a ONU pode experimentar um renascimento.
Mas ao dar maior ênfase a temas sociais, ambientais e do desenvolvimento, o secretário-geral tem sido freqüentemente considerado omisso em relação aos conflitos mundiais, como Sudão, Zimbábue e Geórgia. O jornal espanhol "El País" chamou-o de "o homem invisível".
Sem perder o humor, Ban não ignora as alfinetadas. Ao chegar ao hangar para o embarque rumo a Doha, comenta um artigo da revista britânica "Economist" que fala da invisibilidade da chanceler alemã, Angela Merkel, em meio à crise. "A sra. Merkel, imaginem, também está sendo chamada de invisível", diz Ban. "Acho que estou em boa companhia." (MN)


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