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Sul-coreano preza "centro" e evita polêmicas
DO ENVIADO A DOHA
Amante do golfe, Ban Ki-moon gosta de comparar seu
estilo no campo de jogo e na
arena diplomática. "Minhas
bolas nunca vão muito para a
direita ou para a esquerda",
diz um sorridente Ban, já livre do paletó e da gravata, no
avião que o leva de Londres a
Doha. "Sou assim como secretário-geral. Sempre buscando o centro, o consenso."
Esse esforço, pelo que chama de "harmonização" das
posições quase nunca convergentes dos 192 países da
ONU, tem sido muitas vezes
interpretado como ausência,
e rendido críticas ao ex-chanceler sul-coreano desde
que ele assumiu o cargo.
Para muitos, com seu desapreço pelos grandes gestos
e o receio de provocar controvérsias, Ban é o homem
errado para reabilitar a organização dos escombros em
que o sistema multilateral foi
lançado pela invasão americana do Iraque. Para seus assessores, Ban é um injustiçado, vítima da expectativa do
Ocidente por uma exuberância que não condiz com o
temperamento asiático.
O diplomata de 64 anos
prefere não polemizar. Mas a
reportagem da Folha pôde
comprovar o incômodo que
essas críticas lhe causam, e
seu empenho para mostrar
que a revolução para recolocar a ONU no centro das decisões pode ser silenciosa.
Por coincidência, as duas
conversas que teve com a
Folha, nos vôos de ida e volta
à Conferência de Financiamento, no Qatar, ocorreram
no espaço aéreo do Iraque,
país que melhor simboliza os
dilemas da organização. Agora, quando o que mais aflige o
mundo não é mais a guerra,
mas a crise financeira, Ban
acha que a ONU pode experimentar um renascimento.
Mas ao dar maior ênfase a
temas sociais, ambientais e
do desenvolvimento, o secretário-geral tem sido freqüentemente considerado omisso
em relação aos conflitos
mundiais, como Sudão, Zimbábue e Geórgia. O jornal espanhol "El País" chamou-o
de "o homem invisível".
Sem perder o humor, Ban
não ignora as alfinetadas. Ao
chegar ao hangar para o embarque rumo a Doha, comenta um artigo da revista britânica "Economist" que fala da
invisibilidade da chanceler
alemã, Angela Merkel, em
meio à crise. "A sra. Merkel,
imaginem, também está sendo chamada de invisível", diz
Ban. "Acho que estou em boa
companhia."
(MN)
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