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Chávez anuncia estatização de tele e energia
Propostas para o novo mandato incluem aumentar poderes presidenciais e maior controle sobre reservas petrolíferas
Presidente venezuelano diz
que medidas e reforma
constitucional põem
Venezuela na direção de
República Socialista
DA REPORTAGEM LOCAL
Às vésperas de começar um
novo mandato, o presidente da
Venezuela, Hugo Chávez,
anunciou ontem que estatizará
empresas de telecomunicações
e elétricas, e defendeu a reforma da Constituição para implantar na Venezuela o que tem
sido chamado de "socialismo
do século 21". Ele afirmou também que planeja aumentar o
controle estatal sobre projetos
petrolíferos na região da bacia
do rio Orinoco, onde a Petrobras e a estatal PDVSA identificaram, no ano passado, um
campo gigante de petróleo.
"Tudo o que foi privatizado,
deixe que seja nacionalizado",
disse Chávez, em discurso durante a posse do novo gabinete.
"Estamos nos movendo em
direção à República Socialista
da Venezuela, e isso requer um
profunda reforma da nossa
Constituição nacional", afirmou, repetindo uma promessa
de campanha. "Estamos em um
momento existencial da vida
venezuelana. Estamos rumando ao socialismo, e nada nem
ninguém pode impedi-lo."
Entre as reformas defendidas pelos governistas está a reeleição para presidente sem limite de mandatos. Chávez inicia amanhã o seu terceiro mandato, o segundo sob a Constituição de 2000, redigida por
uma Assembléia Constituinte
convocada por ele.
O presidente venezuelano
também anunciou que pedirá
em breve à Assembléia Nacional a aprovação de uma lei que
lhe dará poderes para implementar mudanças por decreto.
"Vamos pedir poderes especiais para um conjunto de leis
revolucionárias que devem ter
um impacto muito maior do
que a Lei Habilitante de 2001",
disse, referindo-se à legislação
que catalizou greves empresarias contra seu governo.
O Parlamento venezuelano é
totalmente controlado pelos
governistas por causa da decisão dos partidos da oposição de
boicotar as últimas eleições legislativas, em 2005.
Estatização
No seu discurso, Chávez foi
vago sobre as empresas que poderão ser estatizadas. Citou
apenas a Companhia Nacional
Teléfonos de Venezuela
(Cantv), principal companhia
de telefonia do país, privatizada
em 1991. A empresa domina a
telefonia fixa e a internet e disputa a telefonia celular com outras duas companhias.
"A nação deve recuperar a
propriedade sobre os meios estratégicos de soberania, segurança e defesa", afirmou ele.
Os ADRs (recibos de ações de
empresas estrangeiras negociados na Bolsa de Nova York)
da Cantv, a maior empresa de
capital aberto da Venezuela,
caíram 14,2% imediatamente
após as declarações. Entre os
acionistas da telefônica estão o
Deutsche Bank e a Brandes, firma de investimentos com sede
na Califórnia.
Em agosto, Chávez já havia
ameaçado nacionalizar a
Cantv, caso a empresa não ajustasse as pensões que paga ao nível do salário mínimo.
Os planos de Chávez também
devem afetar a empresa de distribuição Electricidad de Caracas, pertencente à companhia
americana AES, que no Brasil
comprou a Eletropaulo.
Petróleo
Chávez também disse que
projetos lucrativos na bacia do
rio Orinoco devem estar sob
controle estatal, mas não especificou se haverá uma nacionalização completa.
Ele disse que o período conhecido como "abertura do petróleo", anterior ao seu governo, deve ser revertido. "Estou
me referindo a como as companhias internacionais têm controle e poder sobre todos aqueles processos de melhoria do
óleo pesado da região do Orinoco. Aquilo deveria se tornar
propriedade da nação."
Desde o ano passado, o governo Chávez tem negociado
com empresas estrangeiras
quatro projetos de refino de
óleo pesado para a formação
das chamadas "empresas mistas", no qual o Estado tem o
controle acionário.
A Petrobras estuda investir
até US$ 10 bilhões, em parceria
com a PDVSA. Os projetos incluem certificação das reservas
de óleo e gás no Orinoco e têm
como contrapartida o investimento venezuelano na construção de uma refinaria em
Pernambuco.
Banco Central
Chávez, que tem entrado em
atrito com diretores do Banco
Central, que se opõem à pratica
do governo de buscar recursos
do Tesouro para incrementar
os gastos com programas sociais, também defendeu mudanças na instituição.
"O Banco Central não deve
ser autônomo, essa é uma idéia
neoliberal", afirmou.
Recentemente, Chávez, também divergiu do Banco Central
sobre o cálculo da inflação venezuelana, que chegou a 17%
no ano passado, a maior taxa da
região. Ele quer que sejam incluídos dados de lojas subsidiadas pelo Estado.
O ex-ministro das Finanças
Nelson Merentes se tornará
um diretor do Banco Central.
Com agências internacionais
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