São Paulo, quarta-feira, 09 de janeiro de 2008

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No Quênia, família Obama torce e espera que Barack medeie crise

Filho de pai queniano, democrata pediu a líder da oposição, da mesma tribo de sua família, que aceite diálogo com governo; não há acordo, apesar de pressão

Thomas Mukoya/Reuters
No vilarejo de Kogelo, avó de Barack Obama torce pelo sucesso do neto na corrida à Casa Branca


DA REDAÇÃO

As notícias de New Hampshire (EUA) chegam pelo rádio ao vilarejo queniano de Kogelo, onde os Obama, parentes paternos do senador e pré-candidato à Presidência americana, acompanharam atentamente o desempenho de Barack nas primárias -sem perder de vista a violência que tomou o país e o que, esperam, o familiar ilustre pode fazer para mediá-la.
"Maravilha!", comemorou o tio, Said Obama, ao ouvir os primeiros resultados. "Mas ainda é cedo para pular". A torcida dos parentes continuava, voto a voto, apesar do pouco contato. Os pais de Barack se separam quando ele era criança. Criado pela mãe e pelos avós maternos, americanos brancos, ele conheceu a família paterna e o Quênia nos anos 80, após a morte do pai em um acidente.
Isso não diminui o orgulho dos Obama. Said diz que o sobrinho "provou que há um sinal de esperança por aqui". Poupada da violência que tomou o país desde o anúncio da reeleição do presidente Mwai Kibaki, marcada por fraudes, Kogelo está cercado de vilarejos saqueados. A crise política incendiou rivalidades étnicas, numa onda de violência que já deixou pelo menos 500 mortos.
Em 2006, em visita ao Quênia, Obama criticou a corrupção da política tribal, em discurso transmitido pela TV. "Muita gente ouviu, mas o governo não gostou", diz o tio.
Na segunda-feira, o sobrinho ilustre engrossou o coro internacional por uma solução à crise queniana. De New Hampshire, Barack Obama telefonou para o líder oposicionista Raila Odinga -como ele, um luo-, para pedir que aceite dialogar com o governo. O democrata diz que pretende falar com Kibaki, que é de etnia kikuyu.
Por hora, Odinga não seguiu o conselho do primo -segundo o queniano, o pai de Obama é seu tio materno. Após a nomeação, ontem, do gabinete presidencial, que excluiu dos ministérios o Movimento Democrático Laranja, liderado por Odinga, ele afirmou que não participará do diálogo com o governo na sexta-feira.
O novo gabinete frustrou expectativas de uma ampla conciliação. Kibaki reservou os postos-chave para seus aliados e fez uma tímida aliança com Kalonzo Musyoka, que teve 9% dos votos nas eleições e foi nomeado vice-presidente.
Odinga critica ainda a exclusão de John Kufour, presidente de Gana e da União Africana, do encontro de Kibaki. Kufour chegou ontem a Nairóbi em missão de conciliação, mas não foi convidado para o diálogo. Sem mediação, diz Odinga, a reunião será "um showzinho".
Os conflitos ameaçam o frágil equilíbrio da África Oriental. Ontem, a ONU alertou que pode interromper a ajuda humanitária em partes do continente caso a crise persista.


Com agências internacionais


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