|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Morales ensaia acordo com governadores
Presidente boliviano propõe "revisar" temas de conflito em nova Carta e compensação financeira a regiões
DA REDAÇÃO
Em uma reunião que durou
quase 12 horas, o governo do
presidente boliviano Evo Morales propôs aos governadores
oposicionistas "revisar" temas
de conflito no texto da nova
Constituição do país e criar um
fundo para compensar os departamentos pelo corte de repasses aprovado por La Paz no
ano passado.
As duas propostas, ainda preliminares, fazem parte das "bases do diálogo" entre o governo
nacional e as regiões e vão ser
discutidas por uma comissão
técnica hoje em La Paz e ainda
em uma nova reunião entre
Morales e os governadores
-seis deles oposicionistas- na
próxima segunda.
O princípio de acordo é o primeiro passo de negociação entre o governo nacional e os oposicionistas em quase dois anos
de gestão de Morales, o que foi
comemorado, com cautela, por
analistas e políticos.
Ao contrário dos últimos dois
meses, de forte confronto verbal, o tom foi conciliador na
reunião que começou na segunda e foi até às 6h de ontem
na sede do governo em La Paz.
"Há de haver espírito desarmado, repetir o que fez Mandela na África do Sul, porque é
preciso perdão para construir
um país sem ódios", discursou
Rubén Costas, governador do
rico departamento de Santa
Cruz, bastião oposicionista.
"Chegamos a um princípio de
acordo com base em seis pontos", afirmou o ministro da Presidência, Juan Ramón Quintana, no final da reunião, parte
transmitida pela TV e parte a
portas fechadas.
A agenda inclui consenso na
defesa da unidade nacional e do
papel da Estado na economia,
mas os aspectos centrais são a
debate sobre o corte nos repasses às regiões, a revisão de temas na nova Carta e a discussão
da autonomia administrativa
dos departamentos.
Santa Cruz e mais três departamentos aclamaram unilateralmente seus estatutos autonômicos em dezembro, na fase
mais aguda da crise. Os governadores pretendem levar os
textos a referendo.
Recuo e novas frentes
O corte dos repasses era a demanda mais urgente dos governadores, que não aceitam perder parte do IDH (Imposto Direto sobre Hidrocarbonetos)
que recebem. Em novembro, o
governo aprovou projeto que
transfere 30% do recurso para
financiar um benefício a idosos.
Ministros repetiam, ainda
anteontem, que o corte não era
negociável. Ontem, Morales
propôs uma alternativa: compensar os departamentos com
a criação de um fundo.
A proposta deve percorrer
um caminho longo de negociação. "A reunião é um avanço,
uma vitória democrática. Mas
não podemos trocar um recurso garantido [o IDH] por um
fundo que o governo pode usar
para nos chantagear depois",
disse à Folha, Carlos Dabdoub,
secretário de Autonomia e Desenvolvimento de Santa Cruz.
La Paz também acenou com
a revisão de temas de "conflito"
no novo texto Constitucional,
numa tentativa de convencer a
oposição, que não o reconhece.
"Algumas contradições são
apontadas no texto. Portanto, é
imperioso fazer consultas para
ter uma Carta que reflita as demandas de todos os bolivianos", disse Quintana.
"Consideramos a Carta ilegal. É uma questão de princípios", insistiu ontem Dabdoub.
Ainda não está claro como
funcionará essa "revisão" do
texto. Após um questionado
processo de aprovação, a Constituinte entregou o texto final
da Carta ao Executivo em dezembro. Falta agora a realização de dois referendos para que
a Carta seja promulgada. O primeiro definirá o tamanho do
latifúndio e o outro ratificará
ou não o texto completo.
(FLÁVIA MARREIRO)
Com agências internacionais
Texto Anterior: Operação: Farc insistem que libertarão seqüestradas Próximo Texto: Frases Índice
|