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ONU pede cessar-fogo imediato em Gaza
Agência das Nações Unidas para palestinos acusa Israel de atacá-la e para de abastecer território; Cruz Vermelha reclama de falta de acesso
Israel diz que vai investigar incidente; organismo exige garantias de segurança para retomar ação humanitária no território em grave crise
Mohammed Abed/France Presse
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Palestino chora após a casa de seu fiho no campo de refugiados de Jabalia, no norte de faixa de Gaza, ser destruída por ataque israelense; bombardeios seguem
MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A SDEROT (ISRAEL)
Em meio às arrastadas tratativas diplomáticas para estabelecer um cessar-fogo, a pressão
internacional cresceu sobre Israel, no 13º dia de sua ofensiva
contra o grupo fundamentalista Hamas na faixa de Gaza.
A ONU decidiu suspender a
entrega de ajuda humanitária
aos palestinos de Gaza depois
de afirmar que o motorista de
um dos caminhões de suprimentos foi morto em um ataque israelense na área da fronteira. Já o Comitê International da Cruz Vermelha acusou
Israel de barrar ajuda aos feridos e de criar "cenas chocantes" de crise humanitária.
Pelo segundo dia consecutivo, Israel suspendeu os ataques
por três horas para permitir a
entrada e distribuição de ajuda
em Gaza. Também foi autorizada a saída de quase 300 pessoas
com passaporte estrangeiro
-não havia brasileiros no grupo, o segundo a deixar Gaza
desde o início da ofensiva.
De acordo com a UNRWA
(agência da ONU para os refugiados palestinos), o comboio
com ajuda humanitária foi
atingido por disparos israelenses por volta de 9h (5h de Brasília), quando três veículos da
única empresa autorizada a
operar na fronteira recolhiam
alimentos na passagem de
Erez. O motorista morto foi
identificado como um palestino de 32 anos.
Em entrevista à Folha, um
dos coordenadores da UNRWA
em Gaza, Chris Gunnes, disse
que esta não foi a primeira vez,
desde o início da operação militar, que veículos da ONU são
alvos de disparos israelenses.
Segundo ele, não há prazo para
o reinício da assistência a Gaza.
"Estamos em reuniões com
as autoridades israelenses e só
iremos retomar os trabalhos
quando recebermos garantias
de que esse tipo de ataque não
se repetirá", disse Gunnes, que
não quis entrar em detalhes sobre as exigências feitas a Israel.
Sob crescente pressão internacional em virtude do alto número de baixas civis na ofensiva a Gaza e da crise humanitária cada vez mais grave no território sitiado, Israel prometeu
investigar o incidente.
"Não temos provas de que o
motorista tenha sido morto
por fogo israelense", disse a
major Avital Leibovitch, porta-voz do Exército. "Mas ressalto
que consideramos o trabalho
das organizações humanitárias
em Gaza e em outras áreas hostis do mundo extremamente
importantes e buscamos ajudá-lo de toda forma possível."
John Ging, principal responsável pelas atividades humanitárias da ONU em Gaza, disse
que os veículos atingidos estavam claramente marcados com
símbolos da organização. "É totalmente inaceitável que o
comboio sofra ataques depois
de receber autorização de Israel", disse Ging.
Mais mortos
Enquanto isso, tanques israelenses continuaram se movimentando na faixa de Gaza, e
a aviação manteve os ataques a
alvos do Hamas. De acordo com
a agência de notícias Associated Press, durante o cessar-fogo de três horas, 35 corpos foram descobertos nos escombros de uma casa destruída. A
estimativa é que o total de mortos nos ataques israelenses a
Gaza, que hoje completam duas
semanas, supere 760. Segundo
contagem da ONU divulgada
ontem, 257 são crianças e adolescentes de até 17 anos.
Aumentando a pressão contra Israel, a Cruz Vermelha
afirmou ter testemunhado cenas "chocantes" durante o primeiro cessar-fogo, na quarta-feira. Entre elas a de crianças
enfraquecidas pela falta de alimentos ao lado dos corpos de
seus pais. Em um comunicado,
a organização criticou o Exército de Israel por ter "fracassado
em cumprir com suas obrigações sob a lei humanitária internacional de cuidar dos feridos e remover os mortos".
Há três dias, Israel já havia sido alvo de fortes críticas quando um ataque contra militantes
atingiu uma aglomeração próxima a uma escola da ONU em
Gaza, deixando pelo menos 43
civis mortos. O Exército israelense responsabilizou o Hamas,
acusando o grupo de usar o local para lançar ataques.
Diante de episódios como esse, Israel tem tentado reduzir o
drama humanitário crescente,
mas sem diminuir a pressão
militar contra o Hamas. Os estrangeiros que deixaram o território ontem relataram uma
situação de extrema e permanente insegurança.
"Nunca saíamos da igreja,
por medo de sermos atingidas
por ataques", contou à Folha a
irmã maltesa Davida, uma das
oito freiras que deixaram ontem a faixa de Gaza. Segundo
ela, contudo, não havia falta de
alimentos. "Os suprimentos estão chegando, o problema é a
distribuição dentro de Gaza."
No lado israelense, o Exército informou ontem sobre a
morte de seu oitavo soldado
desde o início da incursão. O
disparo de foguetes contra Israel continuou ontem, mas em
menor número -16, contra 70
no primeiro dia. Uma possível
indicação de que as ações contra o Hamas estão neutralizando o poder de fogo do grupo, o
principal objetivo da ofensiva.
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