São Paulo, sexta-feira, 09 de janeiro de 2009

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ONU pede cessar-fogo imediato em Gaza

Agência das Nações Unidas para palestinos acusa Israel de atacá-la e para de abastecer território; Cruz Vermelha reclama de falta de acesso

Israel diz que vai investigar incidente; organismo exige garantias de segurança para retomar ação humanitária no território em grave crise

Mohammed Abed/France Presse
Palestino chora após a casa de seu fiho no campo de refugiados de Jabalia, no norte de faixa de Gaza, ser destruída por ataque israelense; bombardeios seguem


MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A SDEROT (ISRAEL)

Em meio às arrastadas tratativas diplomáticas para estabelecer um cessar-fogo, a pressão internacional cresceu sobre Israel, no 13º dia de sua ofensiva contra o grupo fundamentalista Hamas na faixa de Gaza.
A ONU decidiu suspender a entrega de ajuda humanitária aos palestinos de Gaza depois de afirmar que o motorista de um dos caminhões de suprimentos foi morto em um ataque israelense na área da fronteira. Já o Comitê International da Cruz Vermelha acusou Israel de barrar ajuda aos feridos e de criar "cenas chocantes" de crise humanitária.
Pelo segundo dia consecutivo, Israel suspendeu os ataques por três horas para permitir a entrada e distribuição de ajuda em Gaza. Também foi autorizada a saída de quase 300 pessoas com passaporte estrangeiro -não havia brasileiros no grupo, o segundo a deixar Gaza desde o início da ofensiva.
De acordo com a UNRWA (agência da ONU para os refugiados palestinos), o comboio com ajuda humanitária foi atingido por disparos israelenses por volta de 9h (5h de Brasília), quando três veículos da única empresa autorizada a operar na fronteira recolhiam alimentos na passagem de Erez. O motorista morto foi identificado como um palestino de 32 anos.
Em entrevista à Folha, um dos coordenadores da UNRWA em Gaza, Chris Gunnes, disse que esta não foi a primeira vez, desde o início da operação militar, que veículos da ONU são alvos de disparos israelenses. Segundo ele, não há prazo para o reinício da assistência a Gaza.
"Estamos em reuniões com as autoridades israelenses e só iremos retomar os trabalhos quando recebermos garantias de que esse tipo de ataque não se repetirá", disse Gunnes, que não quis entrar em detalhes sobre as exigências feitas a Israel.
Sob crescente pressão internacional em virtude do alto número de baixas civis na ofensiva a Gaza e da crise humanitária cada vez mais grave no território sitiado, Israel prometeu investigar o incidente.
"Não temos provas de que o motorista tenha sido morto por fogo israelense", disse a major Avital Leibovitch, porta-voz do Exército. "Mas ressalto que consideramos o trabalho das organizações humanitárias em Gaza e em outras áreas hostis do mundo extremamente importantes e buscamos ajudá-lo de toda forma possível."
John Ging, principal responsável pelas atividades humanitárias da ONU em Gaza, disse que os veículos atingidos estavam claramente marcados com símbolos da organização. "É totalmente inaceitável que o comboio sofra ataques depois de receber autorização de Israel", disse Ging.

Mais mortos
Enquanto isso, tanques israelenses continuaram se movimentando na faixa de Gaza, e a aviação manteve os ataques a alvos do Hamas. De acordo com a agência de notícias Associated Press, durante o cessar-fogo de três horas, 35 corpos foram descobertos nos escombros de uma casa destruída. A estimativa é que o total de mortos nos ataques israelenses a Gaza, que hoje completam duas semanas, supere 760. Segundo contagem da ONU divulgada ontem, 257 são crianças e adolescentes de até 17 anos.
Aumentando a pressão contra Israel, a Cruz Vermelha afirmou ter testemunhado cenas "chocantes" durante o primeiro cessar-fogo, na quarta-feira. Entre elas a de crianças enfraquecidas pela falta de alimentos ao lado dos corpos de seus pais. Em um comunicado, a organização criticou o Exército de Israel por ter "fracassado em cumprir com suas obrigações sob a lei humanitária internacional de cuidar dos feridos e remover os mortos".
Há três dias, Israel já havia sido alvo de fortes críticas quando um ataque contra militantes atingiu uma aglomeração próxima a uma escola da ONU em Gaza, deixando pelo menos 43 civis mortos. O Exército israelense responsabilizou o Hamas, acusando o grupo de usar o local para lançar ataques.
Diante de episódios como esse, Israel tem tentado reduzir o drama humanitário crescente, mas sem diminuir a pressão militar contra o Hamas. Os estrangeiros que deixaram o território ontem relataram uma situação de extrema e permanente insegurança.
"Nunca saíamos da igreja, por medo de sermos atingidas por ataques", contou à Folha a irmã maltesa Davida, uma das oito freiras que deixaram ontem a faixa de Gaza. Segundo ela, contudo, não havia falta de alimentos. "Os suprimentos estão chegando, o problema é a distribuição dentro de Gaza."
No lado israelense, o Exército informou ontem sobre a morte de seu oitavo soldado desde o início da incursão. O disparo de foguetes contra Israel continuou ontem, mas em menor número -16, contra 70 no primeiro dia. Uma possível indicação de que as ações contra o Hamas estão neutralizando o poder de fogo do grupo, o principal objetivo da ofensiva.


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