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Mísseis do Líbano evocam 2ª frente
Projéteis deixaram dois feridos; Israel retaliou com disparos contra origem de lançamento
Nenhum grupo assumiu autoria; Israel e Hizbollah tentaram contemporizar, mostrando desinteresse mútuo em uma escalada
DO ENVIADO A SDEROT
Para muitos israelenses, o
pesadelo de uma segunda frente de guerra pareceu ter se tornado realidade na manhã de
ontem, quando três mísseis
disparados do Líbano atingiram a cidade de Naharia, no
norte do país. Um deles acertou
um asilo, deixando duas pessoas feridas.
O Exército israelense respondeu com cinco tiros de artilharia contra o sul do Líbano,
segundo um porta-voz militar.
Ele esclareceu que os disparos
foram "pontuais" e visaram o
local de onde foram lançados os
mísseis, do tipo Katiusha.
Com o sul de Israel mobilizado pela ofensiva contra o Hamas na faixa de Gaza, a repetição da guerra de 2006 contra o
grupo xiita libanês Hizbollah é
um risco lembrado a todo momento no norte do país nos últimos dias -abrigos antiaéreos
já estão sendo preparados. Ontem, porém, tanto Israel quanto o Hizbollah trataram de colocar panos quentes no incidente, impedindo que ele ganhasse ares de escalada.
Membro do Hizbollah, o ministro do Trabalho libanês, Mohamed Fneish, negou qualquer
envolvimento no lançamento
dos mísseis do grupo, que na
guerra de 2006 lançou mais de
4.000 mísseis contra cidades
israelenses. Fneish disse que
nem sequer sabia dos disparos
de ontem contra Israel.
Ninguém assumiu a autoria
dos ataques, mas a suspeita é
que por trás dos disparos esteja
a Frente Popular para a Libertação da Palestina-Comando
Geral, um grupo radical secular
com base na Síria, país que
apoia o Hizbollah. Nos últimos
dias, o grupo vinha ameaçando
abrir uma nova frente contra
Israel em resposta aos ataques
israelenses na faixa de Gaza.
Panos quentes
Embora tenha retaliado imediatamente os disparos, Israel
minimizou o ocorrido.
"Vemos esses disparos como
um evento isolado e que já era
esperado, de autoria de alguns
elementos palestinos no Líbano", disse à Folha Isaac Herzog, membro do gabinete de segurança de Israel. "Temos conhecimento de que a Unifil
(forças da ONU, na siga em inglês) e o governo libanês estão
tentando localizar a origem e
lidar com os responsáveis."
Israel encaminhou uma
queixa formal à ONU, afirmando que os disparos representam uma "flagrante violação"
da resolução 1.701 do Conselho
de Segurança da ONU, que pôs
fim a 34 dias de confrontos no
Líbano em 2006.
Pela resolução, as forças da
ONU e o governo do Líbano assumiriam a segurança do sul do
Líbano, onde seriam proibidas
atividades de grupos armados.
O primeiro-ministro libanês,
Fouad Siniora, condenou os
ataques de ontem, também
afirmando que eles são uma
violação do acordo de cessar-fogo de 2006, e prometeu investigar quem foram os autores. O ministro da Informação,
Tareq Mitri, um cristão, disse
não acreditar que o Hizbollah
tenha ligação com o ataque.
"O Hizbollah garantiu ao governo que continua comprometido com a estabilidade do
Líbano e que respeita a resolução 1.701", disse Mitri.
Desinteresse
Para analistas, o incidente de
ontem e a forma como foi tratado por Israel e os fundamentalistas do Hizbollah indicam um
entendimento tácito de que
não interesse a nenhum dos
dois lados uma escalada neste
momento. Nos últimos dias, o
líder do grupo xiita, Hassan
Nasrallah, tem condenado os
ataques israelenses contra o
Hamas, mas não pareceu disposto a ir além da retórica.
"Nasrallah está em uma posição extremamente complicada,
pois sofre uma dupla pressão:
por um lado, precisa mostrar
solidariedade aos palestinos.
Por outro, quer mostrar responsabilidade como líder de
um partido que faz parte da
coalizão de governo e que tem
sérias pretensões nas eleições
de junho", disse à Folha o analista Eitan Zisser, especialista
em Líbano da Universidade de
Tel Aviv.
Ao mesmo tempo, interessa
a Israel neste momento ignorar o fato de que dificilmente
um ataque lançado do sul do
Líbano seria possível sem a
anuência do Hizbollah, que
mesmo com a presença das tropas da ONU e do Exército libanês, é quem controla na prática
a região.
"Foi a forma que o Hizbollah
encontrou de participar da luta
contra Israel sem abrir uma
guerra aberta. Por enquanto,
parece ter funcionado", disse
Moshe Maoz, da Universidade
de Jerusalém.
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