São Paulo, sexta-feira, 09 de janeiro de 2009

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Mísseis do Líbano evocam 2ª frente

Projéteis deixaram dois feridos; Israel retaliou com disparos contra origem de lançamento

Nenhum grupo assumiu autoria; Israel e Hizbollah tentaram contemporizar, mostrando desinteresse mútuo em uma escalada

DO ENVIADO A SDEROT

Para muitos israelenses, o pesadelo de uma segunda frente de guerra pareceu ter se tornado realidade na manhã de ontem, quando três mísseis disparados do Líbano atingiram a cidade de Naharia, no norte do país. Um deles acertou um asilo, deixando duas pessoas feridas.
O Exército israelense respondeu com cinco tiros de artilharia contra o sul do Líbano, segundo um porta-voz militar. Ele esclareceu que os disparos foram "pontuais" e visaram o local de onde foram lançados os mísseis, do tipo Katiusha.
Com o sul de Israel mobilizado pela ofensiva contra o Hamas na faixa de Gaza, a repetição da guerra de 2006 contra o grupo xiita libanês Hizbollah é um risco lembrado a todo momento no norte do país nos últimos dias -abrigos antiaéreos já estão sendo preparados. Ontem, porém, tanto Israel quanto o Hizbollah trataram de colocar panos quentes no incidente, impedindo que ele ganhasse ares de escalada.
Membro do Hizbollah, o ministro do Trabalho libanês, Mohamed Fneish, negou qualquer envolvimento no lançamento dos mísseis do grupo, que na guerra de 2006 lançou mais de 4.000 mísseis contra cidades israelenses. Fneish disse que nem sequer sabia dos disparos de ontem contra Israel.
Ninguém assumiu a autoria dos ataques, mas a suspeita é que por trás dos disparos esteja a Frente Popular para a Libertação da Palestina-Comando Geral, um grupo radical secular com base na Síria, país que apoia o Hizbollah. Nos últimos dias, o grupo vinha ameaçando abrir uma nova frente contra Israel em resposta aos ataques israelenses na faixa de Gaza.

Panos quentes
Embora tenha retaliado imediatamente os disparos, Israel minimizou o ocorrido.
"Vemos esses disparos como um evento isolado e que já era esperado, de autoria de alguns elementos palestinos no Líbano", disse à Folha Isaac Herzog, membro do gabinete de segurança de Israel. "Temos conhecimento de que a Unifil (forças da ONU, na siga em inglês) e o governo libanês estão tentando localizar a origem e lidar com os responsáveis."
Israel encaminhou uma queixa formal à ONU, afirmando que os disparos representam uma "flagrante violação" da resolução 1.701 do Conselho de Segurança da ONU, que pôs fim a 34 dias de confrontos no Líbano em 2006.
Pela resolução, as forças da ONU e o governo do Líbano assumiriam a segurança do sul do Líbano, onde seriam proibidas atividades de grupos armados.
O primeiro-ministro libanês, Fouad Siniora, condenou os ataques de ontem, também afirmando que eles são uma violação do acordo de cessar-fogo de 2006, e prometeu investigar quem foram os autores. O ministro da Informação, Tareq Mitri, um cristão, disse não acreditar que o Hizbollah tenha ligação com o ataque.
"O Hizbollah garantiu ao governo que continua comprometido com a estabilidade do Líbano e que respeita a resolução 1.701", disse Mitri.

Desinteresse
Para analistas, o incidente de ontem e a forma como foi tratado por Israel e os fundamentalistas do Hizbollah indicam um entendimento tácito de que não interesse a nenhum dos dois lados uma escalada neste momento. Nos últimos dias, o líder do grupo xiita, Hassan Nasrallah, tem condenado os ataques israelenses contra o Hamas, mas não pareceu disposto a ir além da retórica.
"Nasrallah está em uma posição extremamente complicada, pois sofre uma dupla pressão: por um lado, precisa mostrar solidariedade aos palestinos. Por outro, quer mostrar responsabilidade como líder de um partido que faz parte da coalizão de governo e que tem sérias pretensões nas eleições de junho", disse à Folha o analista Eitan Zisser, especialista em Líbano da Universidade de Tel Aviv.
Ao mesmo tempo, interessa a Israel neste momento ignorar o fato de que dificilmente um ataque lançado do sul do Líbano seria possível sem a anuência do Hizbollah, que mesmo com a presença das tropas da ONU e do Exército libanês, é quem controla na prática a região.
"Foi a forma que o Hizbollah encontrou de participar da luta contra Israel sem abrir uma guerra aberta. Por enquanto, parece ter funcionado", disse Moshe Maoz, da Universidade de Jerusalém.


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