|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Reticente sobre guerra, Ehud Barak se beneficia dela
ETHAN BRONNER
DO "NEW YORK TIMES", EM JERUSALÉM
Há algumas semanas, o ministro da Defesa israelense,
Ehud Barak, era visto como alguém em fim de linha na política de seu país. Membros de seu
partido, o Trabalhista, conspiravam para substituí-lo após as
eleições de 10 de fevereiro, ou
mesmo antes. Sob sua liderança, o partido de David Ben-Gurion e Golda Meir caiu tão baixo nas pesquisas de opinião que
se aventava seriamente a possibilidade de ele desaparecer.
Duas semanas depois de iniciada a guerra que Barak lidera
contra o Hamas na faixa de Gaza, os números do Partido Trabalhista estão em ascensão nas
pesquisas. Barak é visto por toda parte, de casaco de couro e
óculos de sol, caminhando entre seus comandantes militares, falando de estratégia, calculando os próximos passos.
Mas há muita ironia nesta reviravolta. Embora Barak venha
se beneficiando da guerra, ele
se opôs a ela por muito mais
tempo que qualquer outro líder
do país e, desde que ela começou, está ansioso por um cessar-fogo. Muitos no exterior se
lembram de Barak como o premiê que, em 2000, foi mais longe que qualquer outro líder israelense nas ofertas de paz, para ver o acordo fracassar e explodir num levante palestino
violento que o tirou do poder.
Se a guerra atual continuar
por muito tempo e matar muitos jovens israelenses no campo de batalha, os ganhos do ministro podem sumir. Mas sua
cautela lhe valeu apoio renovado por parte da esquerda.
"Barak é muito cauteloso",
observou Isaac Herzog, ministro de Bem-Estar Social israelense e também membro do
Partido Trabalhista. "Ele é o
administrador sereno desta
campanha, mas quer esgotar as
opções diplomáticas."
A verdade é que o público
queria esta guerra mais que Barak. Várias pessoas que conhecem o ministro creem que, com
eleições a caminho, ele sentiu
que seria difícil esperar mais.
Furiosos e assustados depois
de milhares de projéteis terem
sido despejados contra o sul do
país ao longo de vários anos, os
israelenses ansiavam por um
guerreiro sionista tradicional
que reagisse e enviasse uma
mensagem intransigente ao
Hamas. Durante meses, Barak,
o candidato natural a cumprir
esse papel, se negou a fazê-lo.
Irã
Ele nunca levou o Hamas tão
a sério quanto outros, vendo-o
como desafio estratégico relativamente pequeno cuja escalada de foguetes e armas poderia
ser tolerada por algum tempo,
permitindo que enquanto isso
se enfrentassem problemas
maiores. "Seus olhos estão fixos no Irã", observou seu antigo chefe-de-gabinete Gilead
Sher. "O Hamas e o Hizbollah o
preocupam em grande medida
em relação ao Irã."
A maioria dos analistas diz
que, quer a vitória na eleição seja do Likud ou do Kadima, Barak poderá muito bem permanecer em seu cargo. O oposicionista Binyamin Netanyahu já
disse a outros políticos que, caso se torne o próximo premiê,
vai tentar incluir o Partido Trabalhista no governo, mantendo
Barak à frente da Defesa.
Ao mesmo tempo, partes da
esquerda israelense parecem
estar mais uma vez vendo Barak como o homem em quem
votar, precisamente pelo fato
de ele ter demonstrado cautela
em ir à guerra.
"Muitos veem Barak como o
Israel velho, aquele que venceu
a guerra de 1967 de maneira
brilhante e avassaladora, depois de hesitar por um mês",
disse Ari Shavit, do "Haaretz".
"Esse é seu jeito de atuar. Não
agir às pressas. Tentar evitar.
Mas, se você vai iniciar uma
guerra, vença-a. É exatamente
o contrário do que fez Ehud Olmert em 2006, que entrou às
pressas e perdeu."
Tradução de CLARA ALLAIN
Texto Anterior: Abbas: Hamas está dividido sobre fim de mandato de presidente da ANP Próximo Texto: EUA se abstêm em votação na ONU Índice
|