São Paulo, sexta-feira, 09 de janeiro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Reticente sobre guerra, Ehud Barak se beneficia dela

ETHAN BRONNER
DO "NEW YORK TIMES", EM JERUSALÉM

Há algumas semanas, o ministro da Defesa israelense, Ehud Barak, era visto como alguém em fim de linha na política de seu país. Membros de seu partido, o Trabalhista, conspiravam para substituí-lo após as eleições de 10 de fevereiro, ou mesmo antes. Sob sua liderança, o partido de David Ben-Gurion e Golda Meir caiu tão baixo nas pesquisas de opinião que se aventava seriamente a possibilidade de ele desaparecer.
Duas semanas depois de iniciada a guerra que Barak lidera contra o Hamas na faixa de Gaza, os números do Partido Trabalhista estão em ascensão nas pesquisas. Barak é visto por toda parte, de casaco de couro e óculos de sol, caminhando entre seus comandantes militares, falando de estratégia, calculando os próximos passos.
Mas há muita ironia nesta reviravolta. Embora Barak venha se beneficiando da guerra, ele se opôs a ela por muito mais tempo que qualquer outro líder do país e, desde que ela começou, está ansioso por um cessar-fogo. Muitos no exterior se lembram de Barak como o premiê que, em 2000, foi mais longe que qualquer outro líder israelense nas ofertas de paz, para ver o acordo fracassar e explodir num levante palestino violento que o tirou do poder.
Se a guerra atual continuar por muito tempo e matar muitos jovens israelenses no campo de batalha, os ganhos do ministro podem sumir. Mas sua cautela lhe valeu apoio renovado por parte da esquerda.
"Barak é muito cauteloso", observou Isaac Herzog, ministro de Bem-Estar Social israelense e também membro do Partido Trabalhista. "Ele é o administrador sereno desta campanha, mas quer esgotar as opções diplomáticas." A verdade é que o público queria esta guerra mais que Barak. Várias pessoas que conhecem o ministro creem que, com eleições a caminho, ele sentiu que seria difícil esperar mais.
Furiosos e assustados depois de milhares de projéteis terem sido despejados contra o sul do país ao longo de vários anos, os israelenses ansiavam por um guerreiro sionista tradicional que reagisse e enviasse uma mensagem intransigente ao Hamas. Durante meses, Barak, o candidato natural a cumprir esse papel, se negou a fazê-lo.

Irã
Ele nunca levou o Hamas tão a sério quanto outros, vendo-o como desafio estratégico relativamente pequeno cuja escalada de foguetes e armas poderia ser tolerada por algum tempo, permitindo que enquanto isso se enfrentassem problemas maiores. "Seus olhos estão fixos no Irã", observou seu antigo chefe-de-gabinete Gilead Sher. "O Hamas e o Hizbollah o preocupam em grande medida em relação ao Irã."
A maioria dos analistas diz que, quer a vitória na eleição seja do Likud ou do Kadima, Barak poderá muito bem permanecer em seu cargo. O oposicionista Binyamin Netanyahu já disse a outros políticos que, caso se torne o próximo premiê, vai tentar incluir o Partido Trabalhista no governo, mantendo Barak à frente da Defesa.
Ao mesmo tempo, partes da esquerda israelense parecem estar mais uma vez vendo Barak como o homem em quem votar, precisamente pelo fato de ele ter demonstrado cautela em ir à guerra.
"Muitos veem Barak como o Israel velho, aquele que venceu a guerra de 1967 de maneira brilhante e avassaladora, depois de hesitar por um mês", disse Ari Shavit, do "Haaretz".
"Esse é seu jeito de atuar. Não agir às pressas. Tentar evitar.
Mas, se você vai iniciar uma guerra, vença-a. É exatamente o contrário do que fez Ehud Olmert em 2006, que entrou às pressas e perdeu."


Tradução de CLARA ALLAIN


Texto Anterior: Abbas: Hamas está dividido sobre fim de mandato de presidente da ANP
Próximo Texto: EUA se abstêm em votação na ONU
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.