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SUCESSÃO NOS EUA/ DISPUTA EMBOLADA
Com Bill, Hillary tenta ganhar votos no Sul
Eleitores de Nova Orleans participam de primeiras primárias pós-furacão Katrina e fazem de Obama o democrata favorito
Washington, Nebraska e Kansas também promovem hoje prévias para escolher os candidatos à Presidência na eleição em 4 novembro
SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A NOVA ORLEANS
(LOUISIANA)
Minutos antes de Bill Clinton
assumir o púlpito da histórica
capela negra Lawless na manhã
de ontem, na Universidade Dillard, em Nova Orleans, assessores do ex-presidente convocavam jornalistas postados no
fundo da igreja a ocupar as fileiras da frente. É que, apesar de
ampla divulgação nos meios de
comunicação locais, um terço
do local permanecia vazio.
O contraste era evidente.
Menos de 24 horas antes, Barack Obama, que briga pela indicação democrata com a mulher de Clinton, Hillary, pôs
3.500 pessoas no ginásio principal da Universidade Tulane,
na mesma cidade. Cerca de 300
pessoas tiveram de voltar para
casa por falta de lugar. Na manhã de ontem, esse era aproximadamente o número de espectadores do ex-presidente.
A ofensiva das duas campanhas acontece na véspera das
primárias de Louisiana, ao longo do dia de hoje. É a primeira
vez que a região participa do
processo eleitoral para a escolha de um presidente desde que
a catástrofe do furacão Katrina,
em 2005, colocou o Estado em
depressão econômica.
Do lado democrata, Obama é
o favorito, chegando a superar
Hillary -ligeiramente à frente
nas pesquisas nacionais- por
até dez pontos percentuais, segundo sondagens locais. Será
testada a capacidade do ex-presidente de conseguir atrair o
voto da comunidade negra para
a senadora: Bill Clinton venceu
nesse Estado nas eleições presidenciais de 1992 e 1996.
Fator melanina
Mas então não havia candidatos negros com chances reais
, e 35% dos 4,5 milhões de habitantes de Louisiana são negros.
Essa fatia da população foi a
mais atingida pelo descaso do
governo federal no pós-Katrina. Muitos ainda vivem em
trailers improvisados e malconservados nas partes pobres
da Grande Nova Orleans, esperando até hoje o dinheiro federal, perdido numa teia de burocracia e corrupção.
Daí o tema ter dominado o
discurso tanto de Obama quanto de Bill Clinton. "A catástrofe
do Katrina é uma metáfora do
governo George W. Bush", disse Obama. "Ninguém fora de
Louisiana fez mais pelas vítimas do Katrina do que a senadora Hillary Clinton", afirmou
o marido dela, após dizer que
sua lista de realizações nessa
área, preparada para ele por assessores, somava sete páginas.
O argumento era reforçado
por anúncios locais -na TV para a campanha de Obama, que
conta com mais dinheiro no Estado, nas rádios para a de Hillary, que disse que teve de emprestar US$ 5 milhões para sua
campanha. Um deles dizia: "Se
eleita, Hillary colocará uma
pessoa responsável pela reconstrução dos Estados do golfo [do México, que abarca Louisiana, Texas, Mississippi, Alabama e Flórida] que responderá diretamente a ela."
Bronzeado, mais magro do
que durante a Presidência, Bill
Clinton aos poucos vai conquistando a platéia, que começa a responder a seu argumento. Faz piadas -"É difícil deixar
a Presidência; quando eu saí,
por três semanas não entendia
por que as pessoas não tocavam
mais música ao eu entrar nos
lugares"-, conta casos e bate
na tecla da experiência.
"O outro candidato acha que
é preciso mudar todo o pessoal
e esquecer as lutas do passado",
diz Clinton, inflamado. "Ele diz
que os anos 90 foram um horror. Não sei o que vocês acham,
mas eu não concordo." A platéia é dividida igualmente entre
negros e brancos, e entre esses
há a predominância de senhoras, principal base de apoio de
Hillary e uma das maiores do
eleitorado nacional. É como se
os filhos tivessem ido ao evento
de Obama no dia anterior, e as
mães fossem ao de Hillary.
Clinton termina com o apelo:
"Espero que vocês façam por
ela amanhã [hoje] nas urnas o
que ela fez por vocês". Quase
convence Dewain Lee, 38, conselheira de carreiras na universidade. "Eu cheguei aqui de manhã decidida a votar em Obama", diz ela à Folha. Lee foi
uma das responsáveis pelo auxílio às vítimas do Katrina em
Dillard. "Agora, já não sei mais.
Ele me lembrou de vários fatos
de que eu havia me esquecido."
Em jogo em Louisiana estão
66 delegados do lado democrata e 47 do republicano. Dado o
índice negativo recorde do presidente Bush na região, o partido da situação virtualmente ignorou essa etapa. As pesquisas
apontam o ex-governador de
Arkansas e ex-pastor batista
Mike Huckabee à frente do senador John McCain, sobretudo
nas regiões rurais do norte,
com grande presença de evangélicos e ultraconservadores.
Hoje ainda o Estado de Washington, na costa oeste, faz seu
"caucus" (assembléia de eleitores), distribuindo 40 delegados
para os republicanos e 97 para
os democratas. No mesmo dia,
fazem "caucuses" Kansas (apenas republicanos, com 39 delegados) e Nebraska (só os democratas, com 31 delegados).
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