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Estudo destrói mito de que Geração Google é melhor no mundo virtual
Para pesquisador britânico, a sociedade como um todo está ficando mais burra
ANDREA MURTA
DA REDAÇÃO
Geração Google, Net Generation, Nativos Digitais -há muitos nomes para quem não se
lembra do mundo pré-internet.
Mas, apesar do sucesso do rótulo, a idéia de que a Geração
Google tem facilidades especiais para lidar com a informação virtual não passa de mito.
É o que afirma o estudo
"Comportamento Informativo
do Pesquisador do Futuro", liderado por Ian Rowlands, da
University College de Londres.
De acordo com ele, o uso da internet é superficial, promíscuo
e rápido, e respostas com pouca
credibilidade encontradas por
ferramentas de busca como
Google ou Yahoo prevalecem.
"Acadêmicos mais jovens
não estão usando conteúdo de
bibliotecas de uma maneira séria. Usam o Google, porque é
mais conveniente. Isso vai limitar seus horizonte de pesquisa", afirmou Rowlands à Folha,
por telefone, de Londres.
A pesquisa define como Geração Google os nascidos depois de 1993. Ela foi feita pela
revisão de estudos já publicados sobre mecanismos de busca e análise de informação, associando-os com dados sobre
como o público usa hoje sites
como o da Biblioteca Britânica.
Rowlands afirma que ficou
rapidamente claro que não é
possível generalizar as crenças
sobre habilidades da Geração
Google. Até a idéia de que jovens gastam mais tempo on-line do que os mais velhos foi relativizada.
Mas foram detectadas tendências preocupantes. "A sociedade está emburrecendo",
diz o estudo. "Passam os olhos
por títulos, índices e resumos
vorazmente, sem leitura real".
E o comportamento ultrapassa a barreira da idade. "Até
professores, que supostamente
teriam meios mais sofisticados
para buscar e analisar informações, mostram as mesmas tendências", afirma o pesquisador.
O estudo vê uma possível
ameaça às bibliotecas. "Meu
instituto gasta uns US$ 4 milhões por ano em publicações
acadêmicas, mas os alunos preferem ferramentas simplistas.
É frustrante", diz Rowlands.
Na era da enciclopédia
No Brasil, acadêmicos ouvidos pela Folha divergem sobre
as conclusões da pesquisa. Para
Renato Rocha Souza, do Departamento de Organização e
Tratamento da Informação da
Universidade Federal de Minas
Gerais, é mesmo problemática
a primazia do Google em atividades acadêmicas. "A arquitetura dessa ferramenta privilegia páginas mais citadas na internet, e essa relevância nem
sempre é real", diz.
Para ele, "alunos não sabem
distinguir um site de artigos
acadêmicos do "blogue do joãozinho'". "E não têm pudor em
citá-lo. Falta juízo de valor."
Contudo, ele não acha que a
tendência tenha surgido com a
internet. "Não era tão diferente
quando pesquisávamos nas enciclopédias. O que mudou foi a
oferta de informação", afirma.
Já Aldo Barreto, do Instituto
Brasileiro de Informação em
Ciência e Tecnologia, discorda
de Rowlands. "Nunca foi feita
tanta pesquisa e de tão boa
qualidade quanto atualmente,
graças à internet , afirmou à
Folha, do Rio de Janeiro.
Para Lawrence Shum, especialista em mídias digitais da
PUC de São Paulo, "a internet
tem problemas, mas está no caminho da auto-regulação".
E muitos vêem vantagens na
busca pelo Google. Segundo
Carlos Frederico D'Andrea,
coordenador do Laboratório de
Comunicação Digital do Centro Universitário UNA, em Belo
Horizonte, "a biblioteca dá a
ilusão de que o conhecimento
está todo ali e é inquestionável". "Na internet, o resultado é
sabidamente instável e não vai
ser usado cegamente. Mas é
preciso treino adequado."
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