São Paulo, segunda-feira, 09 de fevereiro de 2009

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Reação à direita mobiliza árabes israelenses

Minoria da população, grupo entrou no centro do debate político no país com ascensão de partido radical

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A NAZARÉ (ISRAEL)

Numa campanha sem eixo definido, em que a troca de acusações substituiu a polarização de outros anos em torno das futuras fronteiras do país, a eleição de amanhã em Israel acabou trazendo para o centro do debate político uma parcela da população que sempre se considerou marginalizada.
Não é exatamente uma boa notícia para os cidadãos árabes de Israel, que formam 20% da população do país. O que os colocou em evidência foi o maior fenômeno desta eleição, o partido de ultradireita Israel Beitenu (Israel Nossa Casa), acusado por muitos de racismo.
Com uma campanha baseada na desconfiança em relação aos árabes, o partido teve ascensão fulminante nas pesquisas e pode se tornar a terceira força política de Israel. Entre as propostas de seu líder, o controvertido Avigdor Liberman, está a aplicação de um "teste de lealdade" para a concessão de cidadania israelense e a transferência de cidades de maioria árabe para controle palestino.
Uma dessas cidades seria Um el-Fahm, no norte de Israel, cuja população de pouco mais de 40 mil habitantes ontem estava bem mais mobilizada do que em eleições passadas, com bandeiras, cartazes e ativistas nas ruas. Algo raro nas cidades judias de Israel, onde o marasmo marcou a campanha.
"É o efeito Liberman", diz Abed el Latif, coordenador do partido Hadash, diante de um enorme pôster de Che Guevara. O partido, que une a ideologia comunista à defesa da coexistência entre árabes e judeus, aposta na mobilização contra Liberman para sacudir a indiferença e aumentar sua representação atual, de três deputados no Parlamento.
Não é uma tarefa fácil. Desde a eleição do primeiro Parlamento, um ano depois da fundação de Israel, sempre houve deputados árabes (hoje são sete), mas muitos acham que eles nunca conseguiram melhorar a situação da minoria.
"Não vou votar", diz Walid, dono de um frigorífico em Um el Fahm, que o fez pela última vez em 1992, para apoiar o trabalhista Yitzhak Rabin. "Votar num Parlamento que não quer minha presença no país seria aceitar a humilhação."
Há poucas semanas, por iniciativa do partido de Liberman, a comissão eleitoral do Parlamento aprovou projeto para banir os partidos árabes da eleição. A decisão foi derrubada pela Suprema Corte, mas aumentou a amargura da minoria árabe de Israel, composta dos palestinos que ficaram dentro do país fundado em 1948.
A integração nunca foi satisfatória para nenhum dos lados. Os árabes reclamam que são discriminados, enquanto o Israel Beitenu e outros partidos da direita israelense os acusam de não ter os mesmos deveres, como servir no Exército.
"A cada ano damos mais um passo para trás na integração", lamenta Shadi Zbidad, ex-atacante do Bnei Sakhnin, que em 2004 se tornou o primeiro time de futebol árabe a conquistar a Copa de Israel.
Mas há algumas histórias de integração bem-sucedida. Bishara Saleh, árabe cristão de Nazaré, sente-se agradecido ao Estado, que pagou as despesas de uma cirurgia cardíaca que salvou sua vida e lhe dá uma pensão todo mês por invalidez.
Saleh está decidido: vai votar no Kadima, partido centrista da chanceler Tzipi Livni. "Sou israelense, e acho que ela é o melhor para o meu país."

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