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Reação à direita mobiliza árabes israelenses
Minoria da população, grupo entrou no centro do debate político no país com ascensão de partido radical
MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A NAZARÉ (ISRAEL)
Numa campanha sem eixo
definido, em que a troca de acusações substituiu a polarização
de outros anos em torno das futuras fronteiras do país, a eleição de amanhã em Israel acabou trazendo para o centro do
debate político uma parcela da
população que sempre se considerou marginalizada.
Não é exatamente uma boa
notícia para os cidadãos árabes
de Israel, que formam 20% da
população do país. O que os colocou em evidência foi o maior
fenômeno desta eleição, o partido de ultradireita Israel Beitenu (Israel Nossa Casa), acusado por muitos de racismo.
Com uma campanha baseada
na desconfiança em relação aos
árabes, o partido teve ascensão
fulminante nas pesquisas e pode se tornar a terceira força política de Israel. Entre as propostas de seu líder, o controvertido Avigdor Liberman, está
a aplicação de um "teste de lealdade" para a concessão de cidadania israelense e a transferência de cidades de maioria árabe
para controle palestino.
Uma dessas cidades seria Um
el-Fahm, no norte de Israel, cuja população de pouco mais de
40 mil habitantes ontem estava
bem mais mobilizada do que
em eleições passadas, com bandeiras, cartazes e ativistas nas
ruas. Algo raro nas cidades judias de Israel, onde o marasmo
marcou a campanha.
"É o efeito Liberman", diz
Abed el Latif, coordenador do
partido Hadash, diante de um
enorme pôster de Che Guevara.
O partido, que une a ideologia
comunista à defesa da coexistência entre árabes e judeus,
aposta na mobilização contra
Liberman para sacudir a indiferença e aumentar sua representação atual, de três deputados no Parlamento.
Não é uma tarefa fácil. Desde
a eleição do primeiro Parlamento, um ano depois da fundação de Israel, sempre houve
deputados árabes (hoje são sete), mas muitos acham que eles
nunca conseguiram melhorar a
situação da minoria.
"Não vou votar", diz Walid,
dono de um frigorífico em Um
el Fahm, que o fez pela última
vez em 1992, para apoiar o trabalhista Yitzhak Rabin. "Votar
num Parlamento que não quer
minha presença no país seria
aceitar a humilhação."
Há poucas semanas, por iniciativa do partido de Liberman,
a comissão eleitoral do Parlamento aprovou projeto para
banir os partidos árabes da eleição. A decisão foi derrubada pela Suprema Corte, mas aumentou a amargura da minoria árabe de Israel, composta dos palestinos que ficaram dentro do
país fundado em 1948.
A integração nunca foi satisfatória para nenhum dos lados.
Os árabes reclamam que são
discriminados, enquanto o Israel Beitenu e outros partidos
da direita israelense os acusam
de não ter os mesmos deveres,
como servir no Exército.
"A cada ano damos mais um
passo para trás na integração",
lamenta Shadi Zbidad, ex-atacante do Bnei Sakhnin, que em
2004 se tornou o primeiro time
de futebol árabe a conquistar a
Copa de Israel.
Mas há algumas histórias de
integração bem-sucedida. Bishara Saleh, árabe cristão de Nazaré, sente-se agradecido ao
Estado, que pagou as despesas
de uma cirurgia cardíaca que
salvou sua vida e lhe dá uma
pensão todo mês por invalidez.
Saleh está decidido: vai votar
no Kadima, partido centrista
da chanceler Tzipi Livni. "Sou
israelense, e acho que ela é o
melhor para o meu país."
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