São Paulo, terça-feira, 09 de fevereiro de 2010

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Potências decretam fim de diálogo nuclear com o Irã

Para EUA e França, não resta opção a não ser adotar novas sanções contra Teerã

Teerã oficializa decisão de aumentar para 20% o nível de enriquecimento de urânio e marca data para construção de 10 novas usinas nucleares

DA REDAÇÃO

Potências ocidentais deram ontem por encerradas as atuais negociações nucleares com o Irã e pediram novas e mais severas sanções contra Teerã.
O endurecimento ocidental, formulado por EUA e França, foi anunciado em represália à decisão do Irã, notificada ontem à ONU, de começar a enriquecer urânio a 20% a partir de hoje na central de Natanz.
Teerã também anunciou que começará a construir neste ano dez novas centrais nucleares -a construção já fora anunciada em novembro, mas sem data marcada. Há dúvidas sobre a capacidade técnica de o Irã alcançar essas metas.
"Não nos resta outra opção a não ser buscar novas medidas no Conselho de Segurança da ONU", disse o ministro da Defesa francês, Hervé Morin, após receber o colega americano, Robert Gates. "Estamos totalmente de acordo na avaliação de que a próxima etapa é uma ação da comunidade internacional", afirmou Gates. Um alto funcionário dos EUA disse que o Irã faz "provocação."
França e EUA pressionarão agora o Conselho de Segurança para impor novo lote de sanções econômicas e comerciais contra o Irã -já submetido a três ciclos de punições desde que dissidentes denunciaram uma parte oculta do programa nuclear de Teerã, em 2002.
A decisão contrariou até a Rússia, que geralmente se abstém de apoiar punições contra o aliado persa. Ontem, Moscou exigiu que Teerã cumpra suas obrigações nucleares. E um influente deputado ligado ao Kremlin disse que é hora de adotar "sanções econômicas mais severas" contra o Irã.
A China, no entanto, vem dando sinais de que usará seu poder de veto no CS para impedir que sejam adotadas novas sanções ao Irã, com quem mantém fortes relações comerciais.
A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) confirmou ter sido oficialmente informada pelo Irã sobre o plano, anunciado anteontem pelo presidente Mahmoud Ahmadinejad, de elevar o enriquecimento de urânio dos atuais 3,5% para 20% com o objetivo declarado de usar o material para abastecer um reator de Teerã usado para fins médicos.
Segundo Teerã, a decisão de enriquecer urânio por conta própria foi tomada depois que o Ocidente menosprezou a disposição de Teerã em aceitar um plano da AIEA para que os estoques iranianos fossem tratados em outro país e devolvidos sob forma de material enriquecido o suficiente para usos medicinais, mas não para fins militares. O Ocidente teme que o programa nuclear iraniano vise a construção de uma bomba, o que Teerã nega.
O Brasil, que vem estreitando seus laços com o Irã e foi até citado na semana passada como possível eixo do acordo nuclear, tentou minimizar os novos desdobramentos. O Itamaraty disse ontem que não estão esgotadas as possibilidades de um acordo com a AIEA e que nem os EUA nem o Irã fecharam a porta às negociações.


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