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Eleição ucraniana foi limpa, afirmam monitores europeus
Com 99,5% dos votos apurados, ex-líder deposto em 2004 liderava com 48,8% ante 45,6% de atual primeira-ministra
Candidata derrotada chega a ameaçar convocação de protestos contra resultado, mas, ante pressão para ceder, adia para hoje entrevista
LUCIANA COELHO
DE GENEBRA
Viktor Yanukovich, o homem que a Revolução Laranja
tirou da Presidência da Ucrânia
em 2004 sob a promessa de renovar as relações políticas, deve voltar ao poder sob a benção
das urnas e a frustração da população com a falta de mudanças. Com 99,47% dos votos da
eleição de domingo contados,
ele tinha 48,81% das preferências contra 45,61% para a atual
premiê, Yulia Tymoshenko.
Yanukovich declarou vitória.
Mas a margem estreita -um
terço da do primeiro turno-
fez sua rival ameaçar levar seus
simpatizantes às ruas para protestar contra supostas fraudes.
Depois, ante a pressão para ceder, ela acabou adiando para
hoje uma entrevista coletiva.
Os monitores da Organização para Segurança e Cooperação da Europa chancelaram o
pleito, citando apenas incidentes menores e isolados.
Embora Tymoshenko ainda
seja popular para mobilizar seguidores, seu carisma sofreu
desgaste nos anos de poder
com as constantes brigas com o
presidente Viktor Yushchenko,
seu ex-aliado na revolução.
O cabo de guerra abriu espaço para o retorno triunfal de
Yanukovich, cuja carreira política foi declarada morta em
2004. No início da madrugada,
agências de notícias descreviam a ansiedade de simpatizantes esperando a comissão
eleitoral declarar sua vitória.
Yanukovic venceu sem plataforma clara, grandes propostas
nem maiores nuances em relação a sua adversária. Apoiado
por Moscou no passado, abrandou o discurso e convergiu com
Tymoshenko, que por sua vez
desceu o tom pró-Ocidente e
adotou o pragmatismo na relação com a Rússia.
A economia dos dois países é
interdependente, sobretudo
por conta do gás russo exportado para a Europa via Ucrânia.
Sob o novo presidente, as relações serão mais próximas e
pragmáticas, embora Yanukovich não esteja no círculo de
aliados do Kremlin. O governo
se calou, mas a imprensa digital
russa ontem destacava mais
Tymoshenko do que seu rival.
Yanukovich, 59, nasceu em
família pobre e trabalhou como
mecânico até ascender na burocracia industrial ucraniana e
fazer fortuna. Jovem, chegou a
ser preso por roubo. Já presidente, se veria no centro de escândalos de corrupção envolvendo aliados próximos.
Mas, mesmo escorraçado do
poder, Yanukovich nunca perdeu sua base de apoio no leste
do país, onde nasceu.
Terá como maior desafio levantar o moral de uma população desencantada com a política e amenizar os efeitos de uma
retração de 14% da economia
durante a crise global, em um
país que precisa de uma reforma política para desfazer as
ambiguidades e a promiscuidade entre os Poderes.
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