São Paulo, terça-feira, 09 de fevereiro de 2010

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Eleição ucraniana foi limpa, afirmam monitores europeus

Com 99,5% dos votos apurados, ex-líder deposto em 2004 liderava com 48,8% ante 45,6% de atual primeira-ministra

Candidata derrotada chega a ameaçar convocação de protestos contra resultado, mas, ante pressão para ceder, adia para hoje entrevista

LUCIANA COELHO
DE GENEBRA

Viktor Yanukovich, o homem que a Revolução Laranja tirou da Presidência da Ucrânia em 2004 sob a promessa de renovar as relações políticas, deve voltar ao poder sob a benção das urnas e a frustração da população com a falta de mudanças. Com 99,47% dos votos da eleição de domingo contados, ele tinha 48,81% das preferências contra 45,61% para a atual premiê, Yulia Tymoshenko.
Yanukovich declarou vitória. Mas a margem estreita -um terço da do primeiro turno- fez sua rival ameaçar levar seus simpatizantes às ruas para protestar contra supostas fraudes. Depois, ante a pressão para ceder, ela acabou adiando para hoje uma entrevista coletiva.
Os monitores da Organização para Segurança e Cooperação da Europa chancelaram o pleito, citando apenas incidentes menores e isolados.
Embora Tymoshenko ainda seja popular para mobilizar seguidores, seu carisma sofreu desgaste nos anos de poder com as constantes brigas com o presidente Viktor Yushchenko, seu ex-aliado na revolução.
O cabo de guerra abriu espaço para o retorno triunfal de Yanukovich, cuja carreira política foi declarada morta em 2004. No início da madrugada, agências de notícias descreviam a ansiedade de simpatizantes esperando a comissão eleitoral declarar sua vitória.
Yanukovic venceu sem plataforma clara, grandes propostas nem maiores nuances em relação a sua adversária. Apoiado por Moscou no passado, abrandou o discurso e convergiu com Tymoshenko, que por sua vez desceu o tom pró-Ocidente e adotou o pragmatismo na relação com a Rússia.
A economia dos dois países é interdependente, sobretudo por conta do gás russo exportado para a Europa via Ucrânia. Sob o novo presidente, as relações serão mais próximas e pragmáticas, embora Yanukovich não esteja no círculo de aliados do Kremlin. O governo se calou, mas a imprensa digital russa ontem destacava mais Tymoshenko do que seu rival.
Yanukovich, 59, nasceu em família pobre e trabalhou como mecânico até ascender na burocracia industrial ucraniana e fazer fortuna. Jovem, chegou a ser preso por roubo. Já presidente, se veria no centro de escândalos de corrupção envolvendo aliados próximos.
Mas, mesmo escorraçado do poder, Yanukovich nunca perdeu sua base de apoio no leste do país, onde nasceu.
Terá como maior desafio levantar o moral de uma população desencantada com a política e amenizar os efeitos de uma retração de 14% da economia durante a crise global, em um país que precisa de uma reforma política para desfazer as ambiguidades e a promiscuidade entre os Poderes.


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