São Paulo, terça-feira, 09 de março de 2004

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Democracia vai levar tempo, diz consultor

LUCIANA COELHO
DA REDAÇÃO

Serão necessários anos e muito dinheiro para que o Iraque se torne uma verdadeira democracia, disse à Folha Noah Feldman, consultor constitucional do Conselho de Governo Iraquiano.
A ratificação da Constituição não foi recebida uniformemente. Em Kirkuk (norte), três pessoas morreram em choques entre curdos, que festejavam a Carta, e árabes, que contestavam os direitos dados aos primeiros. Além disso, a legitimidade do documento foi contestada pelo principal clérigo xiita do país, Ali al Sistani.
"As críticas [de Al Sistani] devem ser levadas a sério", disse Feldman, professor da Universidade de Nova York e autor de "Religião e Autoridade Política como Irmãos: a Constituição Islâmica e a Literatura Ética".
Leia a seguir a entrevista que ele concedeu à Folha por e-mail.
 

Folha - Há pontos na Carta, como o poder político feminino, que diferem da realidade iraquiana. Qual a chance de a sociedade absorvê-los?
Noah Feldman -
Só o tempo poderá dizer, mas o poder de voto é a chave para a igualdade feminina. Elas têm de votar, e suas opiniões têm de ser consideradas.

Folha - Quais as principais divergências na redação da Carta? Algo importante ficou de fora?
Feldman -
As áreas mais árduas foram a do federalismo e a da religião. Nos dois casos, os iraquianos acabaram cedendo, recuando um pouco ou aceitando menos do que queriam.

Folha - Até que ponto a opinião de Ali al Sistani será um problema?
Feldman -
Suas críticas devem ser levadas a sério, porque ele é influente. Mas ele não contestou a Constituição toda e, em todo caso, a negociação pode continuar.

Folha - Será possível dar hegemonia aos xiitas no governo e resguardar a representação das minorias?
Feldman -
Claro. Os xiitas são a maioria da população, mas as eleições regionalizadas permitirão que as minorias também tenham assentos [no governo].

Folha - Por que não houve decisão sobre o formato do governo interino? Quanto poder ele deve ter?
Feldman -
Não houve decisão porque não houve consenso. Eu acredito que os poderes desse governo interino devam ser limitados, e a prioridade é fazer as eleições diretas acontecerem.

Folha - Além de implementar a Constituição, o que precisa ser feito para transformar o Iraque em uma verdadeira democracia?
Feldman -
É preciso promover a sociedade civil e restabelecer a segurança. Isso levará muito tempo e consumirá muitos recursos.


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