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Democracia vai levar
tempo, diz consultor
LUCIANA COELHO
DA REDAÇÃO
Serão necessários anos e muito
dinheiro para que o Iraque se torne uma verdadeira democracia,
disse à Folha Noah Feldman, consultor constitucional do Conselho
de Governo Iraquiano.
A ratificação da Constituição
não foi recebida uniformemente.
Em Kirkuk (norte), três pessoas
morreram em choques entre curdos, que festejavam a Carta, e árabes, que contestavam os direitos
dados aos primeiros. Além disso,
a legitimidade do documento foi
contestada pelo principal clérigo
xiita do país, Ali al Sistani.
"As críticas [de Al Sistani] devem ser levadas a sério", disse
Feldman, professor da Universidade de Nova York e autor de
"Religião e Autoridade Política
como Irmãos: a Constituição Islâmica e a Literatura Ética".
Leia a seguir a entrevista que ele
concedeu à Folha por e-mail.
Folha - Há pontos na Carta, como
o poder político feminino, que diferem da realidade iraquiana. Qual a
chance de a sociedade absorvê-los?
Noah Feldman - Só o tempo poderá dizer, mas o poder de voto é
a chave para a igualdade feminina. Elas têm de votar, e suas opiniões têm de ser consideradas.
Folha - Quais as principais divergências na redação da Carta? Algo
importante ficou de fora?
Feldman -As áreas mais árduas
foram a do federalismo e a da religião. Nos dois casos, os iraquianos acabaram cedendo, recuando
um pouco ou aceitando menos do
que queriam.
Folha - Até que ponto a opinião
de Ali al Sistani será um problema?
Feldman - Suas críticas devem
ser levadas a sério, porque ele é influente. Mas ele não contestou a
Constituição toda e, em todo caso, a negociação pode continuar.
Folha - Será possível dar hegemonia aos xiitas no governo e resguardar a representação das minorias?
Feldman - Claro. Os xiitas são a
maioria da população, mas as
eleições regionalizadas permitirão que as minorias também tenham assentos [no governo].
Folha - Por que não houve decisão sobre o formato do governo interino? Quanto poder ele deve ter?
Feldman - Não houve decisão
porque não houve consenso. Eu
acredito que os poderes desse governo interino devam ser limitados, e a prioridade é fazer as eleições diretas acontecerem.
Folha - Além de implementar a
Constituição, o que precisa ser feito para transformar o Iraque em
uma verdadeira democracia?
Feldman - É preciso promover a
sociedade civil e restabelecer a segurança. Isso levará muito tempo
e consumirá muitos recursos.
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