|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
IGREJA
Papa João Paulo 2º indica pela primeira vez duas mulheres para fazerem parte de importante conselho de consultores
Vaticano abre suas portas para teólogas
TOM HENEGHAN
EDITOR DE RELIGIÃO DA REUTERS
Em silêncio, a Igreja Católica
deu um passo em direção à igualdade de direitos para as mulheres
ao nomear as duas primeiras teólogas a integrar a equipe de consultores do Vaticano. Apesar disso, a igreja negou que o fato de as
duas serem mulheres tenha pesado na decisão.
O papa João Paulo 2º, cuja defesa de um clero exclusivamente
masculino irrita muitas mulheres
católicas liberais, indicou no último fim de semana as duas teólogas para a Comissão Teológica Internacional, um influente conselho do Vaticano.
O jornal do Vaticano, "L'Osservatore Romano", publicou anteontem, sem nenhum comentário, a lista de novos membros, que inclui a irmã Sara Butler, da Universidade Santa Maria do Lago,
de Chicago (EUA), e Barbara Hallensleben, da Universidade de
Friburgo, da Suíça.
Questão de competência
"Elas não foram escolhidas porque são mulheres. Elas foram escolhidas por sua competência. É
bastante positivo e estou muito
feliz. As mulheres podem trazer
sua sensibilidade a certas questões em que os homens podem ter
um ponto de vista diferente", disse o cardeal Georges Cottier, teólogo do Vaticano e ex-presidente
da comissão.
Uma alta fonte do Vaticano disse que "uma barreira caiu", mas
acrescentou que não houve relação entre a data do anúncio com o
Dia Internacional das Mulheres
(ontem), já que o fato de serem
mulheres não foi levado em conta. Segundo a mesma fonte, isso
explica a falta de publicidade para
a notícia.
As indicações colocam Butler e
Hallensleben entre as mulheres
mais bem colocadas na hierarquia
da Igreja Católica. Os homens têm
todos os postos principais da Cúria Romana, a organização burocrática do Vaticano -embora
existam algumas mulheres em
cargos de nível inferior. Os postos
mais altos disponíveis às mulheres na igreja são os de superioras
das ordens religiosas femininas.
Durante todo o seu papado,
João Paulo 2º defendeu de forma
peremptória a tradição católica
na questão do papel feminino na
igreja, rejeitando a possibilidade
de mulheres exercerem a função
sacerdotal e declarando, em 1994,
que o assunto estava definitivamente encerrado.
Concílio Vaticano Segundo
Hallensleben, alemã que dá aulas de teologia dogmática em Friburgo, afirmou que as duas indicações são um caminho natural,
já que mais mulheres passaram a
se dedicar à teologia (o estudo da
natureza de Deus) depois que as
reformas introduzidas pelo Concílio Vaticano Segundo (1962-65)
abriram mais oportunidades de
trabalho para elas.
"Minha primeira reação não foi
a de que eu era uma das primeiras
mulheres indicadas, mas a de que
agora eu tenho uma nova responsabilidade relacionada com a vida
teológica da igreja. Isso mostra
que o concílio, não imediatamente, mas no prazo de algumas gerações, ainda rende frutos e dá à
igreja o impulso que foi planejado", disse Hallensleben.
Butler, teóloga que, no passado,
já defendeu a ordenação de mulheres, agora é firme defensora da
tradição de 2.000 anos da igreja de
ter apenas sacerdotes homens.
Diversas denominações protestantes já ordenaram mulheres como padres, sustentando que Jesus
Cristo nunca as barrou explicitamente do clero. O Vaticano, contudo, argumenta que não pode reverter uma tradição católica que
remonta aos 12 apóstolos.
Texto Anterior: Haiti: No exílio, Aristide pede "resistência pacífica" Próximo Texto: Panorâmica - Zimbábue: Avião com 64 mercenários é retido Índice
|