São Paulo, terça-feira, 09 de março de 2004

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IGREJA

Papa João Paulo 2º indica pela primeira vez duas mulheres para fazerem parte de importante conselho de consultores

Vaticano abre suas portas para teólogas

TOM HENEGHAN
EDITOR DE RELIGIÃO DA REUTERS

Em silêncio, a Igreja Católica deu um passo em direção à igualdade de direitos para as mulheres ao nomear as duas primeiras teólogas a integrar a equipe de consultores do Vaticano. Apesar disso, a igreja negou que o fato de as duas serem mulheres tenha pesado na decisão.
O papa João Paulo 2º, cuja defesa de um clero exclusivamente masculino irrita muitas mulheres católicas liberais, indicou no último fim de semana as duas teólogas para a Comissão Teológica Internacional, um influente conselho do Vaticano.
O jornal do Vaticano, "L'Osservatore Romano", publicou anteontem, sem nenhum comentário, a lista de novos membros, que inclui a irmã Sara Butler, da Universidade Santa Maria do Lago, de Chicago (EUA), e Barbara Hallensleben, da Universidade de Friburgo, da Suíça.

Questão de competência
"Elas não foram escolhidas porque são mulheres. Elas foram escolhidas por sua competência. É bastante positivo e estou muito feliz. As mulheres podem trazer sua sensibilidade a certas questões em que os homens podem ter um ponto de vista diferente", disse o cardeal Georges Cottier, teólogo do Vaticano e ex-presidente da comissão.
Uma alta fonte do Vaticano disse que "uma barreira caiu", mas acrescentou que não houve relação entre a data do anúncio com o Dia Internacional das Mulheres (ontem), já que o fato de serem mulheres não foi levado em conta. Segundo a mesma fonte, isso explica a falta de publicidade para a notícia.
As indicações colocam Butler e Hallensleben entre as mulheres mais bem colocadas na hierarquia da Igreja Católica. Os homens têm todos os postos principais da Cúria Romana, a organização burocrática do Vaticano -embora existam algumas mulheres em cargos de nível inferior. Os postos mais altos disponíveis às mulheres na igreja são os de superioras das ordens religiosas femininas.
Durante todo o seu papado, João Paulo 2º defendeu de forma peremptória a tradição católica na questão do papel feminino na igreja, rejeitando a possibilidade de mulheres exercerem a função sacerdotal e declarando, em 1994, que o assunto estava definitivamente encerrado.

Concílio Vaticano Segundo
Hallensleben, alemã que dá aulas de teologia dogmática em Friburgo, afirmou que as duas indicações são um caminho natural, já que mais mulheres passaram a se dedicar à teologia (o estudo da natureza de Deus) depois que as reformas introduzidas pelo Concílio Vaticano Segundo (1962-65) abriram mais oportunidades de trabalho para elas.
"Minha primeira reação não foi a de que eu era uma das primeiras mulheres indicadas, mas a de que agora eu tenho uma nova responsabilidade relacionada com a vida teológica da igreja. Isso mostra que o concílio, não imediatamente, mas no prazo de algumas gerações, ainda rende frutos e dá à igreja o impulso que foi planejado", disse Hallensleben.
Butler, teóloga que, no passado, já defendeu a ordenação de mulheres, agora é firme defensora da tradição de 2.000 anos da igreja de ter apenas sacerdotes homens.
Diversas denominações protestantes já ordenaram mulheres como padres, sustentando que Jesus Cristo nunca as barrou explicitamente do clero. O Vaticano, contudo, argumenta que não pode reverter uma tradição católica que remonta aos 12 apóstolos.


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