São Paulo, quinta-feira, 09 de março de 2006

Próximo Texto | Índice

"EIXO DO MAL"

Agência da ONU decide enviar regime islâmico ao Conselho de Segurança, por suspeita de buscar a bomba atômica

Irã ameaça os EUA com "prejuízo e dor"

Isna/Associated Press
Simpatizante leva foto de Ahmadinejad durante discurso do presidente iraniano em que ele defendeu o programa nuclear do país


DA REDAÇÃO

O Irã advertiu que poderá impor aos Estados Unidos "prejuízo e dor" caso a diplomacia americana obtenha no Conselho de Segurança da ONU medidas contra o seu programa nuclear.
A advertência exemplifica a esperada escalada verbal, depois que o Conselho de Governadores da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) decidiu, ontem em Viena, encaminhar ao CS sua desconfiança de que o regime islâmico possa estar empenhado na produção da bomba atômica.
"Se os Estados Unidos desejam escolher esse campo, que a bola comece a rolar", afirmou Ali Asghar Soltanieh, um dos negociadores iranianos em Viena.
Também disse que os americanos "têm poderes" para "provocar prejuízo e dor, mas também poderão sofrer prejuízo e dor".
O porta-voz da Casa Branca, Scott McClellan, respondendo à ameaça, afirmou que "declarações e ações provocadoras apenas acentuam o isolamento do Irã do resto do mundo".
Em tese, o Conselho de Segurança é a instância de decisão na qual a comunidade internacional pode adotar sanções. Seus integrantes começam a discutir o dossiê iraniano na próxima semana.
O subsecretário de Estado americano, Nicholas Burns, terceiro na hierarquia diplomática de seu país, afirmou que isso ocorrerá já na segunda ou na terça-feira.
Segundo a Reuters, o primeiro passo do CS será o de apelar para que o Irã interrompa a produção de combustível nuclear por meio do enriquecimento de urânio e aceite inspeções da AIEA, braço da ONU para a não-proliferação. Não haveria a fixação de um prazo ou a menção a punições.
Para manter sua população mobilizada, o regime islâmico tenta caracterizar a atual crise como o fruto exclusivo de uma manobra americana. Os dois países não têm relações desde 1979, quando os xiitas chegaram ao poder.
Os países envolvidos não demonstram um comportamento idêntico e coordenado.
Para os EUA, "chegou o momento de o CS agir, já que o Irã desafiou a AIEA", disse o embaixador Gregory Schulte, numa menção à resolução daquela agência, que em 4 de fevereiro exortou o país islâmico a cessar o enriquecimento de urânio.
Mas Alemanha, França e Reino Unido -o chamado EU-3, que negociou a questão nuclear com o Irã em nome da União Européia- insistiam ontem no fato de não se ter chegado "ao ponto final da diplomacia".
Por sua vez, o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, disse que seu governo se opõe à adoção de sanções, porque no passado elas raramente conseguiram atingir seus objetivos.
A Rússia é um dos cinco países com poder de veto no Conselho de Segurança. Outro país é a China, que, em termos ambíguos, também se manifesta contra o isolamento econômico do Irã, com o qual ela e a Rússia possuem contratos em programas de desenvolvimento e infra-estrutura.
O Irã nega que a construção da bomba atômica esteja em seus planos. Afirma que deseja controlar a tecnologia nuclear para produzir eletricidade. A AIEA, no entanto, constatou que por 18 anos os iranianos esconderam de seus inspetores instalações construídas com possível objetivo militar.
Indagado ontem se o Irã usaria contra seus adversários a arma do petróleo -o país é o quarto produtor mundial-, Javad Vaeedi, um dos dirigentes iranianos, respondeu de modo negativo. Mas fez uma ressalva: "Se a situação mudar, nós poderemos rever nossa política petrolífera".
O diretor-geral da AIEA, Mohamed El Baradei, pediu ontem para que as partes envolvidas "baixem o tom" de suas discussões.

Com agências internacionais

Próximo Texto: Análise: Diplomatas não acreditam em sanções econômicas
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.