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Especialistas veem no diálogo com Taleban meio de dividi-lo
Obama já abriu a porta para a possibilidade, que visaria membros dispostos a colaborar
Defendida por europeus, tática funcionou no Iraque e foi aplicada pelo governo do Paquistão, mas é vista com dúvida por alguns analistas
HELENE COOPER
DO "NEW YORK TIMES", EM WASHINGTON
Eis uma pergunta que certamente vai dividir os americanos: os EUA deveriam tentar
negociar com algumas das mesmas pessoas que deram abrigo
a Osama bin Laden antes dos
ataques do 11 de Setembro?
O presidente Barack Obama
está mandando 17 mil soldados
adicionais ao Afeganistão e encomendou uma revisão da estratégia política para o país,
além de encarregar um peso-pesado diplomático -Richard
Holbrooke, arquiteto dos acordos de Dayton- de tentar fazer
ali o que fez na Bósnia.
Mas uma questão central
paira sobre todas as revisões estratégicas sobre Afeganistão-Paquistão: qualquer conflito
que já tenha sido resolvido
sempre envolveu as várias partes interessadas em um acordo,
e o Afeganistão, reza a teoria,
não será exceção à regra.
"Está claro que é preciso uma
solução política no Afeganistão, e eu não excluiria nenhuma possibilidade, inclusive
conversar com setores do Taleban", disse Reuben Brigety, especialista em Afeganistão no
Center for American Progress.
Esse é um ponto sobre o qual
autoridades europeias, sobretudo britânicas, têm pressionado os americanos. Com o governo Bush, explicou um diplomata europeu, "havia um bloqueio
ideológico a qualquer tipo de
acordo com qualquer coisa que
pudesse ser chamada de Taleban". "Hoje o jogo mudou", diz.
De fato, na sexta, em entrevista ao "New York Times",
Obama abriu a porta à ideia de
abordar elementos do Taleban
se a revisão feita por seu governo assim indicar. Ele citou um
argumento do general David
Petraeus, chefe do Comando
Central americano no Oriente
Médio, segundo o qual "parte
do sucesso no Iraque incluiu
uma aproximação com pessoas
que consideraríamos fundamentalistas islâmicas, mas que
estavam dispostas a cooperar".
Obama acrescentou que "pode haver algumas oportunidades comparáveis na região do
Afeganistão e Paquistão, mas a
situação no Afeganistão é no
mínimo mais complexa".
Explorando divisões
Isso ainda o deixa a anos-luz
de iniciar um diálogo com o
mulá Mohammad Omar, que
era o líder do Taleban em 11 de
setembro de 2001, quando o
grupo governava o Afeganistão,
e que hoje é acusado de fomentar o conflito no país. E, mesmo
que os EUA decidissem negociar com membros do Taleban,
é mais que provável que estes
negociassem com autoridades
afegãs, e não diretamente com
os americanos.
Mas há uma crença crescente
de que é importante afastar do
grupo islâmico alguns de seus
membros inferiores, numa espécie de estratégia de dividir
para conquistar. O general Petraeus já disse que um elemento aplicável no Afeganistão é
uma aproximação com o que
ele descreve como "conciliáveis" entre os insurgentes, como comandantes distritais.
"Enquanto adotamos a posição de que são todos nossos inimigos, podemos estar perdendo uma oportunidade de explorar essas divisões", adverte a
ex-assessora do governo afegão
Clare Lockhart. "Há fissuras
que podem ser exploradas."
É esse, na realidade, o raciocínio que o governo do Paquistão usou para explicar seu acordo recente com líderes locais
do Taleban na região de Swat,
pelo qual figuras locais do Taleban podem dominar o vale.
Já para Daniel Markey, ex-especialista no sul da Ásia no
Departamento de Estado durante o governo Bush e hoje
membro sênior do Council on
Foreign Relations, as lições
aprendidas no Iraque -onde
foram recrutados milicianos
sunitas como aliados, negociando com líderes tribais-
não necessariamente se aplicam ao Afeganistão.
"A estrutura tribal afegã é diferente. Não há hierarquia clara. Se você fecha um acordo
com um sujeito, tem um acordo
com ele, não com seu clã todo."
Ele defende uma abordagem
cuidadosamente calibrada para
o país. "Você combate, você
conversa, você combate, você
conversa", afirma. "Se puder
dividir seus inimigos, conversando, converse. Mas se, ao
conversar, você estiver apenas
dando ao inimigo um momento
de alívio para recuperar o fôlego, então não converse."
Tradução de CLARA ALLAIN
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