São Paulo, segunda-feira, 09 de março de 2009

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Partido Comunista do Japão renasce com crise e jovens

Com discurso moderado, agremiação mais antiga do país chegou a 400 mil filiados em 2008

Desemprego e disparidade social alimentam interesse dos jovens pelo comunismo; versão em quadrinhos de "O Capital" vira best-seller


PHILIPPE PONS
DO "MONDE"

Diante de dificuldades crescentes, perda de empregos e da disparidade cada vez maior entre os formados e os demais, os jovens assalariados japoneses descobriram um dinossauro da política em seu país: o Partido Comunista do Japão (PCJ).
Depois de sofrer grande perda de membros, as adesões voltaram a subir no ano passado, e o número de filiados superou 400 mil. Um quarto dos 16 mil novos membros do PCJ são trabalhadores de menos de 30 anos e em situação precária.
As intervenções incisivas do secretário-geral da agremiação, Kazuo Shii, nos debates parlamentares valeram dezenas de milhares de visitas ao site dos comunistas e novas assinaturas para seu jornal, o "Akahata".
Não se trata de um indicador que preveja avanço estrondoso do PCJ nas próximas eleições legislativas (hoje o partido detém 9 dos 480 assentos da Câmara Baixa e 7 dos 242 do Senado japonês), mas ainda assim constitui evolução notável para a imagem de um partido que parecia pertencer a outra era.
E não é só entre os jovens que o PCJ ganha atenção. Em um país onde continua a ser comum um trabalhador ocultar sua afiliação comunista, Shii recentemente foi recebido por líderes empresariais e acolheu na sede do partido, em Tóquio, um dirigente da Toyota.
"Não nos opomos aos grandes grupos industriais, desde que eles assumam suas responsabilidades sociais. As empresas e assalariados têm um destino comum", disse Shii à imprensa estrangeira em Tóquio. "O capitalismo japonês não tem regras, e a mais cruel expressão dessa carência é a deterioração dos assalariados para uma situação precária."
Com as reformas neoliberais, 34% da população ativa trabalha hoje com contratos de duração determinada, afirmou Shii. Adotando a linguagem moderada de um social-democrata clássico, ele só citou Karl Marx uma vez, para citar seu "profundo respeito" aos EUA, ainda que ressaltasse a independência estratégica de seu país.

"O Capital" em mangá
O sucesso de "O Capital", de Marx, em forma de mangá basta para revelar que jovens sem experiência de lutas sociais estão em busca de explicações para sua situação. A participação deles em pequenas manifestações organizadas pelo PCJ ilustra os problemas sociais.
A despeito de seu peso em eleições locais, o PCJ jamais se impôs nacionalmente. Após avançar em 1998 com uma plataforma moderada da qual suprimiu a "revolução socialista", nos dois pleitos seguintes o partido se saiu mal, obtendo pouco mais de 3% dos votos.
Fundado em 1922 e banido, o PCJ representava uma força política no início da ocupação americana. Mais tarde, sob instruções de Pequim e Moscou, a agremiação passou a se dedicar a ações violentas e foi aniquilada, retornando nos anos 50 como uma espécie de partido "eurocomunista" prematuro.
Após romper com os soviéticos e chineses nos anos 60, na década seguinte a legenda encontrou seu rumo na linha independente da vanguarda comunista europeia . Sem mudar de nome, o PCJ defende hoje as "reformas democráticas" e o "progresso social", a fim, disse Shii, de "superar o capitalismo como superou o socialismo".


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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