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Partido Comunista do Japão renasce com crise e jovens
Com discurso moderado, agremiação mais antiga do país chegou a 400 mil filiados em 2008
Desemprego e disparidade social alimentam interesse dos jovens pelo comunismo; versão em quadrinhos de
"O Capital" vira best-seller
PHILIPPE PONS
DO "MONDE"
Diante de dificuldades crescentes, perda de empregos e da
disparidade cada vez maior entre os formados e os demais, os
jovens assalariados japoneses
descobriram um dinossauro da
política em seu país: o Partido
Comunista do Japão (PCJ).
Depois de sofrer grande perda de membros, as adesões voltaram a subir no ano passado, e
o número de filiados superou
400 mil. Um quarto dos 16 mil
novos membros do PCJ são trabalhadores de menos de 30
anos e em situação precária.
As intervenções incisivas do
secretário-geral da agremiação,
Kazuo Shii, nos debates parlamentares valeram dezenas de
milhares de visitas ao site dos
comunistas e novas assinaturas
para seu jornal, o "Akahata".
Não se trata de um indicador
que preveja avanço estrondoso
do PCJ nas próximas eleições
legislativas (hoje o partido detém 9 dos 480 assentos da Câmara Baixa e 7 dos 242 do Senado japonês), mas ainda assim
constitui evolução notável para
a imagem de um partido que
parecia pertencer a outra era.
E não é só entre os jovens que
o PCJ ganha atenção. Em um
país onde continua a ser comum um trabalhador ocultar
sua afiliação comunista, Shii
recentemente foi recebido por
líderes empresariais e acolheu
na sede do partido, em Tóquio,
um dirigente da Toyota.
"Não nos opomos aos grandes grupos industriais, desde
que eles assumam suas responsabilidades sociais. As empresas e assalariados têm um destino comum", disse Shii à imprensa estrangeira em Tóquio.
"O capitalismo japonês não
tem regras, e a mais cruel expressão dessa carência é a deterioração dos assalariados para
uma situação precária."
Com as reformas neoliberais,
34% da população ativa trabalha hoje com contratos de duração determinada, afirmou Shii.
Adotando a linguagem moderada de um social-democrata
clássico, ele só citou Karl Marx
uma vez, para citar seu "profundo respeito" aos EUA, ainda
que ressaltasse a independência estratégica de seu país.
"O Capital" em mangá
O sucesso de "O Capital", de
Marx, em forma de mangá basta para revelar que jovens sem
experiência de lutas sociais estão em busca de explicações para sua situação. A participação
deles em pequenas manifestações organizadas pelo PCJ ilustra os problemas sociais.
A despeito de seu peso em
eleições locais, o PCJ jamais se
impôs nacionalmente. Após
avançar em 1998 com uma plataforma moderada da qual suprimiu a "revolução socialista",
nos dois pleitos seguintes o
partido se saiu mal, obtendo
pouco mais de 3% dos votos.
Fundado em 1922 e banido, o
PCJ representava uma força
política no início da ocupação
americana. Mais tarde, sob instruções de Pequim e Moscou, a
agremiação passou a se dedicar
a ações violentas e foi aniquilada, retornando nos anos 50 como uma espécie de partido "eurocomunista" prematuro.
Após romper com os soviéticos e chineses nos anos 60, na
década seguinte a legenda encontrou seu rumo na linha independente da vanguarda comunista europeia . Sem mudar
de nome, o PCJ defende hoje as
"reformas democráticas" e o
"progresso social", a fim, disse
Shii, de "superar o capitalismo
como superou o socialismo".
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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