São Paulo, terça-feira, 09 de março de 2010

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Comparecimento às urnas no Iraque cai

Participação em eleição legislativa de anteontem foi de 62%, abaixo dos 76% registrados na votação parlamentar de 2005

Número, no entanto, é considerado positivo ante ameaças e ataques da Al Qaeda; EUA dizem que plano de saída está mantido


Karim Kadim/Associated Press
Funcionárias eleitorais contemplam urnas; primeiros resultados das eleições iraquianas só devem ser divulgados na quinta-feira

SAMY ADGHIRNI
ENVIADO ESPECIAL A BAGDÁ

O comparecimento às urnas na eleição parlamentar iraquiana do último domingo, marcada por atentados que deixaram ao menos 38 mortos, foi de 62%, segundo anunciaram ontem autoridades de Bagdá.
A participação foi maior que a das eleições locais do ano passado (51%) mas ficou abaixo dos 76% registrados no pleito legislativo anterior, em 2005, quando o aparato de segurança ainda estava sob controle das forças americanas no país.
Cerca de 20 milhões de iraquianos estavam registrados para votar em mais de 6.000 candidatos em disputa pelas 325 cadeiras no Parlamento.
Está prevista para quinta-feira a divulgação dos primeiros resultados do pleito, tido como decisivo para o processo de reconciliação nacional em andamento no Iraque e para o futuro geopolítico da região.
Não está claro se o vencedor da eleição terá margem suficiente para compor um governo sem recorrer a aliados, o que pode fazer que a nomeação do próximo premiê leve meses.
O governo iraquiano disse que a participação superou as expectativas, já que o grupo autodenominado Estado Islâmico da Al Qaeda no Iraque vinha prometendo há semanas transformar o pleito num banho de sangue.
A promessa da Al Qaeda foi colocada em prática minutos antes da abertura das urnas, com fortes explosões que ecoaram por Bagdá. Os centros de votação registraram mesmo assim um movimento significativo ao longo do dia.
As ameaças inclusive reforçaram o nacionalismo de muitos iraquianos, que foram às urnas carregando bandeiras do país. Era comum ver crianças, inclusive bebês, acompanhando os pais para votar.
Defensores do governo ressaltam que os ataques mais letais de anteontem não visaram alvos diretamente ligados ao pleito, num possível sinal de que os insurgentes falharam em furar o megaesquema de segurança montado pelo governo para a eleição.

EUA
O principal comandante dos EUA no Iraque, general Ray Odierno, disse ontem que a eleição foi um marco na consolidação das forças de segurança iraquianas, suficiente para descartar mudanças nos planos de encerrar a retirada americana do país, em 2011.
Odierno confirmou que o número de soldados americanos no país baixará de atuais 96 mil para 50 mil em setembro, quando só restarão militares responsáveis por ações logísticas e pelo treinamento dos colegas iraquianos.
"A não ser que aconteça algo catastrófico, não vemos razão para mudar. Acreditamos que estamos no caminho certo."
Questionado num programa de TV americano se considerava um sucesso a invasão do Iraque e derrubada de Saddam Hussein em 2003, Odierno disse que levará "três, cinco ou até dez anos" até que surja a resposta à pergunta.
Os EUA lideraram uma ofensiva internacional contra o Iraque sob o pretexto, que se revelou falso, de que Saddam fabricava armas de destruição em massa destinadas a ser usadas em ataques contra o Ocidente.
A invasão abriu um período de violência no Iraque que matou cerca de 100 mil civis iraquianos e 4.700 soldados americanos. A situação de segurança melhorou a partir de 2007, impulsionada por uma campanha de reconciliação orquestrada pelo premiê Nuri al Maliki, um xiita apontado como forte candidato à reeleição.
Notícias veiculadas pela imprensa iraquiana de que o candidato Iyad Allawi, um xiita aliado dos sunitas, está em segundo na contagem causaram, porém, alegria ontem em Samarra, reduto sunita.


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