São Paulo, terça-feira, 09 de março de 2010

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Israel inicia novas construções na Cisjordânia

País nega que decisão de erguer 112 apartamentos em assentamento judaico seja violação de congelamento anunciado em novembro

Anúncio, feito no dia da visita de vice de Obama, põe em risco negociações de paz sob mediação dos EUA, que acabam de ser retomadas


MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM

O governo de Israel aprovou a construção de 112 apartamentos em um assentamento judaico em território palestino ocupado, aumentando o ceticismo geral sobre a retomada das negociações de paz.
A decisão foi revelada ontem, dia em que o vice-presidente dos EUA, Joe Biden, desembarcou em Israel, e um dia depois de os palestinos, relutantemente, aceitarem voltar à mesa de negociações.
O assentamento de Betar Ilit, onde serão construídos os novos apartamentos, fica a 10 km de Jerusalém, poucos metros além da fronteira de Israel com a Cisjordânia, território que os palestinos reivindicam para o seu futuro Estado.
Em novembro, sob pressão americana, o governo israelense concordou em congelar por dez meses a construção na Cisjordânia, deixando claro que Jerusalém Oriental, também considerado território ocupado, não estava no plano.
Ontem o ministro do Meio Ambiente de Israel, Gilad Erden, confirmou os novos apartamentos em Betar Ilit, mas negou que eles representem uma violação do compromisso assumido em novembro.
"O governo decidiu congelar a construção, mas essa decisão previa exceções em caso de problemas de segurança em infraestruturas iniciadas antes do congelamento. Esse é o caso de Betar Illit", explicou Erdan.
A explicação não convenceu os palestinos, que resistiram durante meses a retomar o diálogo, exigindo que antes Israel suspendesse totalmente as construções na Cisjordânia.
No domingo, após pressão americana e o aval da Liga Árabe, a Autoridade Nacional Palestina (ANP) finalmente aceitou manter negociações indiretas, por intermédio dos EUA.
Antecipando o "sim" palestino, o mediador americano George Mitchell desembarcara na véspera em Israel para reiniciar as chamadas "conversas de aproximação". Ontem ele esteve com o premiê israelense, Binyamin Netanyahu, e com o presidente palestino, Mahmoud Abbas.
Mas a mediação americana, que tenta pôr fim à paralisia de mais de um ano nas negociações, começa cercada de desconfiança. Para o principal negociador palestino, Saeb Erekat, se Israel pretende "sabotar" o esforços de Mitchell, talvez seja melhor repensar a decisão de voltar ao diálogo.
Além de enfurecer a liderança palestina, a decisão israelense cria mal-estar com o governo de Barack Obama, que tenta desemperrar o processo de paz após um primeiro ano de esforços frustrados.
Biden é a mais graduada personalidade de uma série de altos funcionários americanos que estiveram em Israel nos últimos dois meses para discutir a instabilidade regional, entre eles Leon Panetta, chefe da CIA, e Michael Mullen, comandante do Exército.
Analistas israelenses observaram que a questão palestina esteve em segundo lugar na agenda dos enviados de Obama, abaixo do Irã. O principal objetivo dos EUA seria evitar um ataque israelense às instalações nucleares iranianas, no momento em que a Casa Branca tenta formar uma aliança para apertar as sanções diplomáticas e econômicas a Teerã.


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