São Paulo, terça-feira, 09 de março de 2010

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Ida de comissária da UE a Gaza pode ofuscar Lula

CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva cairá, na semana que vem, em uma situação potencialmente explosiva no Oriente Médio, capaz de transformar em água com açúcar a polêmica em torno de sua recente visita a Cuba, que coincidiu com a morte do dissidente político Orlando Zapata Tamayo, o que provocou críticas a Lula em jornais que, até então, só louvavam o presidente brasileiro.
Lula estará nos dias 16 e 17 em Israel e nos territórios palestinos, antes de ir à Jordânia no dia 18. Sua visita coincidirá com a de Catherine Ashton, comissária do Exterior da União Europeia, que viajará a Israel, Egito, Síria e Jordânia, começando exatamente no dia 17.
O que torna a coincidência potencialmente explosiva é o fato de que Ashton pediu a Israel para viajar à faixa de Gaza, a parte do território palestino governada pelo Hamas (Movimento de Resistência Islâmica), grupo que figura na lista de agrupações terroristas da UE (e também dos Estados Unidos).
"Estamos fornecendo uma grande quantidade de ajuda a Gaza, e estou muito interessada em me certificar de que [os habitantes da área] estejam vendo os benefícios dessa ajuda", justificou Ashton.
Mas Israel tem negado sistematicamente autorização para autoridades viajarem a Gaza, sob bloqueio. Já negou a ministros da França, da Bélgica e da Turquia.
Para tornar ainda mais complicado o cenário, o ministro sueco do Exterior, Carl Bildt, que tem assessorado a Autoridade Palestina (que governa a outra parte do território, a Cisjordânia), acena com a possibilidade de que Ashton entre em Gaza pelo Egito.

Desvio de foco
É óbvio que essa situação desviará toda a atenção da mídia para ela, tirando os holofotes de Lula. Além de criar outro problema: o presidente seria inquirido sobre um eventual contato com o Hamas, como já aconteceu em janeiro com o chanceler Celso Amorim, durante estada em Genebra. Amorim foi reticente: disse que o Brasil tivera "um contato informal no passado" e acrescentou que, se ajudasse no processo de paz, "não excluiria" (a hipótese de contato).
O governo israelense, como é óbvio, acha que não ajuda nada, tanto que tem vetado viagens a Gaza usando o argumento de que qualquer presença de autoridades na faixa governada pelo Hamas acaba sendo um sinal de reconhecimento ao grupo.
O programa de Lula limita-se, pelo menos até agora, ao contato com a Autoridade Palestina, que também tem no Hamas um inimigo.


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