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Ida de comissária da UE a Gaza pode ofuscar Lula
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva cairá, na semana que
vem, em uma situação potencialmente explosiva no Oriente
Médio, capaz de transformar
em água com açúcar a polêmica
em torno de sua recente visita a
Cuba, que coincidiu com a morte do dissidente político Orlando Zapata Tamayo, o que provocou críticas a Lula em jornais
que, até então, só louvavam o
presidente brasileiro.
Lula estará nos dias 16 e 17
em Israel e nos territórios palestinos, antes de ir à Jordânia
no dia 18. Sua visita coincidirá
com a de Catherine Ashton, comissária do Exterior da União
Europeia, que viajará a Israel,
Egito, Síria e Jordânia, começando exatamente no dia 17.
O que torna a coincidência
potencialmente explosiva é o
fato de que Ashton pediu a Israel para viajar à faixa de Gaza,
a parte do território palestino
governada pelo Hamas (Movimento de Resistência Islâmica), grupo que figura na lista de
agrupações terroristas da UE (e
também dos Estados Unidos).
"Estamos fornecendo uma
grande quantidade de ajuda a
Gaza, e estou muito interessada
em me certificar de que [os habitantes da área] estejam vendo
os benefícios dessa ajuda", justificou Ashton.
Mas Israel tem negado sistematicamente autorização para
autoridades viajarem a Gaza,
sob bloqueio. Já negou a ministros da França, da Bélgica e da
Turquia.
Para tornar ainda mais complicado o cenário, o ministro
sueco do Exterior, Carl Bildt,
que tem assessorado a Autoridade Palestina (que governa a
outra parte do território, a Cisjordânia), acena com a possibilidade de que Ashton entre em
Gaza pelo Egito.
Desvio de foco
É óbvio que essa situação
desviará toda a atenção da mídia para ela, tirando os holofotes de Lula. Além de criar outro
problema: o presidente seria
inquirido sobre um eventual
contato com o Hamas, como já
aconteceu em janeiro com o
chanceler Celso Amorim, durante estada em Genebra.
Amorim foi reticente: disse que
o Brasil tivera "um contato informal no passado" e acrescentou que, se ajudasse no processo de paz, "não excluiria" (a hipótese de contato).
O governo israelense, como é
óbvio, acha que não ajuda nada,
tanto que tem vetado viagens a
Gaza usando o argumento de
que qualquer presença de autoridades na faixa governada pelo
Hamas acaba sendo um sinal de
reconhecimento ao grupo.
O programa de Lula limita-se, pelo menos até agora, ao
contato com a Autoridade Palestina, que também tem no
Hamas um inimigo.
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