São Paulo, quarta-feira, 09 de março de 2011

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ANÁLISE

Opções dos EUA para a crise líbia vão do ruim ao péssimo

LUCIANA COELHO
EM BOSTON

Com exceção de Muammar Gaddafi, nenhum líder no mundo está tão só hoje como Barack Obama. Criticado pela direita e pela esquerda e ante o risco de uma carnificina maior na Líbia, o americano confronta opções que vão do ruim ao péssimo.
Sua demora em agir, no comando da maior potência militar do planeta, é pintada como sinal de fraqueza por seus críticos de sempre e de inexperiência por gente dentro do próprio partido.
A tarefa, porém, não é simples e vai além de calcular uma eventual ação militar com uma guerra em curso no Afeganistão, outra ainda fumegando no Iraque e uma crise mal curada em casa.
Envolve mexer com fantasmas ainda muito presentes da política externa americana. E não há consenso nem dentro do governo nem na oposição.
Afinal, uma invasão a plena força e sem coordenação com a ONU evoca o Iraque em 2003, um lodaçal que atraiu a antipatia mundial e cujo visgo ainda está nas botas dos militares americanos.
Já uma ação "humanitária", pontual e centrada nas zonas de exclusão aérea, lembra os Bálcãs nos anos 90: a faxina étnica continuou, e os EUA e a Otan se viram levados a bombardeios até hoje questionados.
Mas não fazer nada acorda a assombração de Ruanda em 1994, quando o governo Clinton hesitou em classificar a matança como genocídio e foi parar na berlinda diante de 800 mil cadáveres.
E armar os rebeldes? A mais infeliz das soluções aventadas ecoa o corolário de barbaridades praticadas por rebeldes com fundos americanos na América Central (pense na Nicarágua) e no Afeganistão dos anos 80.
E, uma vez que assumam um lado a ponto de armá-lo, os EUA serão vistos como co-responsáveis pelo que aquele lado fizer, no poder ou fora dele, lembrou à Folha Audra Grant, analista no centro de estudos de segurança Rand.
Ainda assim, a expectativa é imensa. Obama é considerado um comandante-em-chefe mais leniente (ou ponderado) do que seu antecessor, George W. Bush. Ao mesmo tempo, é visto como simpático ao mundo árabe.
Há lógica, portanto, em crer que sua chegada ao poder tenha dado confiança àqueles que iniciaram os levantes democráticos correntes, disse em conversa em Harvard David Sanger, do "New York Times".
Ontem, Richard Haas, que dirige o prestigiado Council on Foreign Relations, advertiu no "Wall Stret Journal" que os EUA deveriam ficar longe da Líbia.
Os argumentos de Haas minimizam a eficácia das ações possíveis e questionam as intenções dos rebeldes (sem, claro, questionar a virulência de Gaddafi).
É um fator crucial, sobretudo quando governantes mundiais parecem acordar para a realidade após anos de afagos ao ditador, inebriados tanto pela promessa do fim do programa nuclear líbio como pelo cheiro de petróleo no subsolo do país.
Despertos de tamanho estupor, é difícil que saibam agora quem abraçar.


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