São Paulo, sábado, 09 de abril de 2005

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A MORTE DO PAPA

Lula recebeu comunhão católica em missa no Vaticano

"Sou um homem sem pecado", afirma presidente

IGOR GIELOW
ENVIADO ESPECIAL A ROMA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que é "um homem sem pecado", ao comentar o fato de ter comungado durante a missa do funeral do papa João Paulo 2º sem ter se confessado antes -prática que caiu em desuso, segundo o chanceler Celso Amorim, que acompanhou Lula em sua entrevista após participar das solenidades em Roma. Para Lula, o enterro de ontem "foi um marco na nossa vida".
Lula não foi o único. Com a primeira-dama, Marisa Letícia, também viu receberem a comunhão os três ex-presidentes que o acompanharam a Roma: Fernando Henrique Cardoso, Itamar Franco e José Sarney.
O presidente elogiou o papa e fez vários paralelos entre o que considera legado de Karol Wojtyla, "a marca da tolerância", com lições para a política prática brasileira -a começar com um auto-elogio por ter trazido os ex-presidentes e os chefes do Legislativo e do Judiciário em sua comitiva e uma série de ponderações sobre seu relacionamento com FHC.
"Eu creio que a humanidade assistiu hoje à consagração de toda a pregação do papa, porque eu não conheço outro momento da história em que a representatividade política e religiosa estava tão plural e tão representativa. Ele nos ensinou a arte da convivência na adversidade", disse.
Lula disse ter se emocionado com a missa rezada ontem pelo cardeal Joseph Ratzinger. "Eu penso que senti o que a maioria das pessoas sentiu. Mesmo quando as pessoas discordavam dele, as pessoas o respeitavam porque ele tinha aquilo que todas a pessoas têm que ter. Um pouco de ousadia, eu diria, muita tolerância, muita perseverança."
Num dado momento, comentando as virtudes do papa, Lula foi interpelado a dizer se acha que isso é ser um bom católico. "Não, eu não sei o que é ser um bom católico. Sei o que cada um tem que ser. Acho que nós temos que ser, antes de tudo, bons seres humanos", disse. Na terça-feira, o cardeal-arcebispo do Rio, dom Eusébio Scheidt, afirmou que Lula não era católico, e sim caótico, e criticou duramente o governo. Em defesa de Lula saiu outro cardeal brasileiro, d. Cláudio Hummes -que é visto como um dos candidatos a sucessor do papa.
Lula trouxe os ex-presidentes e os chefes da Câmara, Severino Cavalcanti, do Senado, Renan Calheiros e do Supremo Tribunal Federal, Nelson Jobim. Sobre FHC, com quem recentemente anda trocando farpas, o petista fez uma comparação futebolística. "Penso que as diferenças entre os políticos é uma coisa que deve ser vista com uma certa naturalidade. [Como] quando se vê um jogo de futebol que tem dois companheiros que jogam juntos na seleção. É o caso da disputa do Real Madrid e Barcelona, que vai se dar nestes dias. Você vai ver os Ronaldinhos, que estão em times diferentes, que são amigos, são íntimos. Eles vão cada um tentar ganhar."
Para Lula, há paralelo na política, já que já esteve ao lado de todos os ex-presidentes em algum ponto de suas carreiras. E as disputas devem ficar no campo eleitoral. "Depois que alguém é eleito, é com ele que eu tenho de trabalhar. O resto é ressentimento."
Lula descreveu um fato que considerou inusitado à saída do Vaticano. Disse que "estavam juntos Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso, José Sarney e eu". "Não sei em que momento da história do Brasil se conseguiu juntar quatro presidentes, e não tinha nem fotógrafo nosso. O Stuckinha [Ricardo Stuckert, fotógrafo oficial da Presidência] não pôde entrar. Fui pedir para o fotógrafo do presidente da França, Jacques Chirac, para tirar uma fotografia nossa para que a gente tenha isso como recordação."
Lula falou com Chirac e voltou a falar em combater o protecionismo agrícola para ajudar a sanar o problema da fome mundial.

Assis
O presidente segue hoje em roteiro religioso. Vai visitar a basílica de Assis, onde estão os restos que a igreja diz ser de são Francisco de Assis, um monge que criou uma ordem religiosa baseada na simplicidade e no amor aos pobres. "Eu sempre quis ir lá", disse. Na seqüência, irá a Perugia. Amanhã, antes de seguir para a África ao meio-dia, Lula se encontra com o líder de esquerda italiano Massimo D'Alema e com o prefeito de Roma, Walter Veltroni.


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