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A MORTE DO PAPA
Lula recebeu comunhão católica em missa no Vaticano
"Sou um homem sem pecado", afirma presidente
IGOR GIELOW
ENVIADO ESPECIAL A ROMA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva disse ontem que é "um homem sem pecado", ao comentar o
fato de ter comungado durante a
missa do funeral do papa João
Paulo 2º sem ter se confessado antes -prática que caiu em desuso,
segundo o chanceler Celso Amorim, que acompanhou Lula em
sua entrevista após participar das
solenidades em Roma. Para Lula,
o enterro de ontem "foi um marco na nossa vida".
Lula não foi o único. Com a primeira-dama, Marisa Letícia, também viu receberem a comunhão
os três ex-presidentes que o
acompanharam a Roma: Fernando Henrique Cardoso, Itamar
Franco e José Sarney.
O presidente elogiou o papa e
fez vários paralelos entre o que
considera legado de Karol Wojtyla, "a marca da tolerância", com
lições para a política prática brasileira -a começar com um auto-elogio por ter trazido os ex-presidentes e os chefes do Legislativo e
do Judiciário em sua comitiva e
uma série de ponderações sobre
seu relacionamento com FHC.
"Eu creio que a humanidade assistiu hoje à consagração de toda a
pregação do papa, porque eu não
conheço outro momento da história em que a representatividade
política e religiosa estava tão plural e tão representativa. Ele nos
ensinou a arte da convivência na
adversidade", disse.
Lula disse ter se emocionado
com a missa rezada ontem pelo
cardeal Joseph Ratzinger. "Eu
penso que senti o que a maioria
das pessoas sentiu. Mesmo quando as pessoas discordavam dele,
as pessoas o respeitavam porque
ele tinha aquilo que todas a pessoas têm que ter. Um pouco de
ousadia, eu diria, muita tolerância, muita perseverança."
Num dado momento, comentando as virtudes do papa, Lula
foi interpelado a dizer se acha que
isso é ser um bom católico. "Não,
eu não sei o que é ser um bom católico. Sei o que cada um tem que
ser. Acho que nós temos que ser,
antes de tudo, bons seres humanos", disse. Na terça-feira, o cardeal-arcebispo do Rio, dom Eusébio Scheidt, afirmou que Lula não
era católico, e sim caótico, e criticou duramente o governo. Em
defesa de Lula saiu outro cardeal
brasileiro, d. Cláudio Hummes
-que é visto como um dos candidatos a sucessor do papa.
Lula trouxe os ex-presidentes e
os chefes da Câmara, Severino
Cavalcanti, do Senado, Renan Calheiros e do Supremo Tribunal
Federal, Nelson Jobim. Sobre
FHC, com quem recentemente
anda trocando farpas, o petista fez
uma comparação futebolística.
"Penso que as diferenças entre os
políticos é uma coisa que deve ser
vista com uma certa naturalidade.
[Como] quando se vê um jogo de
futebol que tem dois companheiros que jogam juntos na seleção. É
o caso da disputa do Real Madrid
e Barcelona, que vai se dar nestes
dias. Você vai ver os Ronaldinhos,
que estão em times diferentes,
que são amigos, são íntimos. Eles
vão cada um tentar ganhar."
Para Lula, há paralelo na política, já que já esteve ao lado de todos os ex-presidentes em algum
ponto de suas carreiras. E as disputas devem ficar no campo eleitoral. "Depois que alguém é eleito,
é com ele que eu tenho de trabalhar. O resto é ressentimento."
Lula descreveu um fato que
considerou inusitado à saída do
Vaticano. Disse que "estavam
juntos Itamar Franco, Fernando
Henrique Cardoso, José Sarney e
eu". "Não sei em que momento
da história do Brasil se conseguiu
juntar quatro presidentes, e não
tinha nem fotógrafo nosso. O
Stuckinha [Ricardo Stuckert, fotógrafo oficial da Presidência]
não pôde entrar. Fui pedir para o
fotógrafo do presidente da França, Jacques Chirac, para tirar uma
fotografia nossa para que a gente
tenha isso como recordação."
Lula falou com Chirac e voltou a
falar em combater o protecionismo agrícola para ajudar a sanar o
problema da fome mundial.
Assis
O presidente segue hoje em roteiro religioso. Vai visitar a basílica de Assis, onde estão os restos
que a igreja diz ser de são Francisco de Assis, um monge que criou
uma ordem religiosa baseada na
simplicidade e no amor aos pobres. "Eu sempre quis ir lá", disse.
Na seqüência, irá a Perugia. Amanhã, antes de seguir para a África
ao meio-dia, Lula se encontra
com o líder de esquerda italiano
Massimo D'Alema e com o prefeito de Roma, Walter Veltroni.
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