São Paulo, quarta-feira, 09 de abril de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Após 29 prisões, Colômbia debate se dissolve Congresso

No total, 51 parlamentares são investigados por supostos vínculos com paramilitares

Antecipação de eleições, marcadas para 2010, divide opiniões; apesar de maioria de acusados ser governista, escândalo não abala Uribe

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

A mais recente onda de parlamentares presos por vinculação aos paramilitares reacendeu na Colômbia um acirrado debate político sobre a necessidade de dissolver o atual Congresso e antecipar as eleições.
Os números do chamado escândalo da parapolítica impressionam e não param de crescer. O senador governista Humberto Builes tornou-se ontem o quinto congressista preso nos últimos dias -e o 29º no total- por suposta vinculação com grupos paramilitares.
Ao todo, as investigações em torno do maior escândalo da história do Parlamento colombiano envolvem 51 parlamentares, o equivalente a 20% de todos os parlamentares. Desses, 5 já foram condenados.
Quase todos pertencem à base de apoio do presidente Álvaro Uribe, mas a sua imagem até agora não foi arranhada. Sua popularidade ultrapassa os 80%, segundo as últimas pesquisas, principalmente por sua política de segurança.
A antecipação das eleições tem provocado divergências tanto no governo quanto na oposição. Ontem, por exemplo, a bancada do esquerdista Pólo Democrático Alternativo decidiu não apoiar a antecipação das eleições, contrariando a opinião de seu principal líder, o senador Gustavo Petro.
"Existe um grave problema de legitimidade no Congresso, e é preciso, portanto, fazer uma reforma política estrutural que tire os pilares que permitiram ao paramilitarismo tomar a política. E também é preciso antecipar todas as eleições", disse Petro à Folha por telefone.
Segundo o líder oposicionista, a reforma teria de resolver, entre outros problemas o clientelismo político por meio da compra de votos e a infiltração do narcotráfico na política.

"Discussão demagógica"
Do lado governista, também há divergências. Um dos que se opõem à dissolução do Congresso é Luis Guillermo Giraldo, secretário-geral do Partido Social da Unidade Nacional, que teve dois de seus senadores presos (ambos expulsos) e tem outros dois sob investigação.
"É uma discussão demagógica. Os procedimentos institucionais levam pelo menos um ano. Então, estaríamos em 2009 votando por um novo Congresso, quando, em março de 2010 se elege um novo Congresso", disse. "Seria uma saída extra-institucional, à qual o país não pode recorrer."
Giraldo também diz se opor a uma profunda reforma política. "Os instrumentos principais são os legais. O que ocorre é que, infelizmente, temos um agente ilegal que se chama narcotráfico, com uma capacidade imensa de corrupção."
Para o analista Jaime Zuluaga,da Universidade Nacional da Colômbia, a legitimidade do Congresso está "seriamente afetada", mas a medida mais importante seria uma punição severa aos envolvidos.


Texto Anterior: Quênia: Fracasso de acordo gera protestos
Próximo Texto: Ingrid: Farc dizem não, e missão médica da França fracassa
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.