São Paulo, quarta-feira, 09 de abril de 2008

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Protestos contra a fome crescem no Haiti

No sexto dia de manifestações contra a alta do preço dos alimentos, multidão cerca palácio presidencial

Eduardo Muñoz/Reuters
Manifestantes enfurecidos ocupam rua da capital, Porto Príncipe

SAMY ADGHIRNI
DA REPORTAGEM LOCAL

No sexto dia de protestos contra a alta dos alimentos, uma multidão enfurecida cercou ontem o palácio do presidente haitiano, René Préval, chegando a invadir a área de segurança do prédio, antes de ser repelida pelos soldados da missão de estabilização da ONU no Haiti (Minustah), que socorreu forças armadas locais desamparadas diante de uma crise que ameaça mergulhar o Haiti numa nova espiral de violência.
População entre as mais afetadas pela alta mundial dos preços de alimentos, os haitianos começaram a protestar na última quarta-feira, na cidade de Les Cayes. No fim de semana, a tensão atingiu a capital, Porto Príncipe.
O preço de alimentos como arroz, grãos, frutas e leite condensado aumentou em até 50% no ano passado. O preço do macarrão dobrou. Cerca de 80% da população do Haiti vive com menos de US$ 2 (cerca de R$ 3,4) por dia.
Inicialmente pacíficos, os protestos degeneraram em violência nos últimos dias, quando manifestantes bloquearam ruas e saquearam lojas em Porto Príncipe, entrando em confronto com tropas da Minustah. A missão chegou ao país em 2004, na crise que seguiu à queda do presidente Jean-Bertrand Aristide. Liderada pelo Brasil, tem 7.060 soldados, dos quais 1.200 são brasileiros.
Os recentes confrontos deixaram cinco mortos, segundo a France Presse, o que levou o Conselho de Segurança da ONU a cobrar ontem uma mobilização urgente para aliviar a fome que assola o Haiti.
Em entrevista à Folha, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse que pediu ao Programa Mundial de Alimentos, vinculado à ONU, a elaboração de um pacote para abastecer as áreas mais necessitadas do Haiti. Ontem à noite, o Brasil anunciou a doação de 14 toneladas de alimentos, em caráter emergencial.
O cerco ao palácio presidencial reforça a suspeita de que os protestos estão sendo incentivados por forças antigoverno, como as quadrilhas criminosas que se beneficiam do caos no país e até o presidente deposto Aristide, que vive exilado na África do Sul.
"Há homens armados no meio dos protestos, num sinal de que as manifestações estão sendo usadas para fins políticos", disse à Folha, por telefone, a porta-voz da Minustah, Sophie Boutaud de La Combe.
"Pedimos à população que não caia na armadilha da violência. Isso só fará o custo de vida piorar", acrescentou, insistindo que as enchentes e os ciclones dos últimos meses agravaram a já difícil situação humanitária do país.


Colaborou a Sucursal de Brasília

Com agências internacionais


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