São Paulo, quinta-feira, 09 de abril de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Cuba espera que EUA iniciem aproximação

Fidel escreve sobre reunião com legisladores americanos e reitera recado a Obama, às vésperas de Cúpula das Américas

La Paz propõe moção contra embargo, mas Insulza, da OEA, descarta; analistas dizem que Washington age com cautela conservadora


DA REPORTAGEM LOCAL

Fidel Castro aproveitou o encontro com congressistas americanos para reiterar sua mensagem a Barack Obama: Cuba crê na "honestidade" das intenções do presidente de mudar a política dos EUA para a ilha, mas segue desconfiada da chance real de pô-las em prática e espera que a Washington, "agressora", tome o primeiro passo na direção do degelo das relações bilaterais.
Como tem se tornado praxe, o próprio convalescente Fidel escreveu sobre o encontro com os legisladores negros americanos, liderados pela democrata Barbara Lee, anteontem em Havana. O texto foi publicado no site oficial Cubadebate, seu "blog", e nos jornais oficiais da ilha, ecoando internamente o desejo oficial de distensão.
"É evidente que [os legisladores] conhecem Obama e refletem a confiança, a segurança e a simpatia que sentem por ele", diz o texto de Fidel. Tanto na "reflexão" como na imprensa em geral, Obama aparece descolado, ou ao menos não responsável, da prerrogativa de "império" destinada aos EUA.
De volta a Washington, Lee, do chamado caucus negro do Congresso, que tem contatos históricos com Cuba, disse que buscará repassar à Casa Branca as impressões da visita antes da Cúpula das Américas, em Trinidad e Tobago, na semana que vem -embora a ilha, suspensa da OEA (Organização dos Estados Americanos) desde 1962, não participe do evento.
Enquanto isso, o governo Obama age com "cautela conservadora" em relação a Cuba, na visão de analistas, se comparado aos acenos a antagonistas mais importantes, como o Irã. Especula-se que Obama, antes da cúpula, cumpra a promessa de pôr fim às restrições para envio de remessas e viagens de cubano-americanos à ilha.
Se se confirmarem, as liberações tentarão aplacar o acosso do coro pró-Cuba no encontro já anunciado pela Venezuela de Hugo Chávez e os aliados esquerdistas Bolívia e Nicarágua.
Ontem, o presidente boliviano, Evo Morales, afirmou que proporá na cúpula uma moção pelo fim do embargo imposto pelos EUA à ilha. José Miguel Insulza, secretário-geral da OEA , Brasil e EUA dizem que a resolução final já foi consensuada e que Cuba não aparece. Insulza repetiu ontem que "não crê" numa moção com o teor proposto pelo boliviano.
Chávez, que tem intercalado elogios e críticas a Obama, deve receber os aliados esquerdistas antes da cúpula em Caracas, no encontro da Alba (Alternativa Bolivariana para as Américas), num ensaio do que deve ocorrer em Trinidad e Tobago.

No Brasil
Para o historiador Luiz Bernardo Pericás, estudioso da ilha, o ensaio de distensão de Havana não depende do humor de Chávez, e Cuba não aposta na pressão ao vivo com Obama.
Ontem, o chanceler cubano, Bruno Rodríguez esteve em Brasília, na primeira visita oficial dele no cargo que assumiu substituindo Felipe Pérez Roque, defenestrado no começo de março. O contato é considerado importante pelo Itamaraty para manter o mesmo nível de sintonia que havia com Pérez Roque, que participou da aproximação bilateral recente.
Rodríguez, que também reuniu-se com os congressistas dos EUA em Havana, encontrou-se com o chanceler Celso Amorim e com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas não falou à imprensa.
(FLÁVIA MARREIRO)


Texto Anterior: Tripulação frustra ataque a navio dos EUA na Somália
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.