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Cuba espera que EUA iniciem aproximação
Fidel escreve sobre reunião com legisladores americanos e reitera recado a Obama, às vésperas de Cúpula das Américas
La Paz propõe moção contra
embargo, mas Insulza, da
OEA, descarta; analistas
dizem que Washington age
com cautela conservadora
DA REPORTAGEM LOCAL
Fidel Castro aproveitou o encontro com congressistas americanos para reiterar sua mensagem a Barack Obama: Cuba
crê na "honestidade" das intenções do presidente de mudar a
política dos EUA para a ilha,
mas segue desconfiada da
chance real de pô-las em prática e espera que a Washington,
"agressora", tome o primeiro
passo na direção do degelo das
relações bilaterais.
Como tem se tornado praxe,
o próprio convalescente Fidel
escreveu sobre o encontro com
os legisladores negros americanos, liderados pela democrata
Barbara Lee, anteontem em
Havana. O texto foi publicado
no site oficial Cubadebate, seu
"blog", e nos jornais oficiais da
ilha, ecoando internamente o
desejo oficial de distensão.
"É evidente que [os legisladores] conhecem Obama e refletem a confiança, a segurança e a
simpatia que sentem por ele",
diz o texto de Fidel. Tanto na
"reflexão" como na imprensa
em geral, Obama aparece descolado, ou ao menos não responsável, da prerrogativa de
"império" destinada aos EUA.
De volta a Washington, Lee,
do chamado caucus negro do
Congresso, que tem contatos
históricos com Cuba, disse que
buscará repassar à Casa Branca
as impressões da visita antes da
Cúpula das Américas, em Trinidad e Tobago, na semana que
vem -embora a ilha, suspensa
da OEA (Organização dos Estados Americanos) desde 1962,
não participe do evento.
Enquanto isso, o governo
Obama age com "cautela conservadora" em relação a Cuba,
na visão de analistas, se comparado aos acenos a antagonistas
mais importantes, como o Irã.
Especula-se que Obama, antes
da cúpula, cumpra a promessa
de pôr fim às restrições para
envio de remessas e viagens de
cubano-americanos à ilha.
Se se confirmarem, as liberações tentarão aplacar o acosso
do coro pró-Cuba no encontro
já anunciado pela Venezuela de
Hugo Chávez e os aliados esquerdistas Bolívia e Nicarágua.
Ontem, o presidente boliviano, Evo Morales, afirmou que
proporá na cúpula uma moção
pelo fim do embargo imposto
pelos EUA à ilha. José Miguel
Insulza, secretário-geral da
OEA , Brasil e EUA dizem que a
resolução final já foi consensuada e que Cuba não aparece.
Insulza repetiu ontem que
"não crê" numa moção com o
teor proposto pelo boliviano.
Chávez, que tem intercalado
elogios e críticas a Obama, deve
receber os aliados esquerdistas
antes da cúpula em Caracas, no
encontro da Alba (Alternativa
Bolivariana para as Américas),
num ensaio do que deve ocorrer em Trinidad e Tobago.
No Brasil
Para o historiador Luiz Bernardo Pericás, estudioso da
ilha, o ensaio de distensão de
Havana não depende do humor
de Chávez, e Cuba não aposta
na pressão ao vivo com Obama.
Ontem, o chanceler cubano,
Bruno Rodríguez esteve em
Brasília, na primeira visita oficial dele no cargo que assumiu
substituindo Felipe Pérez Roque, defenestrado no começo
de março. O contato é considerado importante pelo Itamaraty para manter o mesmo nível de sintonia que havia com
Pérez Roque, que participou da
aproximação bilateral recente.
Rodríguez, que também reuniu-se com os congressistas dos
EUA em Havana, encontrou-se
com o chanceler Celso Amorim
e com o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, mas não falou à
imprensa.
(FLÁVIA MARREIRO)
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