São Paulo, quarta-feira, 09 de maio de 2007

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Governo de união assume Irlanda do Norte

Líderes católico e protestante, ex-inimigos, chefiam gabinete que concretiza autonomia limitada da Província britânica

Coalizão estava prevista no Acordo da Sexta-Feira Santa, firmado em 1998, que começou a pôr fim a 30 anos de violência na região

Paul Faith/Associated Press
O protestante Paisley (esq.) e o católico McGuinness tomam posse à frente do gabinete na Assembléia de Starmont, em Belfast

DA REDAÇÃO

Líderes católicos e protestantes da Irlanda do Norte, arquiinimigos durante décadas de derramamento de sangue, tomaram posse ontem em um novo governo com divisão de poderes na Província britânica.
Com a posse do governo de coalizão e da Assembléia local, de 108 cadeiras, a Província passa a ter autonomia limitada, para legislar sobre questões internas como agricultura, educação e saúde. A autonomia foi prometida no Acordo da Sexta-Feira Santa, assinado em 1998 entre os líderes das facções locais e o governo britânico.
O acordo -apontado como uma das principais conquistas do primeiro-ministro Tony Blair, no poder desde 1997- pôs fim a 30 anos de confrontos que deixaram cerca de 3.500 mortos. A violência opunha os protestantes, favoráveis ao domínio britânico, aos católicos, defensores da união com a vizinha República da Irlanda, que tornou-se independente do Reino Unido em 1922.
Ontem, o protestante radical Ian Paisley e Martin McGuinness, ex-comandante do IRA (Exército Republicano Irlandês) e seu inimigo histórico, prestaram juramento como primeiro-ministro e vice-primeiro-ministro.
"Do fundo do meu coração posso lhes dizer que acredito que a Irlanda do Norte entrou hoje numa era de paz, uma era em que o ódio deixará de mandar", disse Paisley. "O que estamos presenciando hoje é um dos maiores saltos neste processo de paz em quase 15 anos", disse McGuinness.
Compareceram à cerimônia os primeiros-ministros do reino Unido, Tony Blair, e da República da Irlanda, Bertie Ahern, além do senador democrata americano Edward Kennedy, cuja família é de origem irlandesa católica. McGuinness elogiou Blair: "Desde o início, ele envolveu-se emocionalmente e intelectualmente para tentar dar a sua contribuição. E eu creio que deu uma grande contribuição".

Diálogo
O acordo entre os principais partidos protestante e católico, o Partido Democrático Unionista (DUP, de Paisley) e o Sinn Fein, aliado do IRA, foi alcançado em 26 de março. Ao contrário das tentativas anteriores de coalizão, todas frustradas, os líderes desta vez parecem determinados em fazê-la funcionar.
O líder do Sinn Fein, Gerry Adams, disse que a coalizão prova que o diálogo pode trazer resultados. "Vamos mudar a paisagem política a partir daqui. Vamos ter sucesso."
O conflito na Irlanda do Norte foi caracterizado pela divisão das duas comunidades -que ainda persiste em grande parte da Província- e pela violência diária da qual participavam os grupos paramilitares protestantes e católicos e o Exército britânico. Em 1979, em sua ação de maior repercussão, o IRA matou o tio da rainha Elizabeth 2ª, lorde Mountbatten, quando plantou uma bomba em sua lancha. O IRA quase matou a primeira-ministra britânica Margaret Thatcher em 1984, quando uma bomba explodiu num hotel em Brighton, durante uma convenção do Partido Conservador.


Com agências internacionais


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